'Pelo menos Deus avisou a gente antes', diz vizinha de prédio que caiu no IAPI

Imóvel, já demolido totalmente, foi construído em cima de um córrego

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  • Milena Hildete

Publicado em 24 de abril de 2018 às 11:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO
Paulo Cesar de Jesus morava na casa que desabou por Mauro Akin Nassor/CORREIO

A noite dos moradores da Rua da Baixa da Fonte, no bairro do IAPI - onde um prédio desabou nesta segunda-feira (23), - foi de apreensão. Com a demolição do imóvel, pelo menos 15 famílias precisaram sair de suas casas.

Uma das moradoras que abandonou a residência foi a atendente de caixa Cristiane Queiroz. Ela mora na casa que fica ao lado do imóvel demolido. "Eu dormi com meu marido e com meu filho na casa de minha sogra. Sempre tive medo do que ia acontecer com esse prédio. Quando eu vi que ele estava inclinado, saí de casa correndo. Tem um monte de coisa minha lá dentro, mas eu agradeço, porque poderia ter sido como foi em Pituaçu. Pelo menos Deus avisou a gente antes", disse ela.

Como Cristiane, a doméstica Sandra Maria dos Santos, 57 anos, também precisou sair de casa. Ela mora em um imóvel de três cômodos, com seis filhas. "Dormiram três filhas na casa da minha irmã. Duas na casa da vizinha e uma ficou comigo na casa de outra vizinha. Eu nem consegui dormir ainda. Eu estou com a mão na cabeça, porque crio minhas meninas sozinhas. E, agora, estou com medo de não voltar pra casa", lamentou ela.

Quem também passou a noite em claro foi o marceneiro Paulo Cezar de Jesus Monteiro, 38, único morador do prédio demolido. "Começou com estalos. Eu estava com três amigos em casa e o rapaz que trabalha na oficina, que fica do lado, me chamou pra avisar que o prédio tava caindo. Eu sabia que o prédio tava condenado. Mandei até meu filho pra casa da mãe semana passada, porque eu estava com medo. Só não saí antes porque não tinha pra onde ir. Estou desempregado", falou ele.

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Paulo mora "de favor" no imóvel há pouco mais de um ano. Segundo ele, o imóvel começou a dar sinais de desabamento por volta da 1h. "Eu ouvi o estalo uma ou duas vezes. Quando o colega me chamou, eu saí com a roupa do corpo mesmo", informou. 

O que aconteceu com o prédio? De acordo o engenheiro responsável pelo setor de demolição da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), Celso Jorge Carvalho Moreira de Souza, o prédio teve um recalque (o pilar do fundo cedeu, inclinando o imóvel), porque foi construído em cima de um córrego. "Construíram o imóvel em cima de um córrego, e dois pilares cederam", informou.

Por volta das 8h30 desta terça-feira (24) uma equipe da Sedur voltou ao prédio para fazer a remoção de entulhos. "Hoje, vamos fazer  um rescaldo - uma redução  das estruturas que ficaram. Vamos ficar atentos ao córrego que está embaixo. Nós já conseguimos evitar que o imóvel causasse danos aos vizinhos", afirmou.

Até o final da tarde, técnicos da Sedur permanecia no local fazendo a retirada do que sobrou do prédio.  Segundo a Codesal, apenas após a retirada dos escombros, os engenheiros do órgão poderão avaliar a área e vistoriar os imóveis vizinhos ao que foi demolido e verificar qual o impacto causado pela demolição. A área permanece isolada.

Ainda segundo Souza, apenas um imóvel vizinho ao prédio que caiu foi afetado com a demolição. "As pessoas vão poder voltar para as casas, sim. Só o imóvel que fica ao lado é que será afetado", disse. Ainda não há uma data definida para essa volta.

Desabamentos Até às 17h desta terça-feira (24) foram registrados dois desabamentos totais de imóveis, sendo um na Fazenda Grande 3 e outro no bairro de Tancredo Neves, e três parciais, em Paripe, Nova Brasília do Aeroporto e Liberdade. A Defesa Civil registrou ao todo 120 ocorrências, sendo que a maior parte (15) foi no bairro de São Marcos. Não há registro de feridos.