Para empreender é preciso propósito

Compromissos garantem credibilidade e valorizam o negócio junto aos investidores

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  • Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Na vida, tudo é carregado de propósito. Quando o assunto gira em torno de negócios e marcas, não poderia deixar de ser diferente. Além de trazer benefícios para os clientes, os colaboradores e o mercado, um empreendimento com propósito beneficia a própria sociedade onde está inserido.

De acordo com a palestrante, socióloga e especialista em Ética Lúcia Helena Galvão, quando um empreendimento "faz de conta", automaticamente, a opinião pública vai vinculá-lo à pecha de oportunista. “Não há vácuo na natureza: simplesmente devemos ser conscientes e responsáveis com o direcionamento que damos às nossas ações”, esclarece. 

Valéria, do IBGC, afirma  que investidores também preferem empresas alinhadas com as demandas da sociedade (Foto: Divulgação) Ela destaca que o propósito num negócio traz verificabilidade, onde cada acordo, promoção ou produto que o empreendedor desenvolver será julgado pelo público a partir da fidelidade ao seu ideal. “Após algum tempo de escrutínio público, a empresa conquistará confiabilidade, que é um bem caro de se adquirir, fácil de se perder e caríssimo para se recuperar. Quem tem credibilidade, tem preferência”, analisa, lembrando que Steve Jobs atribuía o sucesso da Apple ao fato das pessoas comprarem ideias e não produtos e serviços.

Humanismo

“Uma ideia tem carisma, apelo e transmite segurança e validade. Não conheço, hoje, um bem social mais precioso para um empreendedor do que a credibilidade; será a moeda pela qual se medirá o sucesso dos empreendimentos neste mundo da nova normalidade, onde o humanismo se impõe como uma questão de sobrevivência”, complementa Lúcia Helena.

Formado em Business Administration and Management na Stony Brook, Vinicius Degani lembra que muitas pessoas começam a empreender por necessidade, mas a jornada é muito dura, especialmente quando não se tem um propósito bem definido. “Não conheço nenhum empreendedor de sucesso que empreende pensando em dinheiro, e eu sempre digo, dinheiro é a última coisa que pensamos no nosso dia. Ele vai ser uma consequência”, afirma.

Degani diz que esse propósito será o esteio para enfrentar dificuldades, e que para garantir que as pessoas conheçam a proposta do empreendimento é fundamental ter clareza nas ideias e na comunicação. “Outro ponto fundamental é a cultura promovida pelo líder transmitida ao time. Isso tem um valor imensurável”, complementa.

O CEO da empresa de embalagens C-Pack José Maurício Coelho ressalta que o propósito de uma empresa não necessariamente precisa estar relacionado com os seus produtos ou serviços, mas sim com o impacto da sua atividade na economia, na sociedade, nas pessoas e no meio ambiente. “Qualquer sociedade humana é formada por diversos organismos vivos que interagem na forma de pequenos grupos, famílias, comunidades. Cada empresa é uma dessas comunidades, porque é formada por gente”, reforça.

José Maurício diz que o propósito de uma empresa não precisa estar relacionado com produtos ou serviços, mas com o impacto da atividade na economia e sociedade (Foto: Divulgação) Organismos

Coelho diz que essas comunidades interagem e interferem direta ou indiretamente na vida de muitas pessoas dentro de uma sociedade. “Estamos procurando o propósito daquilo que fazemos e exigindo que nossas escolhas enquanto consumidores, colaboradores ou sociedade sejam escolhas com propósito. Por esse motivo o consumidor não está mais tão preocupado em saber o quê uma empresa faz, mas sim como essa empresa faz”.

A diretora de Vocalização e Influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Valéria Café, lembra que ao passo em que os consumidores estão atentos ao propósito das companhias para a tomada de decisão sobre o que levam para casa, o mesmo vale para quem investe. “Por saber que a perenidade das organizações está ligada diretamente a compromissos firmados pelas corporações com o meio ambiente, causas sociais e com a diversidade das pessoas, por exemplo, investidores podem escolher alocar o dinheiro nos negócios com propósitos mais em sintonia com os bons hábitos que demanda a maioria da sociedade”.

Para ilustrar sua afirmativa, Valéria cita uma pesquisa recente da consultoria e auditoria PwC, que mostrou que investidores consideram tirar dinheiro de empresas caso elas não façam o suficiente pelas questões ambiental, Social e governança ( Environmental, Social and Governance, ESG). A pesquisa indica que 49% dos 325 investidores de todo mundo ouvidos pretendem tomar essa decisão no futuro. Para 82% deles, ESG deve fazer parte da estratégia das companhias. O mesmo estudo evidencia que 34% estão dispostos a aceitar redução no retorno dos investimentos em troca de benefícios sociais ou econômicos. “Uma organização que impacta negativamente a sociedade tem um risco maior de ter problemas em seus processos de gestão e, consequentemente, de seus resultados”, diz.

Descubra seu propósito

Quer descobrir o propósito do seu negócio, responda as seguintes questões:

1.    Por que minha organização e as soluções que ela entrega agregam valor à sociedade?; 

2.    Como nós desenvolvemos nosso produto ou serviço? A forma como produzimos gera algum dano social ou ambiental?; 

3.    Como eu trato a equipe que trabalha na minha empresa e todo o ecossistema? A minha empresa possui uma equipe diversa?”; 

4.    Qual é a matriz energética e a forma que eu utilizo a água em meus processos? Posso reduzir meu impacto? Como? Em quanto tempo?; 

5.    Eu seleciono fornecedores ou tenho processos que geram impactos positivos?; 

6.    Como meu negócio pode influenciar o respeito entre as pessoas?; 

7.    As lideranças exercem um papel relevante e transformador em suas comunidades?; 

8.    Que marca minha organização quer deixar para a sociedade na qual atua?; 

9.    É possível agir de forma responsável e ter lucro?; 

10.    Como mitigar o impacto negativo, ampliar o impacto positivo por meio da inovação e transformação digital?

A agenda positiva de governança traz 15 medidas que ajudam os empreendedores a liderar com propósito, inovação e boa governança. Vale a pena a leitura: www.agendapositivadegovernanca.com