PercPan terá edição virtual pela primeira vez e homenagem à sua criadora

Maior festival percussivo do Brasil acontece de sexta (4) a domingo (6)

Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Divulgação

O afastamento físico provocado pela pandemia foi curiosamente o responsável por realizar um desejo antigo de Beth Cayres (1959-2019), criadora do Panorama Percussivo Mundial (PercPan): reunir a França e o Brasil. Agora que as fronteiras foram diluídas pela tecnologia, o principal festival percussivo do Brasil realiza uma edição virtual com atrações dos dois países.

Em formato pocket, o 23º PercPan acontece de sexta-feira (4) a domingo (6), com transmissão ao vivo e gratuita pelo YouTube, a partir das 14h (horário de Brasília). A programação, que será virtual pela primeira vez, conta com o grupo francês de jazz-funk Cotonete, em duo com a cantora carioca Amanda Roldan, e a banda paulista Aláfia, em parceria com o percussionista Boris Reine-Adelaide, da Martinica.

“Desde 2014, quando comecei a fazer as curadorias com a Beth, ela tinha vontade de aproximar músicos franceses e brasileiros. Beth estudou e viveu na França, Igor [Cayres] nasceu lá”, conta o produtor musical Alê Siqueira, curador do PercPan, citando o atual produtor do evento, filho de Beth.

O desejo da criadora do evento, que morreu em 2019, era fazer esse grande encontro em uma praça pública da França, no mesmo formato que foi feito no Rio Vermelho em 2017. Mas só agora essa vontade foi tirada do papel por seu filho. “Tem uma carga simbólica muito forte, é quase uma homenagem a Beth. Uma edição marcada pela saudade”, comenta Alê.

Igor conta que por mais de 20 anos viveu momentos marcantes ao lado da mãe e de artistas de todos os cantos do planeta, no PercPan. “Hoje, abraço a grande responsabilidade de dar seguimento ao seu legado. Em plena pandemia, realizar esse projeto tem um significado especial para mim, primeiro pelo tema das interseções musicais com a França, onde nasci e, também, por manter sua memória viva”, diz, emocionado.

Alegria Quantitativamente, é uma edição mais modesta em atrações e orçamento. “Qualitativamente é representativa e não deixa nada a desejar”, reforça o curador. Nesta edição, o evento foca em grupos de música popular com ênfase no universo percussivo e quem abre a programação o percussionista cubano Pedro Bandeira, com um workshop de percussão ao vivo.

Nascido na Martinica, no Caribe, com uma longa trajetória em Cuba e residente no Brasil há anos, Boris é o resumo do PercPan na opinião de Alê. Ao mesmo tempo em que traz a questão tradicional percussiva, é DJ e dialoga com o contemporâneo. O mesmo acontece com o Aláfia: “Tem as matrizes, a coisa ancestral, e o contemporâneo”. Toda essa mistura em uma programação que tenta não ser “sisuda” e “hermética”.

“Beth Cayres que me ensinou isso. Ela sempre dizia: ‘Alê, a curadoria está legal, mas falta alegria’”, lembra o curador, rindo. Portanto, no PercPan 2020 o público vai encontrar atrações dançantes que se encontram em matrizes rítmicas comuns, mas mantêm suas particularidades. “É importante manter, preservar e aprender com as diferenças”, acredita Alê.

Essa característica forte no evento serve de lição para a vida, continua o curador. Afinal, junto com o PercPan vem um subtexto de “tolerância, aprendizado, convivência com o diferente e encontro no igual”. “Simbolicamente, vai ao encontro de toda a nossa luta social e política. Uma forma humilde de contribuir com essa sociedade de tanto preconceito, desigualdades e fobias”, resume.