PM reforça policiamento, mas população segue com medo no Nordeste de Amaralina

Cabo da PM foi morto e torturado no final de semana; SSP apura retaliações

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  • Bruno Wendel

Publicado em 12 de junho de 2018 às 13:59

- Atualizado há um ano

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Final de linha da Santa Cruz, 10h50. Uma fileira de ônibus à direita da pista intensificava ainda mais o trânsito caótico. "É porque viaturas ocuparam parte do final de linha", disse um dos rodoviários. Desde o início da manhã desta terça-feira (12), unidades do Batalhão de Choque da Polícia Militar se posicionaram no bairro.

No Vale das Pedrinhas, a presença policial era feita por viaturas da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Nordeste de Amaralina), responsável pelo policiamento ostensivo no complexo. "A determinação da Secretaria da Segurança Pública é sufocar o tráfico de drogas local e continuaremos 24h no bairro patrulhando", explica o comandante da Rondesp Atlântico, major Edmundo Assemany, em referência às áreas da Santa Cruz e do Nordeste de Amaralina. 

A medida vale para os bairros que formam o complexo (Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas, Santa Cruz e Chapada do Rio Vermelho). A decisão aconteceu depois que o cabo da PM Gustavo Gonzaga da Silva, 30 anos, foi morto no final de semana. Morador de Santa Cruz, o policial foi torturado antes de ser assassinado. 

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Era por volta das 7h desta terça-feira (12) quando a tropa do Batalhão de Choque chegou ao final de linha de Santa Cruz. Um PM posicionado ao lado de um mercadinho disse que, apesar da tensão, a situação está sob controle. "Até agora não tivemos nenhuma alteração. Está tudo tranquilo", disse o PM ao CORREIO. 

Mesmo com a presença da polícia, comerciantes não escondiam o medo. "A gente sabe que os policiais não ficarão constantemente. Terão que sair. E a gente, vai ficar como?", questionava a dona de um salão de beleza.

O CORREIO conversou com um dos cobradores que rodam no local. "Moro aqui no bairro. Aqui sou cego, surdo e mudo", declarou o cobrador, ao evidenciar a lei do silêncio que impera no local.

Apesar do medo, uma empregada doméstica de 55 anos afirmou, sem se identificar, que o medo aumentou desde que o PM foi morto e houve reforço das ações da corporação na Santa Cruz. "É pânico porque está todo mundo triste com a situação e a polícia está tirando jovens de dentro de casa, matando na frente dos familiares. Por sinal, teve o ocorrido com um adolescente que era usuário de drogas e a polícia invadiu e matou com três tiros na frente dos pais, pegou a arma, colocou na mão do menino e atirou pra porta pra dizer que foi o menino que atirou primeiro, quando não foi verdade. Tá todo mundo assim, em pânico", comentou uma empregada doméstica de 55 anos.

Segundo ela, a irmã, que também tem dois filhos jovens, não saiu para trabalhar nesta terça com medo que algo acontecesse.

Sobre a denúncia, a informou que "não tem conhecimento de denúncia desta natureza na região do Nordeste nos últimos dias e os relatos citados não possuem dados suficientes para formalizar um procedimento apuratório". A PM disse ainda que disponibiliza o telefone 0800 284 0011 para que sejam feitas denúncias à Ouvidoria sobre possíveis condutas inadequadas de integrantes da corporação. O sigilo da fonte é garantido.

Já esteve pior Apesar da situação, alguns moradores disseram que já tiveram dias piores e que a rotina já está mais calma. "O bicho pegou aqui foi no sábado e domingo. Até ontem (segunda), o clima aqui era mais crítico. Hoje, a situação está mais tranquila, porém a gente fica um pouco cauteloso", disse o dono de uma banca de frutas.

A opinião dele é compartilhada com um vendedor de uma loja de sapatos. "Essas mortes, esse policiamento todo na região do Nordeste, já virou rotina. O pânico é só nos primeiros dias, momentos. Acabamos nos acostumando", declarou o rapaz. 

Vale das Pedrinhas Na entrada do Vale das Pedrinhas, viaturas da 40ª CIPM foram posicionadas estrategicamente. "Estamos intensificando as operações sem prazo determinado. Hoje, quatro homens entraram em confronto com nossas guarnições, mas infelizmente não resistiram", diz o major Amilton Souza Teixeira Júnior, comandante da 40ª CIPM.

Na madrugada desta terça, quatro homens foram mortos por policiais nos bairros de Santa Cruz e Vale das Pedrinhas. "Todos tinham envolvimento com o tráfico e tinham passagem na polícia", afirma o comandante.

A morte do cabo Gustavo ainda é investigada pela Força Terafa da Secretaria da Segurança Pública (SSP), que apura retaliações de policiais e ações de grupos de extermínio que contribuíram para o recorde de mortes num final de semana este ano: 30, no total. "Acredito que logo chegaremos a todos os envolvidos (nas mortes do PM). Ainda não dá para dizer se esses que morreram no confronto de hoje têm ligação com a morte do cabo", finaliza o comandante.

*Colaborou Naiana Ribeiro.