Pessoas já chegaram enfermas, diz defesa de médium suspeito de homicídios

O médium foi denunciado por parentes das supostas vítimas

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 12 de janeiro de 2019 às 00:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/TV Bahia

As pessoas que morreram depois de terem se submetido a cirurgias espirituais com o médium Antônio Miguel Rodrigues, 53, de Aparecida de Goiânia (GO), tiveram esse fim devido ao estado precário de saúde e não em decorrência de supostas complicações das cirurgias, disseram nesta sexta-feira (11) advogados do médium.

Rodrigues é suspeito de dois homicídios em Aparecida de Goiânia e outros dois crimes do mesmo tipo em Barreiras (oeste da Bahia), onde recai sobre ele a responsabilidade pelo crime de lesão corporal grave ao aposentado Mário Joaci Pereira Rocha, 71, que relatou que seus testículos foram perfurados oito vezes com agulhas e sem anestesia.

O médium foi denunciado por parentes das supostas vítimas nas delegacias de Aparecida de Goiânia, onde mantem um centro espírita chamado Grupo Espírita Bezerra de Menezes, e de Barreiras. As denúncias iniciaram na cidade baiana semana passada e esta semana em Aparecida de Goiânia. O médium realiza as cirurgias há 35 anos.

Segundo o advogado Daniel Rocha, “as pessoas que morreram já tinham o diagnóstico preexistente e na última hora foram procurar auxílio” com o médium. Ele negou também que Rodrigues tenha usado objetos perfurocortantes, como tesouras ou bisturis, nem muito menos martelo, como relataram à polícia os familiares das vítimas.

“Alguém que morreu tinha patologia preexistente, e buscou o recurso espiritual como última alternativa”, afirmou o advogado. Sobre o caso de Mário Joaci Pereira Rocha, o advogado Daniel Rocha disse que o médium relatou que não se recorda do idoso.

Em Barreiras, onde Mário Rocha foi operado, mais de 500 pessoas realizaram as cirurgias espirituais na chácara de uma vereadora em 10 de novembro de 2018, ao custo, segundo relatos à polícia, de R$ 850, referentes à consulta, cirurgia e medicamentos.

Entre elas estavam Vanderluce Soares dos Santos, 42, e Arnaldo Domingos dos Passos, 78, que morreram de infecção generalizada, respectivamente, nos dias 29 e 31 de dezembro de 2018 no Hospital do Oeste, em Barreiras.

“Fizeram uma alto-medicação [em Mário Rocha] e depois internou no hospital. Pode ter pegado uma infecção no hospital. Isso não procede de lesão corporal grave”, disse o advogado Daniel Rocha, em relação ao caso do idoso. O advogado negou também que houvesse cobrança de cirurgias.

“Se fosse pra cobrar, seria muito mais, como em hospitais normais”, declarou. “Ele usa agulha de acupuntura, não usa bisturi, tesoura, ele refutou essas alegações, até porque usa a prece. Pega no pulso da pessoa e faz um diagnóstico, como se fosse um raio-x”.

Também advogado do médium, Gilberto Alves negou que o médium usasse martelo nas cirurgias. Em entrevista á TV Anhaguera, de Goiás, e que foi ao ar nesta quinta-feira, o médium Antônio Rodrigues declarou que “as pessoas [pacientes] são médiuns e nem sabem, e chegaram a alcançar [a ver] o aparelho [martelo] de outro plano espiritual”.

“Fiz um tratamento sem cortes, uso as mãos e agulhas usadas pra aplicar insulina. As entidades espirituais aplicam energias nas pessoas por meio dessas agulhas e fazem desmaterializar as enfermidades. Queria ajudar muito as pessoas com a cirurgia espiritual, vou provar minha inocência”, disse o médium.

Na delegacia de Aparecida de Goiânia já apareceram mais casos de denúncia contra o médium nesta sexta-feira, segundo informou a delegada regional Cibelly Tristão, que não deu detalhes sobre se as denúncias são de homicídio ou lesão corporal.

Em Aparecida de Goiânia, as supostas vítimas fatais do médium são Sebastiana Peixoto Pires, 73, morta ano passado, e Raimunda Souza Matos, 52, falecida em 2015 dentro do centro espírita. O depoimento do médium deve ocorrer semana que vem.

O delegado Romero Cavalcanti, que investiga o caso em Barreiras, disse nesta sexta que esperava o depoimento de dois médicos que atenderam as supostas vítimas do médium, mas eles não apareceram. “Devemos ouvir o médium na semana que vem ou na outra”, declarou.