Por que as pessoas estão deixando de usar filtro solar? Especialistas alertam

Busca por produtos naturais e até mesmo fake news têm feito dessa opção uma tendência

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  • Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 06:20

- Atualizado há um ano

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Um dos primeiros virais da internet decretava: “Filtro solar! Nunca deixem de usar o filtro solar. Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: usem o filtro solar!”. Repassado à exaustão em mensagens, áudios e vídeos, o texto escrito por Pedro Bial há 16 anos, se feito hoje, talvez não tivesse a mesma repercussão. Isso porque é cada vez maior o número de pessoas que tem deixado de usar o produto. E os perfis e motivações para isso são diversos.  “O que eu sei que a maioria dos filtros tem disruptores endócrinos, que alteram a produção de hormônios pelo nosso organismo. Parei de usar por um tempo, mas agora uso de vez em quando, e procuro combinar com outros cuidados”, comenta a arquiteta Juliana Ribeiro, 33 anos, cuja preocupação com o assunto aumentou há dois anos, desde quando foi morar na Austrália. “Tem um buraco na camada de ozônio bem na cidade onde estou, então a incidência solar é ainda mais forte que na Bahia, onde morava, tanto que aqui tem vários casos de câncer de pele”, associa. Além das pessoas como Juliana, que se preocupam com a inibição de vitaminas e hormônios por esses produtos e acabam buscando alternativas mais naturais para se proteger do sol, há ainda aqueles subestimam os riscos. Caso da designer Larissa Valtrudes Boaventura, 29 anos. “Ando servindo de inspiração para usarem protetor, e não ficarem como eu”, diz ela, rindo, ao mencionar a última vez em que esteve na praia, e acabou com uma insolação e com o corpo e rosto cheio de bolhas. “Lembrei de passar o protetor em minha filha, toda hora alertava o meu namorado, mas por ser mais escura que eles, me descuidei, e só percebi quando as costas começaram a arder”, recorda.  A arquiteta Juliana Ribeiro, 33, passou a se informar ainda mais sobre filtros solares depois que foi morar na Austrália (Foto: Acervo Pessoal) E ainda tem aqueles que evitam o filtro solar por ter ouvido falar que eles provocariam câncer de pele; informação que em tempo de fake news ganha ares de verdade absoluta. ”Não há até hoje correlação alguma sobre o uso de protetor solar e o aparecimento de câncer, pelo contrário, seu uso diminui a chance do aparecimento do câncer de pele”, defende o o oncologista André Bouzas, cirurgião do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR). A opinião é compartilhada pela dermatolgista Camila Meccia. ”Os benefícios do uso de filtro solar superam os riscos, e é recomendado principalmente em locais onde a incidência do sol é mais direta e constante”, explica.  Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a especialista diz que uma pesquisa feita pela associação constatou que apenas 23% dos brasileiros usam o protetor da maneira recomendada pelos médicos. E calcula-se que seis milhões não usam nada na exposição ao sol.Chegou Verão Uma realidade para a qual a campanha Dezembro Laranja quer chamar atenção. Lançado no primeiro mês oficial do Verão, o alerta vale para a estação mais quente do ano, e para todas as outras. “É um convite para refletirmos sobre a prevenção do câncer de pele, em especial o melanoma cutâneo, o tipo mais agressivo”, diz Bouzas.  Segundo ele, a exposição solar é o principal fator de risco para o câncer de pele tanto quando avaliado seu efeito cumulativo, ou seja, ao longo da vida, quanto numa exposição exagerada, principalmente se isso ocorre na infância. “É importante ficar alerta não só no período de férias, mas também para pessoas que estão expostas no seu dia a dia em locais ao ar livre, como trabalhadores rurais ou em construções, por exemplo”, destaca. Outro fator que explica o avanço do melanoma cutâneo é o envelhecimento populacional. “Apesar dos dados nacionais serem preocupantes, o Brasil está longe da Austrália e Nova Zelândia, onde foram relatadas taxas de incidência de 40 a 60 casos por 100 mil habitantes”, compara Bouzas. (Foto: Shutterstock) Foi essa alta incidência que fez a arquiteta Juliana Ribeiro, mencionada no início desta reportagem, se informar ainda mais sobre o assunto. “A grande questão é que você usa um produto que tem vários químicos para te proteger de ter um câncer de pele, mas aquelas também são substâncias que estão indo para nosso corpo. Eu já uso shampoos, desoderantes e cremes naturais, mas os protetores solares não têm nenhum substituto à altura. Tem gente que bota dicas na internet, mas não é confiável. Pelo contrário, é muito perigoso“, comenta. Para a dermatologista Camila Meccia, quem se informa corretamente, sabe que o filtro solar ainda é a melhor opção. “Há muitas dúvidas por parte dos consumidores, mas o protetor solar ainda é a solução mais eficaz. O tema tem sido amplamente estudado e debatido por órgãos importantes no mundo inteiro, e estamos avançando nas melhorias”, avalia. Apesar das controvérsias acerca da relação entre a vitamina D e o filro solar, estudos mostram que mesmo com o uso do produto há produção de vitamina D devido à exposição solar nos horários de menor risco e em momentos de falha do uso do protetor. “Havendo uma queda, é possível fazer a reposição oral”, complementa Bouzas.De olho no rótulo  Diante da hipótese, ainda não comprovada cientificamente, de que algumas substâncias contidas nos filtros solares teriam relação com câncer, e também do real risco para a vida marinha, o que os especialistas recomendam é atenção redobrada aos rótulos.  Tem até aplicativo que descreve os componentes da fórmula dos filtros solares mais conhecidos no mundo “O FDA (Food and Drug Administration) junto com a Sociedade Americana de Dermatologia recomendam o não uso do oxibenzone e da ocitinoxate. Esses produtos são classificados em categorias, e os de primeira escolha são óxido de zinco e o dióxido de titânio”, explica Meccia, ao destacar que a não recomendação do uso dessas substâncias se dá não pelos malefícios comprovados, mas  pela ausência de estudos que comprovem sua segurança.