Pelé 80 anos: a aposentadoria no Cosmos, dos EUA

Proposta com valor astronômico levou o Rei para território em que futebol ainda era incipiente

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 23 de outubro de 2020 às 09:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Fifa/Reprodução

No dia 2 de outubro de 1974, o Santos ganhou da Ponte Preta por 2x0, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista. Mas o resultado pouco importava. Naquela data, Pelé faria o que se acreditava ser sua despedida definitiva do futebol. Atuou por 22 minutos, ajoelhou-se no campo e deu adeus, diante de mais de 20 mil pessoas. A ideia era viver uma vida tranquila na cidade que lhe deu tantas felicidades. Oito meses depois, porém, vestia, pela primeira vez, a camisa de um clube que não era o Peixe: a do New York Cosmos.

A aposentadoria foi terminada com uma oferta irrecusável. O Rei já tinha 35 anos quando os americanos ofereceram contrato de três anos, com salário de 2,8 milhões de dólares por temporada. Era um valor tão astronômico para a época que seria maior que o do também lendário Kareem Abdul-Jabbar, o mais rico da NBA. Pelé aceitou e, assim, se tornava o atleta mais bem pago do mundo na época. E voltava aos gramados.Estreou no dia 15 de junho de 1975, cinco dias depois de ser anunciado pelo Cosmos. A expectativa era tão gigante que, segundo a Fifa, jornalistas de 25 países foram aos Estados Unidos para cobrir o momento. Astro dos cinemas, Robert Redford fez as filmagens do longa Todos os Homens do Presidente serem suspensas para que pudesse estar presente no momento histórico.A partida, contra o Dallas Tornado, aconteceu no estádio Downing, em Nova York, que tinha capacidade para 22,5 mil pessoas. Ínfimo para a quantidade de gente que queria estar presente. Segundo um relato do jornal New York Daily News, escrito na época, fãs começaram a formar fila para comprar os ingressos às 10h - o jogo só seria às 16h30. Todas as entradas foram vendidas e milhares de torcedores ficaram, literalmente, de fora, tentando ver o que se passava ali dentro.

Pouco antes da bola rolar, os jogadores tinham seus nomes anunciados no estádio, com gritos suaves por parte da torcida. Na hora de Pelé, os presentes foram à loucura, aos gritos de 'Rei'.

O duelo, porém, começou com derrota do Cosmos, por 2x0. Coube ao brasileiro resolver a situação. Participou do primeiro gol da equipe e foi o autor do segundo, que garantiu o empate por 2x2. Fez, claro, a comemoração do soco no ar, sua marca registrada.

Pelé ficou no Cosmos até 1977, atuando em 106 jogos e marcando 64 gols. Naquele mesmo ano, o clube foi o campeão da Liga Norte-Americana de Futebol (NASL), sobre o Sounders, por 2x1. O palco da decisão, no dia 28 de agosto, foi o Civic Stadium, em Portland, um estádio de beisebol adaptado para o futebol que recebeu mais de 35 mil pessoas na final.

O adeus aos gramados No dia 1º de outubro de 1977, viria a despedida definitiva do Rei dos gramados. A partida reuniu os dois únicos clubes pelos quais ele atuou, o Cosmos e o Santos. Compareceram ao Giant Stadium, em Nova York, 75.646 espectadores - entre eles, o lendário campeão mundial de boxe Muhammad Ali,  o filho do presidente Jimmy Carter, Jeff Carter, e o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger.

Pelé jogou durante o primeiro tempo pelo time americano. Marcou um gol de falta, cravando a 1.281ª vez que balançaria as redes rivais. Na segunda etapa, vestiu a camisa do Santos, um agradecimento ao clube que o projetou ao futebol.

O Cosmos venceu, por 2x1. Ao fim do duelo, o Rei deu uma volta olímpica, segurando bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil. Emocionado, fez um discurso semelhante ao que fizera após o gol 1.000, em 1969, pedindo atenção às crianças e pregando o amor. Despedida de Pelé aconteceu em partida com os dois times que ele defendeu: Santos e Cosmos (Foto: Centro de Memória do Santos/Reprodução)