Parte do acervo foi retirada do Museu Nacional antes de incêndio, diz Corpo de Bombeiros

Pesquisadores conseguiram retirar material pessoal e computadores

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  • Da Redação

Publicado em 3 de setembro de 2018 às 05:38

- Atualizado há um ano

. por AFP

Bombeiros que atuam no combate ao incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão (zona norte do Rio), informaram que uma pequena coleção de invertebrados não foi atingida pelo fogo. Isso porque segundo a diretora do museu, Cristina Serejo, ficava em um prédio anexo, que não foi afetado pelas chamas. O museu tem três andares e prédios anexos, localizados na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital.

Serejo ainda garante que “nem tudo foi perdido do acervo” do museu. O motivo é que alguns pesquisadores conseguiram sair do prédio com seus acervos pessoais. Outros funcionários tiveram ainda condições de retirar computadores pessoais.

Às 23h deste domingo (2) o incêndio continuava, e os bombeiros tentavam evitar que uma área conhecida como anexo fosse atingida Até então, esse trecho estava intacto. O prédio principal, ao contrário, foi praticamente todo destruído.

O incêndio foi controlado somente após seis horas de fogo. As chamas consumiram toda a estrutura do museu.

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O diretor do museu, Alexander Kellner, afirmou, na madrugada desta segunda-feira (3), em nota oficial, que espera todo o apoio do governo federal diante do incêndio que consumiu as instalações do museu, o mais antigo do País, que completou 200 anos em junho passado. "É uma enorme tragédia", disse. "A hora é de união e reconstrução."

Kellner afirmou que ainda é impossível estimar a perda do acervo, de 20 milhões de itens."Infelizmente ainda não conseguimos mensurar o dano total ao acervo, mas precisamos mobilizar toda a sociedade para a recuperação de uma das mais importantes instituições científicas do mundo", disse.A nota informa ainda que, recentemente, o museu aprovou junto ao BNDES um financiamento da ordem de R$ 21.7 milhões, que previa a aquisição de novos equipamentos para a prevenção de incêndios.

Risco de desabamento O prédio do Museu Nacional não corre risco de desabar, afirmou o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Roberto Robadey. Segundo ele, as paredes externas do prédio são bastante grossas e, embora muito antigas, resistiram ao fogo. "Algumas partes internas desabaram", afirmou.

O comandante dos bombeiros contou também que os dois hidrantes existentes ao redor do imóvel não funcionaram, por isso o combate ao fogo começou com atraso. "Tivemos que acionar a Cedae (companhia estadual de água e esgoto), que nos forneceu água. Agora tenho a certeza de que não faltará água, mas no início realmente tivemos problema", afirmou.

Segundo Robadey, o prédio não tinha um sistema adequado de proteção contra incêndios. A legislação que exige esse tipo de estrutura é de 1976, quando o prédio já tinha mais de cem anos. Conforme o comandante dos bombeiros, há cerca de um mês representantes do museu procuraram os bombeiros para tratar da instalação de um sistema de proteção contra incêndios.

Funcionários do museu e bombeiros conseguiram salvar uma parte do acervo, retirado antes de ser atingida pelo fogo. Uma das partes salvas foi a coleção de tipos de malacologia (ramo da zoologia que estuda os moluscos). O comandante disse que outras partes também foram preservadas, mas às 23h45 o incêndio ainda não estava controlado e não era possível fazer uma avaliação definitiva.

Acervo O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, como é conhecido, fica instalado no bairro imperial de São Cristovão, zona norte da cidade, e reúne mais de 20 milhões de itens, divididos em coleções de paleontologia, zoologia, botânica, antropologia, arqueologia, entre outras. O lugar já foi residência oficial da família imperial brasileira. Dom João VI inaugurou em 1818 o museu com o nome de Museu Real, que funcionou primeiramente no Campo de Santana, no centro do Rio.   O diretor de Preservação do Museu Nacional do Rio de Janeiro, João Carlos Nara, afirmou à Agência Brasil que o incêndio causa um “dano irreparável” ao acervo e à pesquisa nacional, mas ainda não é possível saber o que foi destruído.   Conheça alguns itens: - Um dos mais importantes itens era um fóssil humano, achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Batizado de Luzia, fazia parte da coleção de antropologia. Trata-se do fóssil de uma mulher que morreu entre 20 e 25 anos e seria a habitante mais atinga das Américas.

- Outra preciosidade era o maior meteorito já encontrado no Brasil, chamado de Bendegó e pesa 5,36 toneladas. A pedra é de uma região do sistema solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem mais de 4 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, no sertão da Bahia, na localidade de Monte Santo. Quando foi encontrado era o segundo maior do mundo. A pedra integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.

- Dom Pedro arrematou em 1826 a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria das peças veio da região de Tebas.

História Fundado por Dom João VI em 6 de junho de 1818 sob a denominação de Museu Real, o museu foi inicialmente instalado no Campo de Santana, reunindo o acervo legado da antiga Casa de História Natural, popularmente chamada "Casa dos Pássaros", criada em 1784 pelo Vice-Rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, além de outras coleções de mineralogia e zoologia.

A criação do museu visava a atender aos interesses de promoção do progresso sócio-econômico do país através da difusão da educação, da cultura e da ciência. Ainda no século XIX, notabilizou-se como o mais importante museu do seu gênero na América do Sul. Foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1946.

O Museu Nacional abrigava um vasto acervo com mais de 20 milhões de itens, englobando alguns dos mais relevantes registros da história brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como amplos e diversificados conjuntos de itens provenientes de diversas regiões do planeta, ou produzidos por povos e civilizações antigas.

Formado ao longo de mais de dois séculos por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações, o acervo é subdividido em diversas coleções. É a principal base para as pesquisas desenvolvidas m todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico. Possui uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras.

No campo da educação, o museu oferece cursos de extensão, especialização e pós-graduação em diversas áreas do conhecimento, além de exposições temporárias e atividades educacionais. Administra o Horto Botânico, ao lado do Palácio de São Cristóvão, além do campus avançado na cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo — a Estação Biológica de Santa Lúcia, mantida em conjunto com o Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Um terceiro espaço no município de Saquarema é utilizado como centro de apoio às pesquisas de campo.