Pela terra ou pelo mar: veja como os devotos voltaram para casa após a Lavagem

Teve gente que ficou de molho esperando o preço do transporte baixar

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 19:22

- Atualizado há um ano

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Confesso que nunca consegui compreender a lógica exata que aponta o dia da Lavagem do Bonfim. Na minha cabeça avoada, a matemática era simples: cai na segunda quinta-feira do ano. Mas nesta quinta (16), quando a supracitada aconteceu, já vivíamos a terceira quinta de 2020.

A minha sorte é que de pouco importa essa formalidade para os fieis e profanos que seguem o Cortejo do Senhor do Bonfim. Seja quando for, todos os caminhos levam para a Colina Sagrada nos dias de Lavagem. Mas e na hora de voltar? Minha missão foi ir até a rua para descobrir como a galera faz na hora de ir embora. Certamente não encontrei todas as respostas, mas consegui algumas bem legais.

A tradição aponta que o mais correto é fazer a ida a pé. E aí tem gente que faz isso das mais variadas maneiras: tomando uma, protestando, brigando por um espacinho perto do adro... A lista é gigante. Na hora de voltar, quem tem as pernas em dia faz andando todo o percurso em sentido contrário. Também tem a galera do buzu, mas o que chamou atenção mesmo foi a galera da escuna. Sim, isso mesmo. Escuna, barco. E nem é para a Ilha de Itaparica.

O trânsito da Cidade Baixa, a famigerada CBx, não vive seus dias mais pacíficos quando tem Lavagem. Em bom baianês: é engarrafamento que só a p... então a galera arranjou uma forma de fugir desse caos e de quebra esticar a festa.

Quem volta de escuna pega o barco na região do Estaleiro do Bonfim e paga valores que vão de R$ 50 a R$ 100 para fazer uma viagem que pode terminar no Comércio, Gamboa ou Barra. Boa parte deles conta com Open Bar, garantindo aquela geladinha até na hora de ir embora.

Estudante de Geografia na Universidade Federal da Bahia (Ufba), Matheus Figueiredo explica que a Lavagem do Bonfim é uma tradição que vem de família. Quando criança, vinha acompanhado pelos pais, e agora, aos 22 anos, puxa seus amigos para transitar entre o sagrado e o profano. Matheus e amigos (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Ele foi outro que juntou um grupo para ter a experiência de voltar de escuna pela primeira vez. Pela tradição, fez o cortejo. Pela "descaração", voltou de barco. Cada um pagou R$ 80 pelo trajeto que saiu do Bonfim e vai até o Yatch Club, na Barra."É cana antes, cana durante e cana depois", conta aos risos.Um outro jovem estudante que curtiu a saideira da mesma foi André Andrade, que aproveitou a folga no estágio para descer até a Lavagem do Bonfim. Ele saiu de casa às 9h para fazer todo o cortejo, mas a expectativa mesmo era para voltar. Não que a festa estivesse ruim, muito pelo contrário, por sinal. É que desta vez ele juntou uma galera para voltar de barco."A gente juntou umas 40 cabeças. Vamos pegar o barco aqui e ele vai até o Comércio. Cobrou R$ 60 pra cada um e é open bar", explica.Além de juntar os amigos e continuar a fuleiragem, André confessa que a ideia de pegar a escuna serve como alternativa para fugir dos engarrafamentos e continuar curtindo a festa até na hora de ir embora.

Mergulhador e presidente da Associação Ambiental de Pesca e Conservação, Fernando Suber aproveita a Lavagem para fazer uma grana extra. Junto a alguns colegas, ele deixa seu barco nas proximidades do estaleiro e faz o transporte de fieis e profanos até às escunas. O melhor marketing é o preço de R$ 5, contra R$ 10 ou até R$ 25 do serviço cobrado para aqueles que vão pela ponte.  Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO Em 2020, Fernando enxergou uma queda no movimento e apontou o ano passado como o mais rentável desde que começou a prestar o serviço na praia. A afirmação é reiterada por seu colega Carlos Souza, que há cinco anos virou mergulhador e também aproveita a Lavagem para fazer um extra.

Deu pra ver que o mais normal é ter escunas já planejadas para as pessoas saírem da Lavagem ‘na lama’. Quase um paradoxo, mas é real. Mas também tem a galera que só quer curtir uma experiência nova e fugir do engarrafamento. O casal Davi Lima e Dedeco Macedo é um exemplo disso. Davi e Dedeco (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Davi explica que já saiu da festa “de tudo quanto é jeito”. Uber, ônibus, andando... só que em 2020 o namorado sugeriu a ideia do barco e ele topou. Mas não será no modelo com bebida livre - pagaram R$ 50 só para fazer o percurso do Bonfim até o Comércio. Uma certeza é que Dedeco, que carregava uma câmera, certamente teve a chance de fazer ótimas fotos.

Quem preferiu voltar pela terra passou por alguns apuros. O preço das corridas por aplicativos estava muito mais caro que o habitual por conta da demanda elevadíssima.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela