Pontos de acolhimento para população em situação de rua são fechados em Salvador

Ex-funcionários e beneficiários do projeto, cancelado pelo governo, fizeram manifestação nesta quinta para pedir a reabertura dos espaços no Comércio e Sete Portas

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  • Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2017 às 15:57

- Atualizado há um ano

Após três anos de funcionamento, o projeto Ponto de Cidadania, que faz ações de acolhimento para pessoas em situação de vulnerabilidade social em dois locais de Salvador, foi encerrado. Na manhã desta quinta-feira (8), ex-funcionários do projeto e também beneficiários do programa realizaram um protesto pedindo a reabertura dos espaços de acolhimento, que funcionavam na Sete Portas e na Praça Tiradentes (popular Praça das Mãozinhas), no Comércio.Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIOOs contêineres onde funcionavam os pontos faziam, em média, 70 ações diariamente. Nos três anos de programa, a estimativa é que 51 mil acolhimentos tenham sido realizados.

"O Ponto de Cidadania que teria fim, oficialmente, em 23 de junho. Terminou, porém, antes do prazo. Nós fomos surpreendidos pelo fim abrupto do programa. Não tivemos tempo de nos organizarmos. O projeto fechou, oficialmente, no dia 31 de maio", explica a coordenadora da unidade Sete Portas, a psicóloga Renata Pimentel, que classificou como "estranho" o encerramento do programa já que, segundo ela, havia verba garantida pela Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas, do Ministério da Justiça.

Além de receber preservativos e produtos de higiene pessoal como escova de dente, creme dental, barbeador e sabonete, as pessoas em situação de rua tinham lá a possibilidade de tomar banho. Equipes compostas por psicólogo, enfermeiro, assistente social, pedagogo, técnico de enfermagem e redutor de danos em cada ponto eram responsáveis por prestar atendimento e repassar orientações que minimizam as dificuldades enfrentadas pelos moradores em situação de rua. Parte deles, inclusive, é usuária de substâncias psicoativas como o crack.

Pernambucana, Lúcia Menezes, 53 anos, que está em situação de rua, relata a mudança que o projeto proporcionou em sua vida. "Há três anos eu conto com o apoio deles. Problemas de saúde, de assistência psicológica, tudo são eles quem oferecem para nós, que nada temos. A gente não pode deixar fechar, não. Os usuários da cidade se beneficiam muito dessa família que é o Ponto Cidadania", defende Lúcia, que virou voluntária ajudando no auxílio às crianças atendidas.

Desde que o projeto terminou, oficialmente, os ex-funcionários passaram a trabalhar voluntariamente pelo menos duas horas por dia, para que os laços com os moradores não se percam. "A gente tem vindo, conversado com eles. Permanecemos por pelo menos duas horas para que isso não se perca. Precisamos de uma resposta do governo do estado", salientou a coordenadora técnica da unidade da Sete Portas, a psicóloga Natália Gonçalves.

Outro ladoO projeto é executado pela Secretaria da Justiça, Cidadania, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado (SJDHDS), por meio da Superintendência de Prevenção e Acolhimento ao Usuário de Drogas e Apoio Familiar e com o apoio do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (Cetad) e a Defensoria Pública do Estado.

"O Ponto de Cidadania funcionava desde 2014 com auxílio de recursos do Governo Federal. Com os recentes cortes do Executivo, a execução do Projeto teve que ser suspensa. Parte do valor que já havia sido repassado, em 2015, não foi aplicada por conta da recusa, por parte do Governo Federal, em aceitar o termo aditivo para reaplicação dos recursos disponíveis", explicou a secretaria, em nota enviada ao CORREIO.