Polícia procura autor de homicídio em bar na Fazenda Coutos

Daniel Marinho, suspeito de matar Rodrigo Abreu a facadas, teve prisão solicitada; testemunhas dizem que crime foi motivado por homofobia

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  • Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2019 às 11:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução e Divulgação/Polícia Civil

Daniel Marinho Paixão é suspeito de matar Rodrigo Abreu Santos (Reprodução e Divulgação/Polícia Civil) A Polícia Civil (PC) divulgou nota nesta terça-feira (19) informando que está à procura Daniel Marinho Paixão, acusado de assassinar Rodrigo Abreu Santos, de 23 anos, no dia 1° de novembro, em Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. O homicida teve a prisão solicitada à Justiça pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), que apura o crime.

De acordo com a delegada Clelba Teles, titular da unidade policial, Daniel, que é conhecido pelo apelido de "Quatro Olhos", fugiu logo após o crime, ocorrido num bar, na região da Lagoa da Paixão. A prisão temporária dele foi deferida pelo 1° Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri. Testemunhas ouvidas pelo CORREIO dizem que o crime foi motivado por homofobia.

"Qualquer informação que possa auxiliar na prisão de Daniel pode ser encaminhada à polícia por meio dos telefones do Disque Denúncia, 3235-000, em Salvador, e 181, no interior. Não é necessário identificar-se", diz a nota da PC. Polícia procura Daniel Marinho Paixão, acusado de assassinar Rodrigo Abreu Santos; ele é conhecido pelo apelido de 'Quatro Olhos' e fugiu logo após o crime (Foto: Divulgação/Polícia Civil) ‘O que é que você quer, viadinho?' Antes de ser morto com uma facada no pescoço, Rodrigo Abreu Santos, 23 anos, pagou um litrão de cerveja para o assassino. O bandido, que ainda não foi identificado pela polícia, também pediu R$ 10 ao jovem, que bebia no Bar da Negona, em Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.  Rodrigo tinha 23 anos e trabalhava com serviços de estética (Foto: Acervo Pessoal) Rodrigo havia acabado de retornar de Madre de Deus, na Região Metropolitana, acompanhado do amigo, Herick Deivid Santos, 22, na noite da última quinta-feira (31). Decidiram tomar uma cerveja. Chegaram no bar por volta das 23h, quando só havia a proprietária e a companheira. 

À reportagem, Herick contou que viu quando o bandido surgiu, já na madrugada, e cerca de duas três horas depois, matou o amigo. Em seguida, quando as vítimas buscavam ajuda com policiais que passavam em uma viatura, disse ao policial: “Que nada, isso é briga de viado”, revelou a testemunha, ao defender que o crime foi motivado por homofobia.

“Ele e outro deram boa noite quando chegaram e, pouco depois, pediram uma cerveja. Nós pagamos por educação. Em seguida, mais R$ 10 e falamos que a gente não ia dar, porque já havíamos dado a cerveja”. A partir daí, lembra, o criminoso, que aparenta 28 anos, iniciou uma sessão de agressões verbais.

À reportagem, a Polícia Civil afirmou que o crime é investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios Bahia de Todos os Santos (DH/BTS). “A autoria e motivação a serem esclarecidas”, resumiu a pasta.

‘Briga de viado’ Antes da morte, e após a série de xingamentos, os jovens chegaram a se explicar ao agressor: “A gente não tem obrigação de pagar mais nada, temos a nossa conta, também, não vamos dar. E ele: O que é que você quer, viadinho? Hein, viadinho?”, falou para ele [Rodrigo]”.  Rodrigo foi atacado em bar (Foto: Acervo pessoal) Herick destaca que embora não tenha tantas informações sobre o homem, “todo mundo disse que não foi a primeira vez que ele tratou um gay assim, tanto que judiou, falou ao policial que a briga tinha acontecido entre nós, e fugiu”. 

Ele conta que tudo aconteceu muito rápido. No momento em que foi até o caixa pegar o cartão de crédito, ouviu gritos: “Era a mulher do bar. Ele já estava ferido”, lamenta, ao resumir o momento em que viu o amigo implorar por socorro. “Ele disse: ‘Me ajuda, por favor’”. 

E resolveu quebrar uma garrafa para atingir o agressor, que correu com a faca na mão. Quando viu que não alcançaria o homem, apoiou Rodrigo no ombro e foi até a pista principal do bairro, onde abordou uma viatura da Polícia Militar. 

Comoção A vítima foi levada para o Hospital do Subúrbio, mas teve morte cerebral. Rodrigo foi enterrado na manhã desta sexta-feira (8), sob clima de pesar e comoção. Filho mais velho de dona Geovania Maria, Rodrigo estava feliz, segundo Herick Deivid. 

Atualmente, dividia o tempo entre fazer unha e ir ao terreiro de candomblé onde era “feito”. “Nós éramos irmãos de axé, mas nos aproximamos na vida adulta. É muito triste ter visto e vivido aquilo”. 

Inconsolável, a mãe do jovem preferiu não falar com a reportagem. Consolada pelos familiares, Geovania, que também tem uma filha de 21 e um garoto de quatro, permaneceu debruçada no caixão do mais velho durante todo o sepultamento, realizado nesta manhã, no Cemitério Municipal de Plataforma.

Por todos os lados, cartazes estampavam o sentimento de dor e indignação daqueles que perderam o jovem para por razões que sequer conseguem compreender. “Por que? Eu só queria saber o porquê? A gente que façam alguma coisa, porque nada, neste mundo, vai trazer meu menino de volta, mas esse homem precisa pagar”, desesperou-se. 

Ao final do cortejo, familiares e amigos chegaram a realizar um ato na via principal de Plataforma. Apenas os pedidos de justiça sobressaíram em meio às lágrimas.

Secretaria de Justiça lamentou A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) emitiu nota de pesar pela morte do jovem e da transexual Ana Paula dos Santos, encontrada sem vida em Jequié, também na semana passada.

“A SJDHDS lamenta profundamente a perda de duas vidas por crimes de ódio. Na última segunda-feira (04), a jovem Paula dos Santos, mulher transexual, foi encontrada morta no município de Jequié. Nesta quinta-feira (07), o jovem Rodrigo Santos, vítima de um ataque brutal no bairro de Fazenda Coutos, também faleceu.  A SJDHDS, por meio da sua Superintendência de Direitos Humanos, está acompanhando os casos junto ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Secretaria de Segurança Pública (SPP-BA). Mais uma vez, reafirmamos o compromisso do Governo do Estado com a promoção da igualdade, do respeito e da cultura de tolerância. Estes fatos devem ser investigados e punidos de maneira exemplar. Preocupa o aumento expressivo da violência contra a população LGBT motivadas pelo discurso de ódio, que teve um crescimento exponencial no último ano. Novamente, lembramos que desde junho de 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal, a homofobia é considerada crime. Os ministros do Supremo determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito”