Politização da prisão de Ronaldinho envolve Moro e demissão de assessor paraguaio

Presidente da República, Mario Abdo Benítez, garantiu que a investigação seguirá "caia quem cair"

Publicado em 11 de março de 2020 às 08:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Norberto Duarte/AFP

A prisão de Ronaldinho Gaúcho e seu irmão Roberto Assis ganhou contornos políticos no Paraguai. O ex-chanceler Rubén Melgarejo Lanzoni demitiu-se do cargo de assessor geopolítico e questões internacionais do Ministério do Interior após ser revelado que a empresária Dalia López, apontada como parte do esquema de falsificação de documentos, havia contratado um escritório de advocacia ligado a ele.

Já o presidente da República, Mario Abdo Benítez, garantiu que a investigação seguirá "caia quem cair". Ele chegou a declarar na terça-feira sentir "enorme dor" pela prisão do pentacampeão mundial com a seleção brasileira. "Não posso negar que me provoca enorme dor o que está acontecendo com uma estrela do futebol. Meus filhos querem ir à prisão para tirar fotos com ele", disse em entrevista ao canal Noticias Paraguay.

Tudo isso depois de o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, ligar para o Paraguai pedindo explicações sobre a prisão de Ronaldinho Gaúcho, que é embaixador do Turismo do governo Bolsonaro. Na terça-feira, Moro soltou nota oficial na qual confirma que manteve contato com autoridades paraguaias. "Em nenhum momento houve interferência na apuração promovida pelo Estado paraguaio. O Ministério da Justiça e Segurança Pública preza pela soberania dos Estados e pela independência dos órgãos judiciários".

Na terça-feira, inclusive, a ministra da Justiça do Paraguai, Cecilia Pérez, anunciou que Moro visitará o país no próximo dia 27 no "âmbito da cooperação penitenciária" que é realizada com Brasil. A viagem de Moro também foi debatida na terça-feira em reunião entre o presidente do Supremo Tribunal de Justiça do Paraguai, Alberto Martínez Simón, e o embaixador brasileiro, Flávio Damico.

Ainda na terça-feira, a Polícia Nacional prendeu três funcionários públicos no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, na cidade de Luque: dois servidores da Direção Nacional de Aviação Civil (Dinac) e um funcionário da Direção Geral de Migração. O trio estaria envolvido no esquema de falsificação de documentos no qual Ronaldinho Gaúcho e o irmão foram pegos. Na segunda já havia sido detido um outro servidor do setor de Migração.

Os advogados de Ronaldinho Gaúcho apontaram que o Ministério Público paraguaio trata ele e o irmão com discriminação pelo fato de serem estrangeiros. O MP rebateu. "Tal coisa não existe. O Paraguai é um país legalmente soberano e essa soberania deve ser imposta. Contamos com fatos e argumentos sólidos para apoiar a prisão preventiva. Além disso, existe o perigo de fuga devido à falta de raízes dos réus no Paraguai", disse o promotor Marcelo Pecci.

Após ter o pedido de transferência para prisão domiciliar negado na terça-feira, os advogados de Ronaldinho Gaúcho trabalham para recorrer à Segunda Instância. A defesa alega que o ex-jogador não sabia que o passaporte que deram a ele havia sido adulterado Ronaldinho e o irmão estão detidos desde sexta-feira em um presídio de segurança máxima na capital paraguaia.

A Justiça determinou que eles precisavam permanecer presos durante a investigação. O inquérito pode durar até seis meses para ser concluído, de acordo com as leis paraguaias.