Plano Safra agrada produtores da Bahia

Novas regras e valores não chegam a amenizar o clima tenso entre o setor e o governo, mas atendem algumas reivindicações antigas

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  • Georgina Maynart

Publicado em 8 de junho de 2018 às 16:47

- Atualizado há um ano

Apesar dos recentes embates envolvendo o governo federal e o setor agropecuário no que diz respeito aos altos valores do frete e do diesel, representantes do agronegócio baiano viram com bons olhos o anúncio do Plano Agrícola e Pecuário 2018/2019, o chamado Plano Safra, lançado esta semana pelo governo. As novas regras e valores não chegam a amenizar o clima tenso entre as duas partes, mas atendem algumas reivindicações do setor produtivo.

Pelo menos estas são as impressões passadas por muitos produtores rurais e representantes de entidades e órgãos públicos ligados à área aqui no estado. A começar pelos piscicultores, incluídos pela primeira vez no Plano Safra. Muitos deles estão otimistas com a possibilidade de obter financiamento para o custeio da produção.

O presidente de uma das maiores associações de pesca da Bahia, a Associação de Piscicultura do Distrito Irrigado do Projeto São Desidério e Barreiras Sul, Salvador Custódio Farias Filho, reconheceu como avanço a medida: “É um bom começo, nós éramos esquecidos, jogados de lado. A inclusão no Plano Safra mostra a força da nossa piscicultura”.

Mas Custódio espera que esta medida facilite a resolução de outros problemas que afligem o setor: “A questão do custeio da alimentação, da compra da ração, por exemplo. Os financiamentos não incluíam este item, era muito difícil. Talvez agora com a inclusão no Plano Safra esta questão seja facilitada”.

Outros grandes entraves são o armazenamento e o escoamento do pescado. A maioria dos piscicultores não tem espaço para guardar a produção e enfrenta dificuldades na comercialização e no transporte.

“A gente precisa de incentivo em todo os sentidos, tanto na construção dos bercários como na manutenção, para pagar a alimentação, para a limpeza dos tanques nas piscinas de criação. Outro problema é a comercialização do peixe. Aqui em Barreiras não tem nenhuma unidade de beneficiamento de pescado num raio de 100 quilômetros. Assim a produção acaba sendo vendida diretamente em qualquer mercado”, acrescenta Custódio. A Associação de São Desidério e Barreiras Sul reúne cerca de 220 piscicultores que produzem anualmente 600 toneladas de peixe no sistema de lote irrigado, principalmente, tambaqui, tilápia e pirarucu.

Na Bahia, a atividade da piscicultura envolve cerca de 5 mil famílias em várias partes do estado, principalmente na região norte, entre os municípios de Glória e Paulo Afonso, no Baixo Sul, nas áreas do Médio Paraguaçu, e no Oeste.

Já o presidente da Bahia Pesca, Eduardo Rodrigues, considerou a inclusão oportuna porque “a Bahia Pesca vai poder direcionar, junto com os bancos, projetos produtivos de piscicultores para os financiamentos”. Segundo ele, a Bahia Pesca, que é o órgão estadual de fomento a piscicultura, poderá nortear a inserção deste público junto aos agentes financiadores. “O trabalho da Bahia Pesca já vai ser feito normalmente, daí a gente vai discutindo, caso a caso, com o banco”, disse Rodrigues.

De acordo com as diretrizes anunciadas pelo governo através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os juros serão de 7% a.a para os financiamentos de custeio de piscicultura integrada. O limite de financiamento será de R$ 200 mil por beneficiário e de R$ 500 mil para cooperativas.

Solicitações antigas

Produtores rurais do Oeste da Bahia, reunidos na Feira “Bahia Farm Show”, em Luis Eduardo Magalhães, também se manifestaram esta semana em relação às alterações no Plano Safra, algumas já eram antigas solicitações do setor.

“Num momento difícil de crise, aumentar esta possibilidade de crédito e diminuir a taxa de juros já é uma ajuda para que o setor consiga fazer uma outra grande safra no próximo ano”, destacou Júlio Cézar Busato, Presidente da Associação de Produtores de Algodão do Oeste da Bahia (Abapa).

O Plano Safra é sempre muito esperado pelos agricultores porque são poucos os produtores rurais que trabalham com 100% de capital de giro próprio.

O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba), Luiz Pradella, ressaltou que a medida é importante para que o agricultor planeje com antecedência e tenha possibilidade de fazer negócios à vista. “Porque o produtor toma este empréstimo, vai no mercado, faz uma compra à vista, se organiza melhor, alavanca os instrumentos que precisa para produzir, como insumos, fertilizantes e sementes, e daí pode voltar mais rapidamente para o operacional, que é a atividade do agricultor na propriedade”.

E acrescenta: “O produtor já definiu o que vai plantar o ano que vem na próxima safra e as áreas. Então já está comprando agora com antecedência. Este custeio, esta verba para investimento vem em boa hora, porque já é o momento de fazer bons negócios e contratações sabendo o formato que necessitará implantar para saldar os investimentos”.

Tanto planejamento tem um motivo simples: a safra de muitos alimentos no Brasil, assim como nos outros países da América do Sul, começa num ano e termina no outro. É o caso do plantio da soja na região do MATOPIBA, que abrange parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e 30 municípios do Oeste da Bahia. O plantio é realizado nos meses de outubro a novembro, enquanto a colheita vai de janeiro a março.

Acesso

Os recursos do Plano Safra 2018/2019 vão poder ser acessados pelos agricultores entre 1º de julho deste ano e 30 de junho de 2019. Mais de R$ 194 bilhões em créditos rurais vão ser disponibilizados para financiar a produção agropecuária brasileira. As taxas de juros são de 6% ao ano para os médios produtores rurais (com renda bruta anual de até R$ 2 milhões), e de 7% ao ano para os outros.