PDDU limita uso dos espaços do atual e do futuro Centro de Convenções

Setor hoteleiro tem sido obrigado a fazer cortes por causa de queda na ocupação

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  • Priscila Natividade

Publicado em 5 de novembro de 2016 às 09:02

- Atualizado há um ano

Tanto a região onde está localizado o Centro de Convenções (CCB), em Armação, como a área do Parque de Exposições, na Paralela, para onde o governo pretende levar o novo equipamento, estão classificadas como Zonas Especiais no novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU).

O lugar onde o CCB está instalado atualmente e o possível local que poderá abriga-lo, conforme sinalizou o Governo do Estado, é reconhecido como espaços com funções estratégicas para a cidade. “Isto porque elas comportam equipamentos e complexos urbanos com função específica para a cidade”, explica a assessora especial da Secretaria Municipal de Urbanismo (Sucom), Juliana Paes.  (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO)Ao todo são 13 áreas no PDDU que se encaixam neste grupo, o qual integra também a região da Arena Fonte Nova. “A Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município (Louos) mapeou estas áreas e a nova legislação reconheceu a importância destas zonas para o desenvolvimento de Salvador”, acrescenta.

O plano prevê ainda uma regra urbanística específica para qualquer tipo de construção ou ampliação nestas áreas, a ser discutido e aprovado pela gestão municipal. “O PDDU estabelece que o Centro de Convenções permaneça ali, independente da construção de um novo equipamento. Transferir o centro para o parque de Exposições não é uma mudança prevista no plano. Qualquer que seja a mudança, isso vai ter que ser discutido e aprovado pelo município”,  destaca a especialista.  

Trade se queixaEnquanto não há uma decisão concreta sobre o futuro do Centro de Convenções, os hotéis localizados no entorno do equipamento continuam amargurando quedas na ocupação e reduzindo despesas, sobretudo com pessoal. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-BA), desde 2013, quando o CCB sediou o seu último importante congresso antes de ser interditado, 12 hotéis da capital baiana fecharam as portas e aproximadamente 20 mil postos de trabalho na cadeia do turismo foram perdidos. Ainda de acordo com a entidade, a transferência do Centro de Convenções do bairro de Armação para outra região da cidade pode acarretar no fechamento de 10 mil leitos em hotéis.

 “Muita coisa aqui no entorno foi construída em prol do Centro de Convenções. O foco do próprio hotel é o turismo de negócios. Está todo mundo parado e ansioso para que esta situação se defina logo”, afirma o gerente operacional do Hotel São Salvador, David Mascarenhas. Com ocupação média, atualmente, em torno de 42%, o hotel com capacidade para hospedar 700 pessoas está com apenas 190 dos leitos ocupados. “Está tudo vazio. Estamos economizando de todos os lados, reduzindo o consumo de energia e renegociando contratos e preços com fornecedores. Nós também tivemos que reduzir o quadro de funcionários em 25%. Desde que o Centro de Convenções fechou  fizemos, pelo menos, dois cortes de pessoal”, acrescenta o gerente. O hotel tem apostado também oferecer promoções no restaurante. “Começamos com o almoço executivo por R$ 39,90 com direito a entrada e sobremesa, mas já quebramos esse combo justamente para ficar mais barato e atender o público local que trabalha por aqui independente de hospede. O prato principal agora é servido por R$ 24,90”.

 Outro hotel que também tem se virado para gerar receita é o Salvador Mar, localizado na esquina do Centro de Convenções. “A gente reconhece que a prefeitura tem requalificado a cidade e consolidado o Réveillon para a alta temporada, mas não temos como viver só de verão. Mas precisamos de um Centro de Convenções para que o turismo de eventos possa movimentar Salvador nos outros oito meses”, pontua a diretora do hotel, Lígia Uchôa, que assumiu a administração do Salvador Mar no inicio do ano. “Trouxemos investimentos e ficamos de pé na crise esperando a requalificação e não o desmonte do Centro de Convenções. Quando ele desabou, nós vimos todos os nossos sonhos e promessas irem junto, quando ele estava prestes a ser inaugurado”.

ArenaCom a transferência do O XVII Congresso Internacional de Odontologia da Bahia (Cioba), para a Arena Fonte Nova, o Hotel perdeu 75% da expectativa de ocupação.  O evento que acontece em Salvador até domingo (06) iria marcar a entrega do Centro de Convenções após dois anos de reforma, se parte do equipamento não tivesse desabado no dia 24 de setembro. “Muitas reservas que estavam fechadas a gente teve que devolver. Todo esse pólo econômico vai quebrar definitivamente se o Centro de Convenções sair daqui”.

Para Lígia, se o equipamento ganhar o Parque de Exposições como o novo endereço,  a receita gerada pelo fluxo de turistas de eventos será todo direcionado as áreas mais afastadas da cidade e a regiões metropolitana. “O governo vai acabar construindo um Centro de Convenções para Lauro de Freitas e Linha Verde já que o fluxo econômico não vai se expandir  para Salvador e vai ficar só naquela área mais próxima ao Aeroporto”.

Com metade dos funcionários necessários para segurar a demanda de serviços do hotel, pelo menos, oito deles trabalharam em outros hotéis da redondeza que fecharam após a desativação do Centro de Convenções para reforma. “Hoje a gente tem só 13 pessoas trabalhando. A equipe é pequena não porque o hotel não precisa de mais profissionais, mas nós não temos receita para contratá-los”. A empresária tem buscado de todas as maneiras junto às agências de viagem aumentar a sua carteira de clientes corporativos e pensa em reunir o empresariado que integra o trade para buscar soluções junto ao governo. “Tenho que manter o hotel aberto. Não posso fechá-lo”.

Faz um bom tempo também que o recepcionista do Hotel Oceânico, Edvaldo Lima, que fica bem de frente a Orla de Armação, não vê recepção movimentada nem o hotel 100% lotado. “Em época de congresso não tinha quarto livre neste hotel. Depois que fechou o Centro de Convenções a nossa ocupação caiu em torno de 70%. Hoje eu tenho apenas três hospedes”, lamenta. Com 57 apartamentos, 38 deles que não estão sendo utilizados irão ser fechados esta semana para reforma. “Vamos fazer uma reforma pensando na alta temporada  e no Carnaval pra ver se a gente consegue levantar o hotel”. 

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