Parado no tempo: Salvador tem o menor incremento de leitos entre as capitais

Segundo o IBGE, nos últimos cinco anos a capital baiana só avançou em 1,4% no número de estabelecimentos de hospedagem

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  • Priscila Natividade

Publicado em 20 de julho de 2017 às 04:00

- Atualizado há um ano

Cenário econômico em retração, hotéis fechados, redução de leitos, falta do Centro de Convenções (CCB) e ocupação abaixo de 55% na média dos últimos dois anos. Estes são só alguns dos fatores que fizeram com que a capital baiana tivesse o menor incremento na oferta de hospedagem entre os anos de 2011 e 2016, na comparação com outras cidades.O fechamento do Hotel Pestana é um dos motivos que levaram à redução de leitos na capital baiana(Foto: Betto Jr./ Arquivo CORREIO)De acordo com a Pesquisa de Serviços de Hospedagem (PSH) 2016, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar da Bahia responder pelo quarto lugar em participação na oferta de hospedagem no país, representando 8,2% do total, Salvador só aumentou em 1,4% o número de estabelecimentos de hospedagem. Já Belém, a capital brasileira que mais cresceu em capacidade de hospedagem, teve incremento de 58,8% no volume de quartos. Salvador também não avançou além de 2,0% no total de leitos disponíveis e de 4,2% no acréscimo total de quartos. Em números absolutos, isso significou mais cinco hotéis, pousadas e similares no período, 680 novos leitos e 653 quartos a mais em cinco anos. “Vivemos em um cenário de retração em que não atingimos ainda o ponto de equilíbrio. O que a gente precisa no momento não é de mais quartos de hotéis, mas sim que o governo do estado diga o que vai acontecer com o Centro de Convenções. Precisamos de incrementos que venham alavancar o turismo”, afirma o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FEBHA), Silvio Pessoa. O presidente da Salvador Destination, Paulo Gaudenzi, concorda. “Se a gente estivesse com mais leitos, a ocupação seria menor ainda e a situação bem mais crítica para o setor. As cidades que cresceram no número de leitos apostaram nas Olimpíadas e na Copa do Mundo, mas vivem atualmente um pesadelo”, defende. 

Secretário de Turismo da Bahia sobre o CCB: 'Não posso precisar'Segundo ele, a perda de leitos de hotelaria de luxo também contribuiu para o baixo incremento no período. “Perdemos grandes hotéis para a crise, como o Pestana,  primeiro equipamento de luxo de Salvador. Foram 400 apartamentos a menos. O Holiday In Golden vivia em função da demanda dos eventos que aconteciam no Centro de Convenções e foi mais um empreendimento fechado com cerca de 250 leitos”.A diária média atual por conta da ociosidade dos leitos é mais um entrave, como defende o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), Glicério Lemos. “Já tínhamos um volume grande por conta dos eventos esportivos, só que com a diária média muito baixa isso não traz atrativo nenhum para o investidor, tanto para ampliar como abrir um novo”. Bahia A pesquisa é feita com base em dados cedidos pelo Ministério do Turismo. Atualmente, a Bahia possui 2.552 estabelecimentos, 74.539 unidades e 188.861 leitos. Outra característica baiana é que por aqui predominam estabelecimentos de médio conforto e econômicos, além de não estarem ligados a grandes cadeias de hotéis. As pousadas no estado representam 50%, enquanto os hotéis respondem por 38% do total de estabelecimentos. Além disso, quase um em cada três estabelecimentos de hospedagem baianos estão localizados na orla marítima. Para o responsável pela PSH 2016, Luiz Andrés Paixão, a maior representatividade das pousadas tem a ver  com o perfil da cidade. “Predominam estabelecimentos mais litorâneos, assim como em outros estados do litoral. Em relação à categoria do estabelecimento, os maiores percentuais  de médio conforto e econômicos são esperados e também estão relacionados à predominância do turismo de lazer“, analisa o responsável pela pesquisa. O perfil  pode nortear o estímulo ao aumento da oferta de leitos no interior do estado como destaca o pesquisador, tanto para o desenvolvimento do turismo rural como ecológico: “O estudo mostra um potencial pouco explorado de hospedagem em áreas do interior e rurais. E os dados da pesquisa servem como mais um subsídio para mostrar esse potencial a ser aproveitado, seja pelo poder público, seja pelos investidores privados”. 

OFERTA DE HOSPEDAGEM NO PAÍS CRESCE MAIS DE 70% 

Nos últimos cinco anos, a oferta de hospedagem nas capitais brasileiras cresceu mais de 70%, passando de 373.673 vagas em 2011 para de 639.352 no ano passado. De acordo com levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo como base dados do Ministério do Turismo, atualmente, o país tem capacidade para acomodar, ao mesmo tempo, 2,4 milhões de pessoas.

O crescimento expressivo, segundo o ministério, foi impulsionado pela preparação do país para a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano passado.

“Com toda certeza os grandes eventos contribuíram para o aumento da rede hoteleira do país. Mas não só para o aumento da rede, como também para a melhoria da qualidade da oferta”, disse o gerente da pesquisa, Roberto Saldanha. 

O censo  da hospedagem feito pelo IBGE analisou a quantidade de vagas em hotéis, motéis, flats e pousadas. Segundo a pesquisa, o estado de São Paulo lidera o ranking com 507.412 leitos disponíveis. O estado é responsável por 21% de toda a oferta nacional no período. Ainda com base nos dados, entre 2011 e 2016, o número de ingresso de turistas no país passou de 5,4 milhões para 6,6 milhões, dos quais 50% vindos da América do Sul.

Segundo o ministro do Turismo, Marx Beltrão, a ampliação de hotéis no período também contribuiu para o crescimento do volume de leitos. “Além da abertura de novos hotéis, registramos a reforma e ampliação de estabelecimentos que já estavam em funcionamento”, afirmou.