Pense como um jovem para lucrar, diz especialista

Mestre em IA aprova ideia de acarajé feito em fritadeira elétrica

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 05:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Um acarajé quentinho tem seu lugar. Até um descendende de japoneses sabe disso. Mas, ao viver a experiência de experimentar um dos tradicionais bolinhos da cidade, Eduardo Endo fez um alerta. Coisa de quem é mestre em Inteligência Artificial: 

“As gerações que estão surgindo poderão não consumir esse produto. Eu percebi alguns problemas na hora de comprar o acarajé. As baianas, ao menos as mais conhecidas, costumam ter fila. As gerações atuais são acostumadas a comprar tudo em alguns toques no smartphone. As baianas também não entregam em casa. E mais. O acarajé, em geral, não é saudável. As gerações atuais estão muito preocupadas com isso”, problematizou Endo.

Durante sua oficina no Seminário Humanize[se], do Fórum Agenda Bahia 2018, ele pediu que os grupos de trabalho pensassem soluções digitais para aqueles problemas que identificou no acarjé. O objetivo do palestrante foi fazer empreendedores entenderem que é preciso conquistar o seu futuro cliente pensando tal qual as novas gerações.

Mindset

Para isso, é preciso usar o mindset (mentalidade) das gerações às quais se quer conquistar. E, se o alvo for as gerações mais recentes, fatalmente essa solução vai ser digital. Mas como fazer isso? Como entrar na cabeça do jovem conectado?

“Com empatia e comunicação. Empatia é se colocar no lugar do outro, entender as necessidades dele. Se for a geração Z, ela está sempre um passo à frente da gente. É preciso se comunicar com eles, entrar nas cabeças deles”, diz. 

Ou seja. Para ele, não só as pessoas devem se adaptar às novas tecnologias, mas, principalmente, as tecnologias e as empresas devem se adaptar às pessoas. “Quando a gente for criar um produto,  tem que lembrar que é para essas gerações. Não dá pra inovar com o nosso próprio mindset. Precisamos entender como funciona a cabeça da geração Z”, defende.

Mas, por que um especialista em Inteligência Artificial está em um seminário sobre humanização? Simples. Endo mostra que se adaptar às novas tecnologias é, na verdade, humanizar-se. “As tecnologias avançam porque as pessoas avançam. A transformação ocorre de dentro para fora. Antes de as tecnologias se transformarem, o que se transforma são as pessoas. Se você é uma pessoa, você precisa mudar também, ou seja, humanizar-se”.

Humanizar-se, neste caso, é entender a cabeça de gerações que não conseguem ficar distante dos seus devices (dispositivos eletrônicos), como o celular, tablet e computador. Durante a apresentação, Eduardo Endo trouxe dados que mostram até onde vai a relação dos jovens com os smarthphones, por exemplo (ver ao lado). “As novas gerações se comunicam com imagens, emojis e poucas palavras. Aliás, deixa eu fazer uma pergunta: Quem aqui não tem WhattsApp?”. Ninguém na plateia respondeu. “Se alguém pensou em levantar a mão melhor abaixar rápido senão passa vergonha”, brincou.  

Fritadeira

Mas, e o acarajé? Os grupos de trabalho se reuniram por dez minutos. O primeiro passo era apontar os problemas. Em seguida, pensar as soluções. Entre aplicativos de vendas de acarajé para serem entregues a domicílio e sites, uma das ideias chamou a atenção.    

Um dos grupos propôs a criação de uma espécie de fritadeira elétrica que consiga fritar o acarajé de forma mais saudável, segura e higiênica. “Identificamos que a forma de produção, o manuseio, o risco da utilização do gás e do óleo saturado prejudicam muito o produto”, afirmaram a dentista Joselita Nascimento e a professora Lúcia Machado, duas das criadoras da ideia. “Pensamos em uma máquina que conserve nutrientes e crocância, mas que resolva os problemas do processo”, completaram. 

Empolgado e alheio às tradições que fazem do acarajé um quitute mundialmente conhecido, Eduardo Endo elogiou. “Uma máquina dessa pode melhorar muito a produção e entregar um acarajé muito mais saudável”.  

Geração Z tem medo de ficar sem celular

Eduardo Endo lembra que as novas gerações são nativas digitais, ou seja, já nasceram deslizando as pontas dos dedos nos dispositivos. Por isso, pessoas e empresas precisam acompanhar o pensamento dessas gerações sob risco de ficarem para trás. Para comprovar sua ideia, Endo apresentou um vídeo em que a sua própria filha, Beatriz, é entrevistada. 

A menina,  6 anos, usa com destreza tablets e smartphones. “Ela já nasceu nessa geração. Se der um telefone de discar, ela não vai saber usar. Ela é o que eu chamo de nativa digital. Não é mais inteligente que as outras gerações, mas se você quiser inovar é preciso pensar como a Bia”.

Na entrevista, a menina revela o que o pai faz quando ela desobedece. “Ele tira o tablet, o smartphone e a internet”. “E como você reage?”, pergunta a entrevistadora. “Eu fico com medo”, responde a menina. “É uma geração que tem medo de ficar longe dos devices”, diz Eduardo. 

“Uma pesquisa mostra que 79% dos jovens têm a ‘nomofobia’, a fobia de ficar sem esses devices. É preciso entender a cabeça desses jovens e criar soluções digitais para eles”, aposta.

Muitas empresas, diz Eduardo Endo, investem muito dinheiro para entender esses consumidores.  As propagandas que aparecem antes dos vídeos do YouTube, por exemplo, têm, no máximo, oito segundos. Isso porque estudos demonstram que a geração Z tem, em média, apenas oito segundos de atenção plena. 

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do jornal CORREIO, com patrocínio da Braskem, Sotero Ambiental e Oi, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; e apoio do Sebrae e da VINCI Airports.

Destaques da oficina*Empreendedores  precisam usar o mindset (programação mental) das  gerações que querem conquistar

*Adaptar-se às novas tecnologias é, na verdade, humanizar-se, pois as tecnologias avançam porque as pessoas evoluem, e se transformam depois de as pessoas se transformarem.