Pescadores acham corpo de jovem desaparecido após passeio em barco

Robson foi jogado ao mar por dois suspeitos após tentar defender amigas

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  • Da Redação

Publicado em 7 de setembro de 2018 às 10:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O corpo de Robson de Jesus dos Santos, 19 anos, desaparecido desde a noite da última quarta-feira (5), foi encontrado, na manhã desta sexta (7), na Praia do Alvejado. O rapaz era procurado há dois dias por equipes do 13º Grupamento Marítimo e as buscas foram finalizadas às 7h30, quando pescadores encontraram o corpo. Ainda não há detalhes sobre o sepultamento da vítima.

A versão das últimas pessoas que viram Robson -  os amigos Victoria Maria Branquini, 22, e Victoria Musi Vitti, 33, e  Ícaro de Oliveira, 21 - é de que o jovem foi jogado do barco onde estavam por dois homens que tentaram estuprar as duas jovens, na noite de quarta-feira (5). Os rapazes partiram em defesa das amigas, mas foram agredidos e empurrados pelos donos da embarcação. As duas, no entanto, jogaram-se no mar, na Praia do Bate Estaca, também em Plataforma, e conseguiram se salvar. Já Ícaro foi amparado por moradores do local. Apenas Robson não havia sido localizado.

Um dos pescadores que fez o resgate não quis se identificar mas contou ao CORREIO que estava saindo para trabalhar quando viu o corpo. Ele tinha acabado de jogar a rede quando percebeu algo estranho e ao ver do que se tratava amarrou as pernas do corpo e puxou até a beira. Ele avisou a moradores locais que acionaram a polícia."Eu tava saindo pra trabalhar. Era umas 6h, tinha acabado de jogar a rede e vi o corpo aí amarrei as pernas e trouxe pra beira. Pedi pra ligar pra polícia. Aqui tá acontecendo é coisa. Foi esse corpo, dia desses teve o tiroteio entre lancha e helicóptero... Ave Maria", afirmou o pescador. Quando os pescadores avistaram o que poderia ser o corpo de Robson, a maré estava baixa e o vento empurrava a vítima em direção à Ilha de Itaparica. Foi preciso amarrar as pernas de Robson com a rede para, então, poder puxá-lo da água, próximo à Praia do Baixo Estaca, onde foi resgatado.

A areia rapidamente foi ocupada por moradores da região. No início da manhã, por volta das 7h30, ao menos 60 moradores assistiram o resgate, segundo relatou o morador Paulo Henrique, 29, que salvou Ícaro ontem. 

Versão oficial O 13° Grupamento de Bombeiros Militar/GMAR (13°GBM/GMAR) informou que, durante a operação de resgate, foi avistado um corpo flutuando na praia de Plataforma.

"Bombeiros militares recuperaram e levaram o cadáver para um local de fácil acesso. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado, para fazer a remoção. O genitor da vítima reconheceu no local o corpo como sendo de Robson. As buscas na manhã desta sexta aconteceram com seis bombeiros militares, sendo dois na motoaquática, dois numa embarcação da Marinha e dois por terra", afirmou os bombeiros em nota. 

O corpo, removido pelo DPT, foi encaminhado para a perícia. Robson havia sido jogado ao mar por dois suspeitos após tentar defender as colegas de uma tentativa de estupro. O pai, também chamado Robson, chegou a pedir ao filho para não sair (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Essa versão, dada pelas vítimas à polícia, começou a ser investigada na quarta-feira (5) - dia do passeio - pela 29ª Delegacia (Plataforma). Robson morava com o pai, a madrasta e o irmão mais velho. 

No mesmo dia do desaparecido, na areia da Praia do Alvejado, por volta das 23h, policiais já tentavam entender a situação. As jovens Victoria Maria e Victoria Musi diziam apenas uma única coisa aos moradores: “Tentaram nos agarrar, jogaram os meninos na água e precisamos pular para nos salvar”. Testemunhas disseram que elas alternavam riso e choro.

Na quinta-feira (6), na delegacia, elas reafirmaram a versão, acompanhadas do outro tripulante do barco, Ícaro. Até chegar à embarcação, segundo o titular da delegacia, Luís Henrique Costa Ferreira, o grupo, com exceção de Robson, já estava confraternizando. Desde o início da quarta, os amigos rodavam pela Ribeira. Num bar da orla, ocorreu o primeiro encontro com os outros dois homens, que ainda não foram localizados pela polícia. Os dois suspeitos, então, convidaram os três - Victoria Maria, Victoria Musi e Ícaro - para um passeio. Eles aceitaram e seguiram para o mar. Robson só embarcaria na segunda viagem do quinteto, que retornou à Ribeira justamente para buscá-lo. Ao perceber a ligação de Ícaro chamando Robson para o passeio na Ribeira, o pai, também chamado Robson, chegou a alertar o filho. Presente à delegacia para acompanhar os depoimentos, o pai lembra: “Eu disse para ele não ir. Esse é um apelo de um pai que ama o filho: não defendam essas pessoas [supostos donos do barco]”. O filho, ainda assim, seguiu. Prestes a iniciar um curso para cabeleireiro pago pela avó, Maria Madalena de Jesus, seguiu rumo ao desconhecido.Tensão Os familiares de Robson apontaram para Victória, 22, sentada na recepção da delegacia, ainda vestida de biquíni. Entre eles, uma das tias de Robson, Cláudia dos Santos. O clima começou a ficar tenso, e Cláudia perguntou o que todos tentavam entender: “Como é que vocês podem ir para um barco com dois desconhecidos?”. A mulher respondeu com uma defesa: “Se não fosse por mim, estaria todo mundo morto. A gente conseguiu pedir socorro”. Na versão dada em depoimento, o passeio acontecia sem Robson e foi Ícaro, o único amigo do rapaz, quem decidiu convidá-lo. Mas a família insiste em saber mais detalhes. Num momento visto pela reportagem, Victória diz ter conhecido Robson na tarde de quarta; pouco antes, no entanto, havia afirmado que estava com o rapaz na noite anterior. O delegado nega contradições no depoimento prestado pelas vítimas: “Os três falaram da tentativa de estupro. Que quando os homens se aproximaram, Ícaro e Robson foram empurrados. Depois, elas se jogaram”, disse o delegado Luís. Um amigo da família, Herbert Cerqueira compartilha uma crença que não foi citada em nenhum depoimento. Diz não duvidar de um ataque homofóbico contra Robson, assumidamente gay. “Acho que pode ter a ver com homofobia, sim. Não que tenha sido só isso. Mas acho que tem preconceito envolvido, sim”, acredita o familiar. Do lado de fora da delegacia, enquanto todos eram ouvidos, a mãe de Robson chorava. “Oh meu filho, onde você está?”, perguntava, sem resposta. O nome dela não foi divulgado. O pai ajoelhava-se de frente para Victória, tentando compreender o porquê de o filho ter embarcado no desconhecido.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier