Por onde anda? Allan Delon sonha com jogo de despedida no Vitória

Jogador ainda não se aposentou e tem projeto para revelar talentos em Ceilândia

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  • Vitor Villar

Publicado em 2 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo Pessoal

Mesmo aos 40 anos e sem entrar em campo há um ano e meio, o meia-atacante Allan Delon rejeita o status de aposentado. Essa é a reação do ídolo do Vitória ao ouvir a pergunta: “Não, não, não! Ainda não parei, não. Quero jogar em 2020 para me despedir em grande estilo”. Mas será que ele ainda aguenta?“Posso ser sincero com você? Se me derem um mês de treinamento eu jogo em qualquer time desses. Estou dizendo para você! Tenho 1,77 m e estou pesando 76 kg. No Vitória eu jogava pesando 79, 80 e voava, não era não? Imagine só”, responde.O desejo do craque pode até ser realizado. E mais: com um retorno ao futebol baiano, onde surgiu e conquistou o país na virada do século. Entre os convites que Allan Delon afirma ter recebido para 2020 está o do Jacobina, que disputará o Campeonato Baiano.

“Arnaldo Lira (técnico do Jacobina) deixou uma mensagem no meu ‘Face’ (Facebook) e entramos em contato. Estou analisando. Como vivo em Brasília e tenho os meus projetos aqui, teria que ser um negócio muito certinho”, conta. Procurado pela reportagem do CORREIO, o clube declara que não existe negociação.

Para quem acompanha a rivalidade Ba-Vi, Allan Delon não precisa de apresentações. Para os que não o conhecem, é preciso voltar quase 20 anos no tempo.

Foi no Brasileiro de 2000 que o garoto de 21 anos, já famoso e temido nos clássicos estaduais, conquistou o país. Brigou gol a gol pela artilharia ao lado de Romário, Petkovic, Ronaldinho Gaúcho, Marcelo Ramos e Edmundo.

Natural de Vila Velha, no Espírito Santo, Allan Delon chegou ao Vitória aos 15 anos, em 1995. Foi o primeiro clube da vida dele. Em 1998, estreou no time profissional aos 17 anos já como titular, graças ao técnico Geninho – hoje, novamente técnico do Leão. Derrota por 4x2 para a Ponte Preta, em Campinas, pela 23ª rodada do Brasileiro.

Foram seis temporadas pelo rubro-negro, com 76 gols marcados em 239 jogos. Tornou-se o maior artilheiro do clube na Série A e o terceiro maior goleador do Barradão. Quatro títulos estaduais e três da Copa do Nordeste.

Allan Delon deixou a Toca em 2003. Passou por Querétaro, do México, Vasco, Sport e Ceará. Mas foi em Brasília que o capixaba se fez. Por lá, jogou no Brasiliense, Gama e Ceilândia. Mora no Distrito Federal desde 2006 ao lado da esposa, Rosilene, com quem está há oito anos, e da filha, Giovana, de 13.“Gosto de jogar em Brasília porque todos os times daqui pagam em dia. É pouco, mas é em dia. E paga em dinheiro vivo, não é em conta não”, explica.O jogador ainda tem laços com Salvador. Seu herdeiro mais velho, Allan Delon Filho, tem 20 anos e vive na capital baiana. É jogador de basquete: “O menino tem quase 2 metros de altura. Nem sei se é meu filho de verdade”, brinca. Outra filha, Allana, de 13 anos, mora em Vila Velha.

A última saída de Allan Delon do Distrito Federal foi justamente para a Bahia, como agora pretende repetir. Em 2012, defendeu o Fluminense de Feira no Baianão. À época, Paulo Carneiro, presidente do Vitória na época em que o meia-atacante foi revelado (e atualmente também), era gestor do Touro do Sertão. Allan Delon atuou pelo rubro-negro em seis temporadas “Paulo foi como um pai para mim. Lógico que ele me segurou quando, na minha opinião, deveria ter me soltado (negociado). Mas me deu vários conselhos quando subi para o profissional, me regulou em várias coisas que eu fazia de errado, ia à minha casa sempre para me aconselhar”, comenta.

A “segurada” que o atleta lamenta aconteceu em 2002, logo depois de Allan Delon ter brilhado, brigando novamente pela artilharia do Brasileiro. “Entre 2000 e 2001 vivi o meu melhor momento. Tive propostas de Palmeiras, Cruzeiro, Corinthians, PSV. Paulo depois me explicou que me segurou porque a situação financeira do Vitória na época era boa, não precisava me vender”, lamenta.

Vai voltar? Allan Delon não joga desde maio de 2018, quando defendeu o Ceilândia no Campeonato Brasiliense. O jogador explica a insistência de voltar a campo, nem que seja pela última vez: “Não posso parar da forma como parei. Quero que seja um último ano para parar da forma como sempre foi minha carreira, fazendo gols e com títulos”, diz. 

“Quero parar num status um pouquinho acima dessa equipe. Quero terminar mais com cara de Allan Delon. Disputando uma Copa do Brasil, uma competição que alguém assista na TV. Pelo nível de futebol que a gente vê hoje em dia no país, vejo que ainda tenho condições de atuar”, completa.

Ele revela até mesmo um desejo de voltar ao Vitória: “Tenho conversado sobre isso com Paulo Carneiro. Nem que seja só para entrar numa partida e terminar a minha carreira. A resposta que ele deu foi boa. De que ídolos têm que parar onde fizeram história. Como minha história foi no Vitória, a porta estaria sempre aberta”.

Para o ídolo, o dirigente atual é a pessoa certa para tirar o Vitória da crise em que se encontra há três anos. “A torcida pode ter certeza e confiar que a partir do ano que vem o clube vai voltar a ser aquele que a gente conheceu. Conheço bem Paulo Carneiro e sei que ele vai mudar tudo, geral, vai ser tudo do jeito dele. Jogadores diferentes, diretoria diferente. Vai apostar na base, porque o Vitória tem que vender dois ou três atletas por ano. E ele sabe como descobrir jogador. Eu sou a prova”, completa.

Enquanto não volta ao Leão para uma despedida, Allan Delon trabalha, ainda que indiretamente, com o clube. Vai abrir ainda nesse mês um centro para formação de atletas em Ceilândia, chamado Centro Esportivo Allan Delon (CEAD).

O uniforme do projeto leva as cores e o escudo do Vitória. “Viajamos até Salvador para pedir autorização a Paulo Carneiro para poder trabalhar o nome do clube em Brasília e ele liberou. Conto com a ajuda de George Ferreira, Marcelo Brasília, Paulinho da Grécia e Ronaldão no projeto. Todos são ex-jogadores daqui da região”, conta.

A ideia é captar meninos e meninas de 9 a 17 anos para formá-los no CEAD e prepará-los para testes em clubes do país. Um desses clubes, claro, será o Vitória. “Ainda não temos dinheiro nenhum. O objetivo, claro, é ganhar dinheiro no futuro. Vamos trabalhar forte porque, depois de me aposentar, quero trabalhar apenas com esse projeto”, finaliza Allan Delon.

O projeto Correio 40 Anos tem oferecimento Bradesco, patrocínio Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional Prefeitura de Salvador, apoio Vinci AirPorts, Sesi, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Sebrae, Itaipava Arena Fonte Nova, Santa Casa da Bahia e Coelba.