PMs que faziam escolta de ciganos que mataram empresário são presos

O crime aconteceu no feriado de Finados, no Condomínio Planeta Água, em Barra do Jacuípe

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  • Diogo Costa

Publicado em 12 de novembro de 2015 às 23:26

- Atualizado há um ano

Enquanto os irmãos ciganos Evanilton e Fábio Ribeiro, de 32 e 40 anos,  acusados pela morte de um empresário em Barra do Jacuípe, se entregavam na 26ª Delegacia (Abrantes), quatro homens em um Hyundai Tucson ficaram na porta da unidade policial. Desconfiados, os agentes abordaram o quarteto — três eram PMs, um da reserva.

“Com eles foram apreendidos um revólver 38, uma arma 12 com numeração raspada e uma pistola”, disse a delegada Danielle Monteiro. Segundo ela, os PMs faziam escolta dos ciganos. A morte do empresário Ademir Martins dos Santos, 60, aconteceu no feriado de Finados, no Condomínio Planeta Água, em Barra do Jacuípe.

Os ocupantes do veículo eram Orlando Carvalho da Silva, sargento aposentado da PM, Wllysses Ferreira Fontes, soldado da 81ª CIPM (Itinga) e Arthur dos Santos Castro Júnior, da 50ª CIPM (Sete de Abril). O quarto homem, filho de ciganos, não teve o nome divulgado. A PM informou que Orlando e Wllysses “estão custodiados em Lauro de Freitas” e que o soldado Arthur foi liberado porque a arma dele estava registrada. Ainda segundo a corporação, a Corregedoria da PM irá apurar o envolvimento dos policiais com os ciganos.Irmãos foram presos ao se apresentarem(Foto: Almiro Lopes/CORREIO)Ainda de acordo com a delegada, o empresário - que saía da casa de amigos com a esposa, filho, nora e neta no momento do crime - foi vítima de execução. "A vítima não morreu com bala perdida. Foram diversos disparos desferidos no tórax da vítima . Ele morreu na presença do filho, da nora e de uma criança de 6 anos. Ele foi executado friamente na presença da família", disse a delegada.

Ademir estava no banco do carona do Gol prata dirigido pelo filho Wallace Santos de Almeida, 35. A nora, Roberta Oliveira dos Anjos, 31, a esposa de Ademir, Ana Selma Santos Almeida, 53, e a neta de 6 anos estavam no banco traseiro do veículo. Wallace e Roberta também foram atingidos. Wallace dava marcha à ré no veículo da família quando um Corsa prata passou pelo local em alta velocidade e o motorista dá o primeiro cavalo de pau.

Na entrada da rua, o condutor do Corsa faz uma nova manobra, obstruindo a passagem. Nesse momento, segundo a delegada, começam os disparos que acertaram o veículo ocupado pela família e o motorista do Corsa foge. "Ainda não identificamos quem era o condutor do Corsa nem o paradeiro, mas acreditamos que também era cigano", disse a delegada. 

Ao todo, foram mais de 60 tiros disparados contra o carro do empresário, duas casas do condomínio e um outro veículo que passava pelo local. A perícia feita no local do crime recolheu mais de 30 estojos de munição para calibre 9 mm. Segundo a delegada, os disparos continuaram mesmo após o carro de Ademir, que já estava baleado, entrar para dentro de uma garagem."Mesmo depois de deflagrarem diversos disparos contra o carro, eles continuaram atirando com o portão já fechado", disse a delegada. Na apresentação, os dois acusados se disseram arrependidos e afirmaram que a falta de luminosidade na rua não permitiu distinguir os automóveis.

Durante a apresentação na sede da Polícia Civil na tarde de hoje, Fábio disse que no dia do crime estava em sua casa, dentro do condomínio, quando o motorista de Corsa prata deu cavalo de pau na frente do imóvel. A esposa de Fábio, que está grávida, teria se assustado e caiu no chão. Nesse momento, o cigano pegou uma arma e disparou diversas vezes na direção do carro do empresário. Evanilton e José Batista de Melo, tio dos ciganos, também efetuaram outros disparos. José ainda continua sendo procurado pela polícia. Os irmãos serão encaminhados ao sistema prisional.

"Um carro (Corsa) deu um cavalo de pau na porta da minha casa, quando minha esposa caiu e começou a me gritar. Quando eu saí, eu xinguei ele, ele me xingou, e o motorista (do Corsa) começou a dar outro cavalo de pau contra mim. Não sei quem estava no carro. Eu não vi que o carro dele (Ademir) estava perto", disse Fábio.  Ainda de acordo com Danielle, as imagens do circuito de segurança da casa dos ciganos foram solicitadas, através de ordem judicial, mas as câmeras estavam danificadas.Ciganos mataram empresário no feriado de Finados(Foto: Divulgação/Polícia Civil)OperaçãoPor volta das 15h, policiais da 26ª Delegacia (Abrantes),  da Coordenação de Operações Especiais (COE-PC), Rondesp/RMS, e das 52ª, 59ª e a 81ª Companhias Independentes de Polícia Militar deflagraram uma operação em comunidades ciganas de Camaçari para cumprir os mandados de prisão temporária. Às 17h30, os irmãos se apresentaram na 26ª Delegacia (Abrantes) acompanhados de um advogado.

Eles apresentaram uma pistola 9 mm, de uso restrito do Exército, utilizada no dia do crime. A arma será encaminhada para perícia.Dois dias após o crime, um adolescente de 17 anos, sobrinho dos ciganos, se apresentou na delegacia como autor do crime. Segundo a delegada, os investigadores desconfiaram da história, já que as características dos criminosos descritas pelas testemunhas não coincidiam.

O rapaz alegou ter utilizado uma pistola 380 para efetuar os disparos, diferente dos cartuchos coletados pela perícia. De acordo com a delegada, a apresentação do menor foi uma tentativa de despistar o crime, mas surtiu efeito contrário. "Vimos que nas redes sociais ele postava fotos com carros que estavam no nome dos autores do crime, tinham fotos com eles. Isso facilitou que confirmássemos a identidade dos acusados", disse.

[[saiba_mais]]Relembre o casoO CORREIO conversou com o pai da nora do empresário, Roberto dos Anjos, 65 anos. De acordo com Roberto, No início da noite do dia 02, por volta das 18h, Ademir e os quatro familiares saíram da garagem, no Gol prata do empresário, para voltar para casa. Wallace ia ao volante e Ademir, no carona. Nesse momento, eles perceberam um Corsa passar rápido pela rua, que estava mal iluminada e cheia de buracos.

Ainda segundo Roberto, logo em seguida, o Corsa deu um cavalo de pau e duas crianças saíram dele chorando. As crianças correram para uma casa localizada no início da rua, que seria habitada por um grupo de ciganos. Os dois homens que estavam dentro do carro, que também seriam ciganos, desembarcaram e começaram a xingar outros dois homens que saíram da casa onde as crianças entraram.

Todos estavam armados. Roberto não soube informar se houve troca de tiros entre os homens, mas afirmou que nesse momento nove disparos atingiram o carro onde a família de Ademir estava. De acordo com os familiares, os tiros foram disparados pelos ciganos que saíram da casa. Ainda segundo o relato de Roberto, durante os disparos, a família se abaixou e Selma pediu para o filho, que dirigia tirar o carro dali. O filho, então, respondeu "Antes, preciso me acalmar". Nesse momento, Ademir interrompeu o diálogo e falou: "Meu filho, estou morrendo...".

Sem que ninguém tivesse notado, o empresário havia sido atingido pelos disparos e morreu logo em seguida. Segundo a família, o corpo apresentava oito perfurações. Roberta foi atingida no braço, enquanto Wallace foi baleado no punho direito e nas costas. Selma e a criança não foram atingidas. Os ciganos fugiram logo após os disparos.

Roberta e Wallace foram socorridos para o Hospital de Camaçari, de onde Roberta já recebeu alta. Wallace foi transferido para o Hospital do Aeroporto, onde passou por uma cirurgia.  Ademir foi enterrado na quarta-feira (4), no Cemitério Bosque da Paz.