'Parecia um velório', criticou folião sobre Lavagem da Pituba sem trio em 1996

Festa de Nossa Senhora da Luz tinha lavagem de escadarias, cortejo de baianas, trio elétrico e barracas

Publicado em 18 de julho de 2021 às 16:00

- Atualizado há um ano

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O pessoal que foi misturar fé e farra na Lavagem da Pituba de 1996 tinha muitos motivos para reclamar. Naquele ano, a Festa de Nossa Senhora da Luz, na praça de mesmo nome, ainda tinha quase todas as características das festas populares de largo de Salvador: fé, lavagem das escadarias da igreja, baianas, barracas, trio elétrico e um samba lá pro final de tarde. Mas, já não era como nos anos anteriores.

As baianas, os donos de barracas e alguns dos frequentadores já se queixavam que, nos últimos anos, a festa vinha perdendo o brilho e a participação popular. E isso tudo porque os moradores do bairro reclamavam do barulho do trio elétrico e da presença das barracas. Naquele ano, por exemplo, no dia 25 de janeiro, só foram permitidas 16 barracas ao longo da praça, após um acordo entre moradores e prefeitura. E o trio, que apareceu de manhã prometendo uma participação mesmo que tímida, não saiu do lugar, nem ligou as caixas de som.“O povo bem que acreditou, mas não foi esse ano que a Lavagem da Pituba ressuscitou. O primeiro dia da festa foi um fracasso de público e animação. Sem trio elétrico, proibido de tocar pelos próprios moradores do bairro, a lavagem foi um triste exemplo do que vem acontecendo com as festas de largo de Salvador, que a cada ano estão menos prestigiadas pelos baianos”, dizia um trecho da reportagem de mais de meia página publicada pelo CORREIO no dia 26 de janeiro de 1996, dia seguinte ao episódio.Era de esmorecer até as baianas mais determinadas a manter a tradição. Sem apoio da prefeitura e sem muita participação popular, dona Maria Edith Silva, então com 73 anos, uma das organizadoras da festa, prometeu que faria a lavagem das escadarias mesmo assim. “Prometi a Nossa Senhora da Luz que, enquanto eu tiver vida e saúde, faço a lavagem dela”, disse.

Com muita força de vontade dos poucos presentes, o cortejo saiu às 11h35 do Largo de Amaralina em direção à Igreja de Nossa Senhora da Luz, no bairro vizinho da Pituba, após uma rajada de fogos ali mesmo. Além das baianas, cavaleiros e uma ala improvisada de capoeiristas seguiram a caminhada ao longo na Avenida Octávio Mangabeira, mas quase em silêncio.“Querem acabar com a festa da Pituba e a culpa é dos moradores da área que proibiram o trio elétrico. O cortejo parecia um velório, sem um som, parado. Uma coisa triste de se ver”, reclamou Sandra Almeida, 33 anos, que tinha ido para ver a festa. Festa da Pituba de 1996; samba, mas nada muito animado (Foto: Claudionor Junior/Arquivo CORREIO) Quem insistiu, lá pelo final da tarde, ainda curtiu um samba, promovido pelo som das próprias barracas, como o pessoal desta foto feita no dia 25 e janeiro de 1996 por Claudionor Junior. Mas era só um sambinha, mesmo, sem muita farra e pouco álcool. Na época, o CORREIO publicou que as pessoas consideravam o preço da cerveja “proibitivo”. Uma garrafa de cerveja custava R$ 1,80, o que corresponderia, hoje, a cerca de R$ 10,45, em valores atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), segundo o Banco Central. Pela hora da morte.

É claro que a farra murcha foi criticada, mas quem foi para a festa só pela fé não teve tanto do que reclamar assim. Maria Emilia Bittencourt, 44 anos, disse que só não foi para o cortejo porque estava de luto pela morte recente da mãe. Mas estava satisfeita com os festejos. “Nosso objetivo é a parte religiosa. Se querem ou não a farra das barracas, não importa, pois para a gente o que interessa é manter a tradição de lavar a entrada da igreja”, disse. 

A festa de largo já não acontece na Pituba há alguns anos. O bairro faz uma celebração religiosa em nome da santa, com novena e terço rezado por pescadores.