Personal pedagogo: pais contratam profissionais de educação na pandemia

Valor cobrado pela hora/aula varia de R$ 30 a R$ 100. Há pacotes mensais que chegam a custar R$ 500, a depender do tipo de orientação

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  • Priscila Natividade

Publicado em 3 de outubro de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

João tem 4 anos e, como toda criança, é bem ativo e adora brincar. Seu irmão, Joaquim, só tem 1 ano, mas também segue o mesmo ritmo de João. A mãe dos meninos e produtora de conteúdo materno-infantil, Carol Nazar (@carolnazar), sentiu de perto a dificuldade que as crianças tiveram para se adaptar ao modelo de ensino remoto, imposto pela pandemia.

“João estava muito ocioso, entediado, sedentário, sem rotina e assistindo televisão mais do que o normal. Também acabei deixando em segundo plano minha vida profissional para dar atenção aos meus filhos”, conta.

Como é que se vira? Com o prolongamento da suspensão das aulas presenciais por conta do coronavírus, a solução encontrada por Carol foi contratar uma pedagoga para promover atividades educativas fora da escola que os meninos estudam. A demanda é crescente, principalmente, por pais de crianças da educação infantil.

De acordo com os profissionais que prestam essa consultoria e de pais que aderiram a este serviço, que foram ouvidos pelo CORREIO, o valor da hora/aula varia de R$ 30 a R$ 100. Há pacotes mensais que chegam a custar R$ 500, a depender do tipo de orientação — só com as atividades, mais o atendimento online três vezes por semana ou o homeschooling (educação domiciliar).

A agenda da pedagoga e gestora da Escola de Educação Infantil Bacuri Jatobá (@escolabacurijatoba), Juliane Maranhão já está lotada desde o início do mês. Ela, inclusive, começou a indicar amigos professores para os pais que estão em busca deste suporte pedagógico. “A maioria dos pais quer tirar o filho do excesso de televisão e reestabelecer a rotina, diminuir a ansiedade”.

Juliane perdeu totalmente a renda, junto com os contratos das crianças que estudavam na escola onde é diretora, localizada no bairro de Itapuã, em Salvador. “Todos os meus alunos cancelaram a matrícula. Foi aí que surgiu a proposta de fazer um trabalho mais personalizado. Hoje, estou ganhando duas vezes mais do que ganhava anteriormente, com a escola”, pontua.

O acompanhamento traz atividades lúdicas que desenvolvam a criatividade, coordenação motora, ritmo e memória, por exemplo.“A gente sabe que nem todo mundo tem condições de pagar por um personal pedagogo. É mais um apoio para esses pais que precisam dar conta de tanta coisa com as crianças em casa. É muito difícil para eles se tornarem professores”.Troca A bióloga Ada Assunção é mais uma mãe que sentiu a necessidade de contratar um profissional de educação para ajudá-la com o filho Tom, de 3 anos. “Sou mãe solo. É 24 horas só eu e ele. Aos poucos, senti que era eu quem precisava de apoio para que conseguisse identificar nele as necessidades e garantir o bem-estar”.

A casa da relações públicas  Xede Martins está toda decorada com móbiles de barquinho, flores de papel, bandeirolas e vários brinquedos feitos pelo próprio filho, também  Tom, de  3 anos. “O maior resultado está na nossa sintonia familiar e no fortalecimento da rede de suporte para nosso filho. Ganhamos repertório e uma maior compreensão do que é importante para ele nessa etapa do desenvolvimento”, opina.

Alternativa?  Em um cenário em que diversos professores tiveram redução de salário ou foram demitidos, para a pedagoga formada e arte educadora, Luara Cerqueira (@luacdesousa), um novo mercado se abriu para que ela e outros profissionais de educação pudessem complementar sua renda.

“A ida de professores nas casas dessas crianças não supre a experiência escolar, mas é importante porque demonstra que as famílias estão percebendo o quanto ter uma pessoa capacitada, para lidar com estas demandas da criança, faz a diferença”. 

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Para a doutora e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Leila Soares, essa procura chama atenção para o risco desse movimento acabar por avançar a adesão do homeschooling  no pós-pandemia.“Me preocupa que, mais para frente, essas crianças migrem totalmente para o ensino doméstico. Os pedagogos podem ajudar a intermediar, tirar dúvidas da família, porém, sem que ninguém substitua ninguém. A criança precisa dos momentos de construção familiar. O que não pode é fortalecer a ideia de que o aluno não precisa da escola ou que o ano está perdido, porque outros aprendizados foram adquiridos”, alerta.Mãe de Bento, de 7 anos, Vicente, com 2, e Maria, que completou 1 ano, a bióloga Ana Alencar recorreu a uma pedagoga para se dedicar ao acompanhamento do filho mais velho, que antes da pandemia, ia começar a ser alfabetizado. No entanto, ela conversou bastante com o profissional sobre a abordagem das atividades:

“Contratei a pedagoga para dar esse conteúdo, nada além do que a escola propõe, mas em um ritmo muito suave. Com relação aos conteúdos, tem uma vida inteira aí para estudar, aprender. Não sinto que seja saudável, necessário, essa corrida maluca e não tem problema nenhum que no ano que vem a gente retorne de onde parou”.

CINCO ATIVIDADES PARA FAZER COM SEUS FILHOS

Padaria em casa Vale tirar um dia para que a criança possa ajudar  na preparação de uma receita simples, como a de biscoitos, por exemplo, mas lúdica. 

Dia do brilho Outra atividade sugerida por especialistas é promover o dia da limpeza, da arrumação. Limpar os brinquedos juntos ou arrumar o quarto para desenvolver atividades domésticas com inicio, meio e fim. 

Adotar um animal de estimação É outra alternativa que os educadores destacam. Vai despertar na criança mais afeto pelos animais, senso de responsabilidade, de cuidados e  solidariedade também. 

Jardinagem A disposição em cuidar das plantinhas da casa ou até mesmo de plantar junto a sua própria semente ou muda trabalha a questão da força de vontade, da motricidade ampla das mãos, o cuidar do ser vivo e acompanhar seu crescimento. 

Atividades artísticas Pintura, teatrinho, dança, música são algumas atividades que também conseguem envolver a criança e promover o seu desenvolvimento.