Pituaçu: vizinho tentou avisar família sobre risco de desabamento

Imóvel construído pelo sobrevivente Alex foi erguido para tirar família do aluguel

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  • Nilson Marinho

Publicado em 14 de março de 2018 às 02:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Rosemary, Arthur, Robert e Allan, vítimas fatais da tragédia em Pituaçu (Foto: Reprodução/Carol Aquino/CORREIO) Era início da manhã e havia chovido mais da metade do previsto para todo o mês de março, nesta terça-feira (13). Em um imóvel de quatro pavimentos construído de forma irregular na Rua Alto de São João, bairro de Pituaçu, em Salvador, sete pessoas da mesma família dormiam.

Um forte barulho vindo do local, já por volta das 5h30, chamou a atenção de vizinhos, que logo perceberam a tragédia que estava para acontecer. A edificação, erguida com muito suor pela família Pereira, de acordo com vizinhos, veio abaixo às 5h50, soterrando e matando quatro pessoas. 

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Rosemary Pereira, 34 anos, seus filhos Arthur, de apenas um ano, e Robert, de 12, além do irmão Allan Pereira, 31, estavam no térreo quando a construção desabou. Os quatro morreram depois de ficarem soterrados. No andar superior estavam Alex Pereira, 29, e a esposa Beatriz com a filha Sabrina, de apenas 11 meses, os únicos sobreviventes da tragédia. 

Minutos antes do imóvel cair, segundo relataram familiares das vítimas ao CORREIO, um dos vizinhos escutou um forte barulho vindo da casa. Preocupado, ele tentou avisar aos moradores que algo estranho estava acontecendo. Mas foi em vão, ninguém o escutou. Minutos depois, um outro barulho mais forte pode ser ouvido, dessa vez também por outros vizinhos. A casa tinha caído.

A partir daí, iniciava-se uma luta contra o tempo. Vizinhos e amigos se uniram para buscar possíveis sobreviventes. Todos se ajudaram tirando parte do que restou. Alex foi o primeiro a sair dos destroços. As equipes do Corpo de Bombeiros ainda nem tinham chegado no local.

Foi Alex também que ajudou na busca da mulher, da filha, dos irmãos e dos sobrinhos. Permaneceu, mesmo com arranhões no rosto, em meio ao que restou, tentando salvar os que ficaram soterrados. Alex (camisa preta), que construiu imóvel há dois anos, observa desolado o resgate de vítimas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Cunhado de duas das vítimas, Jonas Lima, 40, mora a poucos metros da residência e acordou com o barulho de um trovão. Foi até a janela de onde era possível ver a casa das vítimas. Avistou lá embaixo o vizinho tentanto avisar à família sobre o barulho estranho.   "Eu olhei para a casa antes de cair, só deu tempo de deitar na cama de volta e a casa desabou. O vizinho tentou avisar, bateu na porta, gritou 'Leco (Alex), Leco! Allan', mas ninguém atendeu. Ele foi em casa calçar um sapato para retornar e avisar novamente, mas não deu tempo", conta o cunhado. Alex, de acordo com o cunhado, tinha trabalhado e economizado para erguer o prédio, construído há 7 anos. A residência foi feita para tirar os irmãos, Rosemary e Allan, do aluguel. 

Encontro Alex foi forte. Permaneceu no local até as 8h, antes de ser atendido por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e ser encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde já estavam a sua esposa Beatriz e a filha Sabrina, ambas resgatadas dos escombros com vida por moradores e por ele.

Durante o tempo que permaneceu no local do desabamento, era de Alex que o restante da família queria escutar a confirmação de que as outras vítimas estavam vivas. Antes de seguir para a ambulância do Samu, ele se encontrou com a mãe, Iara Pereira, 58, que da janela de uma das casas próximas ao desabamento acompanhava toda a operação de resgate.   "Cadê os meninos, Alex? Estão lá embaixo?", perguntava Iara enquanto era abraçada pelo filho. "Estão sim, mainha, mas eles vão sair com vida. Deus está com a gente. Temos que ter esperança até o último minuto", tentava consolar a mãe, que ainda não sabia que o neto, Robert, já havia sido resgatado sem vida. Tensão"Silêncio, silêncio", gritavam os bombeiros quando algum ruído surgia em meio aos escombros. Eles queriam escutar se as vítimas soterradas ainda estavam vivas gritando por socorro. Mas ninguém escutou nada. Àquela altura todos já estavam mortos. 

O silêncio só foi quebrado quatro vezes. Eles usavam um apito para aletar que as vítimas foram encontradas. Foi assim no resgate de Arthur, de Allan e de Rosemeire.  

A princípio, no resgate de Allan, dois familiares foram fazer o reconhecimento do corpo no local. Todos afirmaram às autoridades que o corpo não era dele. A dúvida só acabou quando a mãe, Iara, foi até o rabecão pedir para fazer o reconhecimento do filho. Ela teve certeza de que se tratava de Allan.