Por mais mulheres no futebol

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  • Miro Palma

Publicado em 14 de março de 2018 às 05:01

- Atualizado há um ano

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Por mais que eu me esforce, jamais vou conseguir ser sensível o suficiente aos sofrimentos das mulheres. Como homem, não tenho como imaginar as sensações femininas frente às diversas ameaças que elas têm que lidar no dia a dia. Qualquer pretensão nesse sentido seria em vão, porque eu não sei o que é ter medo de sair sozinho, de beber demais em uma festa ou de usar uma roupa específica, por exemplo.

Semana passada, comemoramos o Dia Internacional da Mulher e pipocaram nas redes sociais mensagens em homenagem à data. Diferente de tempos atrás, o que mais vi nessas manifestações foi o pedido por respeito. Mas será que só lembramos disso no dia 8 de março? Olhei para os lados e vi minhas colegas de trabalho. Será que elas desfrutam do mesmo respeito que eu?

A maioria dos esportes é dominada por homens. A última delegação brasileira nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 teve 256 homens e 209 mulheres. Quando pensamos no esporte mais popular do país, o futebol, esse cenário fica ainda mais claro. Com isso, fica fácil imaginar como deve ser difícil trabalhar nesse ambiente.

Pensei mais uma vez nas minhas colegas. Dessa vez, só nas que dividem comigo a bancada de Esportes. Temos duas repórteres mulheres, Fernanda Varela e Daniela Leone, além dos seis marmanjos que compõem a equipe. São duas profissionais talentosas e dedicadas, que entendem de futebol tanto quanto os outros jornalistas da editoria. Mas, para desempenhar seus trabalhos, precisam ter uma força muito maior.

E, se eu não consigo entender por completo os dramas vividos pelas mulheres, consigo menos ainda entender o que passa na cabeça de um homem que se sente no direito de atacar uma delas. Pior ainda no ambiente que considero quase sagrado: o estádio de futebol. Cansei de ouvir as histórias de profissionais mulheres que tiveram que ouvir cantadas, xingamentos e intimidações durante o trabalho em alguma cobertura ou entrevista. Por mais que o esporte mexa com sentimentos passionais e que o ataque dos furiosos não escolha gênero, elas lidam com uma carga muito maior de coação.

Eu tenho que lidar com intimidações quando um torcedor acha que estou favorecendo o time rival depois de sofrer uma derrota, ou quando um atleta ou dirigente de clube não gosta de uma pergunta que faço. Ou seja, quando há um cenário negativo na equação. Já as minhas colegas jornalistas vivem isso diariamente, quando estão todos felizes com uma goleada e um torcedor acha que pode passar a mão em sua cintura, ou quando ela quer fazer uma pergunta e é ignorada em benefício de um repórter homem, ou ainda quando suas análises são questionadas pelo simples fato de ser mulher.

E ainda assim elas voltam lá no jogo seguinte. Elas se sujeitam novamente a esses constrangimentos com a dignidade e determinação de quem promove a mudança. Não só as jornalistas esportivas como, também, as torcedoras, profissionais dos clubes, árbitras e atletas. E por isso, e tantas outras coisas que não caberiam nas páginas deste jornal, elas têm minha admiração. O futebol não é um ambiente masculino. Ele ainda está, infelizmente, dominado pelos homens. Mas, graças a mulheres como essas duas que nos acompanham, essa realidade faz cada vez menos sentido.

*Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras