Ponte Preta é o único time das séries A e B com presidente negro

"É uma fotografia do Brasil", diz dirigente

Publicado em 20 de novembro de 2019 às 12:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Luiz Guilherme Martins / Ponte Preta

Um levantamento publicado pelo Globoesporte.com nesta quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra, revela que só um clube entre os 40 das séries A e B do Campeonato Brasileiro tem um negro na presidência. Trata-se da Ponte Preta, dirigida por Sebastião Arcanjo.

Tiãozinho, como é conhecido no meio, assumiu o time paulista há apenas duas semanas, após renúncia de José Armando Abdalla por problemas de saúde. A Ponte Preta é a 13ª colocada da segunda divisão nacional.

“Penso que existe uma lacuna fora das quatro linhas nesse sentido, um vazio a ser preenchido. É uma fotografia do Brasil. É preciso evitar que esse problema seja exclusivamente dos ex-atletas, jogadores e profissionais negros e negras do futebol. Isso exige uma agenda que busque responder o déficit no ponto de vista da educação, do acesso à universidade, o que foi negado por muito tempo e hoje está sendo reparado com políticas afirmativas”, afirmou Tiãozinho em entrevista ao GloboEsporte.com.

O dirigente relembrou a história da modalidade no país citando um exemplo que virou até apelido do Fluminense. "O grande problema, problema histórico, da presença do negro no futebol começa dentro das quatro linhas. Isso nos remete a tentativas que hoje seriam motivos de riso, que é a história do pó de arroz, tentativa de descaracterização, que ele parecesse ser mais claro do que realmente era. É uma boa fotografia para entender como o Brasil busca mascarar seus problemas sociais. Quando o futebol foi trazido para o Brasil, esperava-se que ele seria um esporte das elites brasileiras. Essa marca está sendo dirimida, mas ainda há muito o que fazer".

Primeiro presidente negro do clube fundado em 1900 em Campinas (SP), e que abraçou o apelido de Macaca recebido de maneira pejorativa pelos adversários por causa da característica popular de seu time e torcida - que eram chamados de "macacada" -, Tiãozinho acredita que a representatividade causada pela sua presença na presidência pode ser uma ferramenta útil no processo de inclusão do negro em cargos de comando.

“A Ponte Preta sozinha não vai mudar a história do Brasil em relação ao racismo. Mas, ao colocar nessa posição de presidente, bem como presidente do conselho também, a gente sinaliza para o Brasil e para o mundo que um mundo sem racismo é possível, dando oportunidade para as pessoas para que elas possam cumprir as tarefas da maneira mais adequada", comentou.