Parece mas não é: veja 13 localidades em Salvador que não são bairros oficiais

São quatro os critérios técnicos para transformar uma região em bairro na cidade

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  • Adele Robichez

Publicado em 14 de setembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto/Tiago Caldas

Se você perguntar ao estudante de engenharia civil, Luiz Otávio Bastos, 20 anos, onde ele mora, a resposta será Praia do Flamengo. O que está registrado nas correspondências, no entanto, é que o jovem é morador do bairro de Stella Maris, já que a Praia do Flamengo é apenas uma localidade segundo os critérios estabelecidos pelas leis municipais para subdividir a cidade. Depois que Salvador ganhou sete novos bairros no ínicio do mês, atingindo um total de 170, o CORREIO listou 13 localidades que têm toda cara de bairro, mas na verdade não são. 

Fazem parte da lista, Campinas de Brotas, Guilherme Marback, Planeta dos Macacos, Daniel Lisboa, Jardim Baiano, Aquárius, Alto do Peru, Polêmica, Iguatemi, Placaford, Jardim de Alah,  São Lázaro e a Praia do Flamengo, onde mora Otávio. “A maioria dos prestadores de serviços de transporte reconhece essa região como Praia do Flamengo e é assim que eu respondo quando me perguntam. Mas, se você olhar os critérios oficiais realmente não tem dá para ser um bairro”, admite ele.

Os critérios comentados pelo estudante são quatro e estão descritos na lei municipal 9.278 de 2017 criada justamente para determinar as regras na hora de subdividir a capital baiana. Para ser considerado um bairro, a região precisa atender pelo menos três de quatro quesitos: ter uma unidade escolar de ensino fundamental - pública, privada ou comunitária; uma unidade de saúde de atendimento geral ou especializado; ter uma rua por onde seja possível o trânsito de veículos de grande porte e ter oferta de transporte público regulamentada.  

“A criação de novos bairros interfere diretamente na definição de políticas públicas, e também reforça a relação de pertencimento dos residentes e usuários do espaço. O sentimento de pertencimento dos habitantes é uma percepção fundamental aferida nas pesquisas para que algum lugar possa ser considerado bairro”, explica Sérgio Guanabara, titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), pasta responsável pelas delimitações O secretário cita o exemplo do bairro 2 de Julho, oficializado dia 1 de setembro: “Se você perguntar ao morador ‘você mora onde?’, ele responde ‘moro no 2 de julho’. Essa resposta caracteriza o sentimento de pertencimento àquele espaço urbano”, explica. 

Geógrafo membro da comissão de geografia do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e professor da UEFS, Jémison Mattos dos Santos reforça a importância do pertencimento no momento de delimitar um bairro. “O bairro tem uma apropriação pessoal, individual, do ponto de vista do pertencimento. É reconhecer o lugar como seu. Você está representado naquela comunidade. Então, de um modo geral, quando você diz que muitos lugares de Salvador são conhecidos no senso comum como bairros, o senso comum aprendeu a popularizar o conceito de bairro com visões simples”, ensina. 

Mattos defende que “esse processo de planejamento da cidade, de bairros novos, deve olhar os usos, definir e controlar bem as áreas de expansão populares”. Além disso, reforça a atenção para o cuidado com o meio ambiente destes espaços: “preservar e conservar as áreas verdes, os fluxos dos rios, as nascentes. Isso é cuidar de um bairro pensando na sua dimensão total”. 

O titular da Sedur explica que, no momento, a pasta não enxerga necessidade de transformar em bairros outras regiões de Salvador. “Tudo foi feito com estudos técnicos elaborados pelo executivo, que resultou no decreto feito pelo prefeito”, diz Guanabara sobre o decreto que criou os últimos bairros da cidade. O secretário acrescenta que, para os novos bairros, o próximo passo é a elaboração de políticas públicas nestas novas regiões. 

Veja curiosidades sobre as 13 regiões que parecem bairros mas (oficialmente) não são: Campinas de Brotas (foto/Tiago Caldas) Campinas de Brotas Uma das regiões inseridas no bairro de Brotas, Campinas de Brotas tem esse nome porque compreende uma área que, no passado, eram duas fazendas chamadas de Campina Grande, e Campina Pequena. Por Brotas se constituir em um dos bairros mais subdivididos da cidade, não existe uma definição clara dos limites da localidade, que conta, ainda, com uma rua de mesmo nome. 

Praia do Flamengo Oficialmente parte do bairro de Stella Maris, a localidade é limitada pela extensão da própria praia, bastante frequentada por baianos e turistas. Na divisa entre Salvador e Lauro de Freitas Um loteamento para construção de casas de veraneio com o nome Loteamento Praia do Flamengo foi inaugurado em 1978 dando início à localidade com cara de bairro.  

Guilherme Marback A localidade nasceu como um conjunto habitacional depois da desapropriação do terreno de duas antigas fazendas, no final da década de 70, Oficialmente, Guilherme Marback está inserida entre os bairros da Boca do Rio e do Imbuí. A localidade carrega o nome de Guilherme Carneiro da Rocha Marback, advogado que foi governador interino do estado do estado em 1946. 

Planeta dos Macacos Mais uma das regiões que, em verdade, é um conjunto habitacional, o Planeta dos Macacos surgiu em 1981 e foi batizado em referência à franquia americana de filmes homônimos, lançados a partir da década de 1970 e que retratam ficcionalmente uma disputa territorial entre humanos e macacos. Oficialmente, a localidade é englobada pelo bairro de São Cristóvão.  Jardim Baiano (foto/Tiago Caldas) Jardim Baiano O Jardim Baiano é uma localidade oficialmente incluída no bairro de Nazaré, no Centro da cidade. O bairro oficial começou a se formar ainda no final do século XIX e o Jardim Baiano foi apenas uma das localidades que acabou nascendo em torno da Avenida Joana Angélica, uma das principais vias de Nazaré. Loteamento Aquarius (foto/Tiago Caldas) Aquarius A localidade chega a ser identificada por alguns moradores e vizinhos com a sua definição correta. Na verdade, um loteamento, a localidade nasceu em meados da década de 80 e fica no bairro da Pituba. O conceito das construtoras era o de oferecer uma região onde todos os tipos de serviços de rotina estivessem a uma caminhada de distância e assim tornar a área atrativa para novos moradores.  

Alto do Peru Abarcado pelo bairro da Fazenda Grande do Retiro, o Alto do Peru também já foi uma fazenda. No local eram cultivados café e cana de açúcar. A localidade também serviu de defesa ainda no período do Brasil Colônia, por ser alto e próximo ao mar, permitindo aos portugueses uma visão ampla da cidade.   Daniel Lisboa (foto/Tiago Caldas) Daniel Lisboa Mais uma das regiões incluídas no bairro de Brotas, Daniel Lisboa também se origina de uma antiga fazenda. A fazenda área da fazenda torre foi dividida para dar origem às regiões batizadas de Daniel Lisboa e Vila Rio Branco, A localidade fica dentro do que é conhecido como Acupe de Brotas e o bairro também conta com uma rua de mesmo nome. 

Polêmica Outra localidade que está oficialmente inserida no bairro de Brotas, a região da Polêmica nomeia também uma comunidade. A localidade fica numa via marginal a uma das principais avenidas da cidade, a Avenida Antônio Carlos Magalhães e também conta com uma rua de mesmo nome. 

Iguatemi A região do atual Shopping da Bahia, ficou conhecida pelo antigo nome do centro comercial que até 2014 se chamava Shopping Iguatemi Salvador. Apesar da mudança de nome do centro de compras, a região no seu entorno, que oficialmente está inserida no bairro do Caminho das Árvores, se desenvolveu e ficou conhecida pela antiga marca do primeiro shopping center do nordeste. 

Jardim de Alah Outras das regiões que ganha cara de bairro por conta de uma praia. Jardim de Alah é, em verdade, o nome de uma praia no bairro do Costa Azul. O nome faz referência a um pequeno coqueiral que dá acesso à areia, que começa logo após o final de uma outra praia também com nome de jardim, o dos Namorados.   São Lázaro Oficialmente dentro do bairro da Federação, São Lázaro é também o nome de uma igreja e de um largo na localidade. Outros bairros e regiões como o Jardim Apipema, o Calabar e o bairro de Ondina também ajudam a determinar os limites da localidade. A Igreja de São Lázaro, datada do século XVIII é um dos principais templos religiosos da Federação.

Placaford Região dentro do bairro de Piatã, o nome Placaford surgiu em razão de uma placa de publicidade da empresa Ford que depois de chamar tanta atenção acabou virando ponto de referência. A praia também foi dividida em pedaços que levam os nomes do bairro e da localidade.  

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier