PGR pede que inquérito contra Pazuello sem foro privilegiado siga para primeira instância

Investigação foi aberta para apurar se houve omissão no colapso da rede pública de hospitais de Manaus

Publicado em 24 de março de 2021 às 14:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tony Winston/MS

Com a saída do governo, o general Eduardo Pazuello perdeu o direito ao foro por prerrogativa de função. A implicação jurídica da exoneração do cargo de Ministro da Saúde deve ser a redistribuição, para a primeira instância, da investigação aberta para apurar se houve omissão no colapso da rede pública de hospitais de Manaus, segundo pedido formalizado pela Procuradoria Geral da República (PGR) nesta quarta-feira, 24. A PGR pede que o caso passe a ser processado na Justiça Federal do Distrito Federal. Cabe ao relator do caso, ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, avaliar o requerimento. No tribunal, vigora o entendimento de que investigações só devem seguir na Corte quando os fatos sob investigação tiverem sido cometidos no exercício da função e enquanto durar o cargo ou mandato - o que pode inviabilizar as pretensões do governo em encontrar uma saída que garanta a manutenção do foro, como a nomeação para o comando da Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Como mostrou o Estadão, o inquérito pode levar a uma condenação do general da ativa e até mesmo, em última análise, à sua perda de posto e patente. Embora Pazuello seja general, o caso não deve ser remetido à Justiça Militar por se tratar de possível crime cometido na esfera cível. O inquérito foi aberto a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, após pressão de partidos políticos, de membros do próprio Ministério Público e da opinião pública. O PGR se manifestou em uma representação do partido Cidadania. Ao comunicar a abertura de inquérito, Aras disse ver 'possível intempestividade' nas ações de Pazuello, indicando que o então ministro da Saúde pode ter demorado a reagir à crise em Manaus. O próprio governo já admitiu ao Supremo Tribunal Federal que a pasta sabia desde 8 de janeiro da escassez de oxigênio para os pacientes na capital amazonense, uma semana antes do colapso. Aras considerou os fatos 'gravíssimos'. De acordo com a Procuradoria, o ministro da Saúde pode responder pelos fatos nas esferas cível, administrativa e criminal, caso seja comprovada sua omissão na crise em Manaus. O próprio Pazuello chegou a admitir o colapso na rede de saúde da capital amazonense. Após a declaração, o presidente Jair Bolsonaro afirmou já ter feito a sua parte. Segundo ele, foram enviados recursos e outros meios ao Amazonas para o enfrentamento da covid-19. No final de fevereiro, quando ainda estava à frente do ministério, o general chegou ser ouvido pela Polícia Federal. No depoimento, mudou a versão do governo e disse que só foi alertado às vésperas da crise em Manaus.