Paul McCartney faz show vigoroso e afetivo em Porto Alegre

Foi o primeiro dos quatro shows da turnê no Brasil; Salvador é dia 20

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  • Roberto Midlej

Publicado em 14 de outubro de 2017 às 17:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marcos Hermes/T4F

Quando um craque faz um grande jogo pelo seu time, costuma-se dizer que ele fez de tudo, "só não fez chover". E Paul McCartney, no show de sexta-feira (13) à noite, em Porto Alegre, foi mais ou menos assim. Com uma diferença: ele fez de tudo e até acabou com a chuva que caía na capital gaúcha havia dias seguidos. Os temporais eram tão intensos que já estava até circulando um meme que mostrava um submarino amarelo navegando pelas ruas de Porto Alegre, em referência a Yellow Submarine, uma das canções que imortalizaram os Beatles. Falando em português, Mr. McCartney até arriscou o gauchês: disse que a noite estava "trilegal" (Foto:Marcos Hermes/T4F)   Mas, exatamente como aconteceu no Rio de Janeiro em 1990, bastou Paul subir no palco do Estádio Beira-Rio para a chuva ir embora. Foi com o clássico A Hard Days's Night que o músico abriu o espetáculo. Nada melhor que começar com uma canção marcante, que o ex-Beatle nunca havia cantado em carreira solo e só foi incluída nesta nova turnê, One on One, que, depois de passar por Porto Alegre, vai a São Paulo, Belo Horizonte e termina a passagem pelo Brasil em Salvador, na próxima sexta-feira (20). Love Me Do, outro clássico ainda da fase iê-iê-iê da banda, também jamais havia sido tocado por Paul em carreira solo e está no repertório. Um presente e tanto para os beatlemaníacos!

Como de praxe, Paul faz questão de se comunicar com o público na língua local. "Oi, Porto Alegre! tudo bem? Boa noite, Brasil", disse em português, antes de cantar outra antiga canção da banda que saiu do Liverpool para conquistar o mundo: Can't Buy Me Love, executada enquanto o telão no fundo do palco mostrava imagens dos primeiros momentos da carreira de John, Paul, George e Ringo. Aquele telão, vale registrar, é uma atração à parte e o fãs dos Beatles devem ficar atentos. Em muitos momentos, tornam o show ainda mais emocionante. Especialmente, quando a icônica capa de Sgt. Pepper's ganha uma versão animada.

Em bom gauchês Depois de cantar Got To Get You Into My Life, Paul fez a primeira gracinha da noite e tirou o blazer que vestia por cima da camisa branca, enquanto sensualizava. E, claro, ganhou gritinhos dos fãs. Àquela altura, já arriscava até um pequeno vocabulário gauchês, soltando um "tribom", um "trilegal", ou um "bá". "Obrigado, gaúchos e gaúchas!", novamente em português. O clima era tão bom que o público nem parecia se importar em pagar R$ 10 por uma garrafa de água mineral ou R$ 13 por uma lata de cerveja.

A declaração de amor à amada Nancy também veio no idioma local: "Eu escrevi essa música para a minha querida esposa Nancy. Ela está aqui hoje", falou, antes de tocar ao piano a bela e romântica My Valentine, do álbum solo Kisses on the Bottom, de 2012. A canção tem um clipe igualmente bonito, em preto e branco, com Johnny Depp e Natalie Portman, que foi projetado nos telões laterais. 

Aqueles equipamentos, que impressionam pela incrível resolução, têm, pelo menos, cinco metros de altura e, na maior parte do tempo, mostram Paul cantando e tocando. Para quem está assistindo ao show longe do palco, servem como consolação. Mas, se você é mesmo fã e tem com o ingresso para assistir ao show de longe, faça uma força, pague mais caro e fique mais perto do palco. Esteja certo que terá uma outra experiência, mais marcante, emocionante e à altura do que um ex-Beatle merece. A chuva forte que castigou Porto Alegre nos últimos dias deu uma trégua da hora do show do astro inglês (Foto: Marcos Hermes/T4F)  Cancões pós-Beatles As canções dos Beatles claramente eram as que mais emocionavam o público, mas algumas peças da carreira solo também mobilizaram a plateia. Uma delas foi Maybe I'm Amazed, lançada em 1970 e composta logo após o rompimento com a banda. Com uma sonoridade que lembra muito a última fase do grupo, a música segue como um dos clássicos de Paul no período pós-Beatles.

As músicas que gravou com a banda The Wings também têm presença marcante. Let me Roll It e Nineteen Hundred and Eighty-Five são algumas delas, mas nada supera Live and Let Die. Nascida como encomenda para o filme Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973), a canção ganha no palco um vigor impressionante e é durante sua execução que o show atinge o ápice da pirotecnia, com explosões, chamas no palco e fogos de artifício. Mas essa é uma exceção, afinal Sir McCartney não precisa de nada além de sua música para conquistar os fãs.

Até  a canção In Despite of All The Danger, composta ainda na época que John e Paul integravam a sua primeira banda, The Quarrymen, entrou no repertório. "Vamos fazer uma viagem no tempo", disse, convidando o público, antes de começar a tocar aquela que foi a primeira música gravada pelos Beatles segundo Paul e mistura um pouco de skiffle e rock. Uma baladinha ingênua para animar os casais. Animadinho, na balada seguinte, And I Love Her, Paul mais uma vez despertou gritinhos do público quando, de costas, deu uma reboladinha.

A ótima canção FourFiveSeconds, que está entre o soul e o pop, parceria de Paul com Rihanna e Kanye West, perde muito de sua força sem a cantora nascida em Barbados, que emociona no refrão. Mas ainda assim, Mr. McCartney dá conta do recado. Se você não conhece a canção, trate de ouvi-la antes do show, para desfrutá-la ainda melhor. 

Àquela altura, já eram quase duas horas de apresentação e o ex-beatle mostrava uma disposição inacreditável. Por várias vezes, você vai se pegar perguntando: "Será mesmo que esse cara tem 75 anos?!". E olha que ainda viria muita coisa pela frente: Eleanor Rigby; I Wanna Be Your Man; In the Benefit of Mr. Kite; Something e, claro, a indefectível Hey Jude e seu lindo coro  (embora soe clichê e, às vezes, breguinha) acompanhado pelo público. No fim, quase três horas de apresentação e mais de 35 músicas. E acredite: nem as quase sete horas de viagem de Salvador a Porto Alegre e a chegada em cima da hora do show, sem direito a um descanso, foram suficientes para cansar este repórter, que ainda queria mais. E Mr. McCartney, para a nossa sorte, também sempre parece querer mais. 

* O jornalista viajou a convite da empresa T4F