Polo de Camaçari perdeu R$ 86 milhões só com navios atracados em 2017

Diante de desafio da falta de infraestrutura, sessão especial celebrou 40 anos do complexo industrial

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  • Milena Hildete

Publicado em 19 de junho de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO O Polo de Camaçari fará aniversário no próximo dia 29 com um número que entrega a falta de infraestrutura no estado com a qual tem a indústria tem convivido nas últimas quatro décadas. No ano passado, o complexo perdeu pelo menos R$ 86 milhões com o pagamento de estadias de navios internacionais no Porto de Aratu, o qual não tem a devida capacidade de escoamento da produção, como explica o superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira.

"O Porto de Aratu, por exemplo, é muito deficiente. Ele não tem condições de carregar ou descarregar muitos navios. E quando um navio fica muito tempo parado, a gente tem que pagar estadia. Esse dinheiro que se perde encarece muito os produtos e faz com que a gente não consiga competir com outras empresas", pontua ele.

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Diante desse quadro, o complexo industrial pagou R$ 95 mil pela diária de cada navio atracado no porto, em 2017. O superintendente destaca como principais problemas no momento vivido pelo Cofic, além dessa falta de infraestrutura no porto, a ausência de uma ferrovia no estado, a questão da matriz enérgica e a alta carga tributária.

Durante sessão especial em homenagem aos 40 anos do Polo, na manhã desta segunda-feira (18), Pereira falou sobre os desafios que a indústria baiana enfrenta com a falta de infraestrutura. "Nesse aniversário do Polo, temos grandes planos para atingir. Queremos fazer com que o investidor nacional e internacional enxergue o Polo de Camaçari como uma oportunidade de investimento", disse.

Presidente da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usoport), Paulo Villa afirma que o Porto de Aratu precisa de quatro novos berços – locais onde o navio atraca e faz a carga e descarga. "Todos os portos da Bahia precisam ser ampliados. O Porto de Aratu já está com a capacidade saturada há muito tempo", conta ele.

Ainda segundo Villa, a falta de espaço para os navios retira a competitividade das empresas instaladas no Polo."Isso impede a expansão da economia baiana, porque não dá para competir com as empresas internacionais", completa ele.Sugestões Na ocasião, Mauro Pereira falou sobre o estudo que vai identificar novas oportunidades de crescimento e apontar os entraves para o desenvolvimento da região. De acordo com ele, a pesquisa vai ficar pronta já no mês que vem.

"Há dez anos nós também fizemos uma agenda de propostas para os governos estaduais e federal e os resultados foram muito satisfatórios. Nossa intenção não é apresentar problemas e, sim, falar sobre nossa realidade. Queremos atualizar as propostas que a gente já fez ao estado, pensando principalmente nessa questão da infraestratura", especificou.

Já Paulo Villa afirma que a construção de quatro novos berços no Porto de Aratu custaria R$ 400 milhões. Esse dinheiro, segundo ele, seria fornecido pelas empresas interessadas. "O dinheiro para construir esses berços são da iniciativa privada", reforça.

Sessão A sessão especial que homenageou os 40 anos do Polo Industrial de Camaçari aconteceu na Câmara Municipal da cidade que fica na Região Metropolitana de Salvador. O encontro reuniu vereadores, parlamentares, empresários e membros de sindicatos locais. Sessão especial na Câmara de Camaçari marcou 40 anos do Polo Industrial (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A deputada licenciada e secretária do Desenvolvimento Econômico do Estado, Luiza Maia, foi uma das palarmentares que esteve na sessão. Na ocasião, ela destacou a potência econômica de Camaçari que é alavancada pela presenla do Polo. "Apesar do momento delicado que estamos passando, o Polo contribui para o nosso Produto Interno Bruto da Bahia (PIB). Por isso, o Polo não pode sofrer ameaças", comentou.

A pedido do CORREIO, o superintendente da Cofic, Mauro Pereira, listou os principais gargalos e dificuldades enfrentadas pelas indústria do Polo: Reforma do Porto de Aratu - A falta de espaço para receber os navios no Porto de Aratu faz com que os navios carregados fiquem atracados no mar. A espera de um navio custa pelo R$ 95 mil por dia para a indústria local. Ferrovia - A falta de ferrovia do estado da Bahia faz com que as mercadorias cheguem apenas com caminhões. De acordo com Mauro, o modal ferroviário teria um custo menor para a indústria. "Nos países mais desenvolvios os trens entram nas empresas e pegam os materiais", diz ele Matriz energértica - De acordo com Mauro, o Brasil tem uma das energias mais altas muito. Segundo ele, isso é completamente "desfavorável" para a indústria.  Carga Tributária - Ainda segundo Mauro, o país cobra altas taxas de impostos e isso também ajuda a encarecer os produtos. Polo Industrial O Polo Industrial de Camaçari foi inaugurado em 29 de junho de 1978 e, atualmente, é responsável por 20% do PIB da Bahia. O complexo gera R$ 1 bilhão por ano em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), e fatura 15 bilhões de dólares anualmente. O ativo total é de 20 bilhões de dólares, sem considerar a infraestrutura.

O montante é fruto de uma evolução que em 2008 era de 12 bilhões de dólares, em 2011 saltou para US$ 16 bi, e em 2016 para US$ 18 bi. Atualmente, o local é responsável por mais de 30% de todas as exportações do estado.

Dentre as empresas que fazem parte do Polo, 35 são unidades industriais químicas e petroquímicas, e 23 parceiras no Complexo Ford. As demais estão nos segmentos de metalurgia do cobre, têxtil, bebidas, celulose, pneus, fertilizantes, energia eólica, bebidas e serviços (incluindo logística).

A localização estratégica do Polo, a 50 quilômetros de Salvador, permite fácil acesso às indústrias através das rodovias BA-093, BA-535 (Via Parafuso), Canal de Tráfego, ferrovias, portos e aeroportos. As indústrias locais são responsáveis por empregar 15 mil funcionários, além de gerar outros 30 mil empregos indiretos.