Por uma velhice mais saudável

Com o aumento do número de idosos, especialistas alertam para relação entre práticas saudáveis e ganho de energia

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  • Luan Santos

Publicado em 22 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga

Prestes a completar 86 anos, a aposentada Maria das Neves Cavalcanti tem uma rotina de fazer inveja a muito novinho. Com uma agenda diária lotada, Nevinha, como prefere ser chamada, faz caminhadas, pilates, dança, vai semanalmente ao cinema e quase diariamente a shoppings da cidade. É onde gosta de ir para passear e encontrar pessoas.

“Vou tanto a shopping em que já conheço muita gente. Sempre encontro conhecidos”, revela Nevinha, que ainda tem como atividade de lazer passeios de moto com um dos sete netos. A meta agora é andar de jet sky. “O que me impede? Nada, né? Já falei com todo mundo, só estou esperando a oportunidade”, conta a aposentada, que leva uma vida bastante ativa, mas acompanhada por profissionais.

O caso de Nevinha é considerado um exemplo por especialistas em envelhecimento saudável, que alertam: é preciso cuidar da tríade mente, corpo e coração. O motivo são os números crescentes de envelhecimento da população brasileira e mundial.

No Brasil, cerca de 30,2 milhões de pessoas têm 60 anos ou mais, o que representa cerca de 14% da população, de 208 milhões, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estimativa é que até 2060 a população com mais de 60 anos mais que dobre de tamanho e atinja 32% do total dos brasileiros. O resultado disso é a consequente elevação da expectativa de vida, que hoje é de 75,8 anos no país.

Na Bahia, a proporção é parecida. Hoje, são mais de 2 milhões de idosos. Para 2060, a expectativa é que um em cada três baianos tenham 60 anos ou mais. No estado, a curva ascendente é ainda maior que no país, que teve média de crescimento do público idoso de 3,7% de 2012 a 2017. Na Bahia, este aumento foi de 6,7%.

Neste sentido, crescem as iniciativas voltadas para o público da terceira idade ou até mesmo para aqueles que buscam chegar e ultrapassar os 60 anos em dias com a saúde física e mental.

Saída da inércia - Nunca é tarde para começar a para adotar práticas saudáveis. Especialistas ouvidos pelo CORREIO garantem que sim, mas ressaltam não haver uma fórmula pronta para um envelhecimento saudável. O ideal é avaliar e buscar práticas para cada caso específico.

Daí a importância da tríade corpo, mente e coração. “Se nossa cabeça não  estiver bem, dificilmente vamos cuidar do corpo. Mas se o corpo não tiver bem, dificilmente vamos conseguir acompanhar o que a cabeça quer fazer, porque nosso cérebro não envelhece, continua querendo fazer  coisas", afirma o  ortopedista Marcio Santana, especialista em envelhecimento saudável, ao explicar que o coração é ligado ao emocional, às relações.

O próprio médico é um exemplo. Cirurgião ortopedista, ele fez duas pós-graduações para se especializar em emagrecimento e, depois, em ortomolecular, para ajudar os pacientes a perderem peso e, em seguida, fortalecerem os músculos. Viu que ainda não era o suficiente. Numa palestra em São Paulo, descobriu a pós em envelhecimento saudável.

“Lá mesmo já fiz a pré-inscrição e fiz o curso. Modifiquei minha vida inteira. Saí de 115 quilos e 40% de gordura para 82,7 quilos e 11% de gordura num intervalo de dois anos. A meta é viver bem e morrer jovem o mais velho possível”, diz o especialista.

As dicas não são mistério para ninguém, mas precisam ser postas em prática. Em primeiro lugar estão as atividades físicas, que, além de prevenir doenças, elevam, durante a prática, os níveis de serotonina, substância que ajuda a melhorar o humor e evitar depressão.

Ler também é fundamental, pois relaxa e estimula o raciocínio. Dormir corretamente e beber bastante água também estão na lista de dicas para um envelhecimento saudável. É indispensável, ainda, manter as relações, sejam elas sociais ou familiares, pois a solidão é um fator de risco para o envelhecimento.

A alimentação deve ser à base de produtos livres de gordura saturadas e com pouco sal. O indicado é procurar alimentos ricos em nutrientes,  como verduras, frutas e grãos integrais, e evitar o excesso de doces, alimentos processados e carregados de sódio e conservantes. Tudo isso deve ser acompanhado por especialistas.

“As orientações científicas existem e dizem que precisamos nos cuidar, dentro de uma linha de corpo, mente e relações. É o tripé para que consigamos envelhecer bem”, diz a presidente da Associação Nacional de Gerontologia do Estado da Bahia, Maria Emília Rodrigues.

A gerontóloga pontua que a mudança de postura depende apenas da pessoa, mas envolve também aquelas que estão ao seu redor. “Depende essencialmente dela,  mas precisa criar elos, família, comunidade, sociedade. Essas pessoas também fazem parte do processo”, afirma.

 Sem desculpas - Para os especialistas, a falta de tempo, o estresse cotidiano ou até a falta de informação devem ser desculpa para que não se adote práticas saudáveis, em qualquer faixa etária. “As pessoas precisam fazer suas escolhas, e elas não são determinadas por receitas, fórmulas para que se tenha um envelhecimento saudável. É preciso se reconhecer e fazer escolhas”, diz Maria Emília.

“Algumas pessoas não conseguem organizar o tempo para fazer todas essas novas coisas que surgem e, também, manter um tempinho para se cuidar. Hoje a informação está mais acessível com o smartphone, as redes sociais. Então, não é desculpa”, complementa Marcio Santana.

Nevinha segue à risca as orientações. Tem a solução e é bem simples, segundo ela. “Basta a gente se manter ativa. Quando nos disserem que não podemos fazer tal coisa, é só rir. Eu quero é viver!”, finaliza a aposentada.

Quem não é lá muito ativa é a também aposentada Benedita Alves, 67. Embora faça caminhadas, ela admite ser sedentária. “Na verdade, falta disposição, meu filho. Meu médico pede para eu fazer pilates eu caminhar com mais frequência, mas o corpo já não deixa”, conta, aos risos.

Ela, entretanto, compreende a necessidade de práticas mais saudáveis. “Levei uma vida de má alimentação, sedentária, sempre tomando remédio para dor, paliativo, e nunca me preocupei de fato em fazer atividades físicas”, confessa.

Dicas para o envelhecimento saudávelFaça atividades físicas regularmente  além de prevenir doenças, elevam, durante a prática, os níveis de serotonina, substância que ajuda a melhorar o humor e evitar depressão Leia ler relaxa e estimula o raciocínio Durma bem a falta de sono pode provocar irritabilidade, problemas de memórias e falta de concentração Se alimente bem  a alimentação saudável deve ser à base de produtos livres de gordura saturadas e com pouco sal. O indicado é procurar alimentos ricos em nutrientes, como  verduras, frutas e grãos integrais Procure especialistas  é fundamental que todas essas etapas sejam acompanhadas por profissionais

Dicas para o convívio com os idososNão trate-os como criança  Evite diminutivos como 'velhinho' ao falar com eles. Lidar com a velhice de maneira infantilizada é um erro e pode levar ao declínio cognitivo Velho não é xingamento  Chamá-los de velhos não é pejorativo. Preconceitos com a palavra fez dela um termo quase ofensivo. Contudo, velho é aquele que conseguiu viver mais tempo no mundo, absorvendo tudo que há nele Converse com eles  Conversar e estimular o contato social com idosos é fundamental, pois evita a solidão e estimula a cognição