Peixe fora d'água: Allan do Carmo está há 17 dias sem nadar

Em entrevista ao CORREIO, nadador baiano conta o que mudou com o adiamento da Olimpíada

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  • Daniela Leone

Publicado em 3 de abril de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo pessoal

Allan do Carmo nunca passou tanto tempo sem dar um mergulho. As braçadas do nadador baiano foram interrompidas no último dia 18, quando o Parque Aquático Maria Lenk foi fechado pelo Comitê Olímpico Brasil (COB) por causa da pandemia do novo coronavírus. Desde setembro do ano passado, o baiano se preparava no centro de treinamento do Rio de Janeiro com o objetivo de se classificar para a Olimpíada pela terceira vez.

Em 10 dias, da interrupção dos treinos ao adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para julho de 2021, todo um cronograma foi por água abaixo. O planejamento de carreira e vida de Allan dos últimos quatro anos foram modificados. “A mudança foi um mal necessário, que tinha que acontecer, por causa da situação que o mundo está passando”, compreende o atleta de 30 anos, que encara de forma positiva o tempo extra.

“Pra mim eu acho que foi bom. Ganho mais tempo de preparação aqui. Tenho só cinco meses treinando aqui no Rio e terei mais tempo para meu técnico trabalhar minhas características e estratégias. Por esse lado, pra mim foi muito positivo", pontua Allan. Nas Olimpíadas de Pequim-2008 e Rio-2016 ele era treinado em Salvador, por Rogério Arapiraca. Atualmente, o nadador mora no Rio de Janeiro e está sob a orientação de Fernando Possenti, o mesmo treinador da também baiana Ana Marcela Cunha.

“A rotina de treinos é praticamente a mesma. Foi uma mudança de filosofia de treinamento, da forma de pensar um pouco. É muito bom conhecer outras formas de treino, me acrescentou bastante”, avaliou o atleta, que antes da pandemia treinava em dois períodos, de segunda a sábado. “Está sendo uma experiência muito boa morar fora e treinar na estrutura do Time Brasil, acompanhar um pouco a preparação de outros esportes também”.

Allan segue no Rio de Janeiro, na companhia dos pais. Seu Walmir, 67 anos, e dona Maria Augusta, 57, tinham ido visitá-lo pouco antes da pandemia ganhar força no Brasil e decidiram ficar por lá com o filho. Com o técnico Fernando Possenti, ele fala só por vídeo conferência. “A gente parou para conversar logo depois da nova data da Olimpíada. Fizemos uma programação geral bem simples, até porque não dá pra planejar muito ainda, depende do calendário das competições. Decidimos que vamos tirar férias só no Natal e Ano Novo, mas mesmo assim mantendo atividade física".

"Quando voltarmos a treinar, vamos fazer o processo do zero, como se a gente tivesse tirado férias. A gente tem uma expectativa que em agosto voltem as competições, mas não sabemos de nada, só é uma expectativa, por isso, a programação vai ser refeita no dia que a gente começar a treinar". Por enquanto, Allan está se exercitando apenas no seco, em casa, com equipamentos de ginástica.

Allan estava com data marcada para voltar à Bahia. No dia 11 de abril, ele iria disputar a seletiva pré-olímpica, na praia de Inema, na Base Naval de Aratu. Os dois melhores nadadores da prova de 10 km da categoria masculina ganhariam o direito de disputar a seletiva olímpica em Fukuoka, no Japão, no dia 31 de maio. As novas datas ainda não foram definidas. Por enquanto, Allan seguirá como um peixe fora d'água. “Já tá batendo saudade de nadar. Eu moro em frente ao Maria Lenk, então vejo todos os dias. Fico olhando a piscina aqui no prédio, mas ela também está fechada”.