Porto gera empregos e riqueza em Salvador

No ano passado, terminal localizado na capital baiana movimentou 1,8 milhão de toneladas

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 14 de março de 2019 às 04:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Manu Dias/GOVBA

Quem passa pela Avenida da França, no Comércio, pode até não saber, mais ali por baixo são escoadas milhares de toneladas de grãos todos os anos. Pela Via Expressa Baía de Todos-os-Santos, outros milhares de caminhões levam e trazem cargas que movimentam a economia baiana, com baixo impacto na rotina do centro antigo de Salvador, mas relevante participação no desenvolvimento econômico da região. 

No ano passado, o Porto de Salvador movimentou 1,8 milhão de toneladas, segundo informações da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba). O Terminal de Contêineres instalado no porto, o Tecon Salvador, operado pela Wilson Sons, bateu recorde de movimentação de carga no período. Em doze meses, foram 203.979 contêineres movimentados – o correspondente a 322.665 TEUs (sigla para Twenty-foot Equivalent Unit - Unidade Equivalente a um contêiner de 20 pés).

Movimento de trigo Com a sua maior operação no país implantada na Bahia a J. Macedo – fabricante de farinha de trigo, misturas para bolo, biscoitos e massa – tem a sua operação intrinsecamente ligada ao Porto de Salvador. Mas, desde o dia 26 de outubro de 2017, a presença da empresa, que opera um moinho em pleno bairro do Comércio, só é percebida pelo impacto no desenvolvimento econômico do estado. São mil empregos diretos, 200 terceirizados e outros 300 indiretos. 

Todo o transporte do trigo que vem de diversas partes do mundo é feito através de um sistema chamado  portalino, que retira os grãos de navios com capacidade de até 30 mil toneladas, encapsula o produto e transporta por debaixo da terra a uma velocidade de 300 toneladas por hora. O investimento foi de R$ 27,5 milhões, lembra o gerente de projetos industriais da J. Macedo, Daniel Lustosa. “Nós temos uma grande variedade de produtos, por isso preciso trazer trigo de diversos lugares do mundo, como Canadá, Argentina, Estados Unidos e Europa. Estar perto do porto é essencial para nós”, explica. 

A operação da empresa, que além do moinho no Comércio possui uma unidade industrial em Simões Filho, rende aos cofres públicos estadual R$ 60 milhões por ano em Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). 

Mas a J. Macedo não é a única empresa que depende do Porto de Salvador. No mesmo ramo, outro moinho que detém importante operação no espaço é o Canuelas. E o diretor-presidente da Codeba, Rondon Brandão do Vale, lembra que um levantamento apresentado há algum tempo pela Associação Comercial da Bahia (ACB) aponta a existência de 120 empresas em Salvador que existem em função da estrutura portuária na capital. A movimentação de celulose beira as 400 mil toneladas por ano.

“Nós temos uma visão de que é preciso dar destaque ao papel que os portos têm para a sociedade. É um elo chave na cadeia logística, mas é muito mais do que isso. Queremos um porto cada vez mais integrado com a cidade”, destaca. Ele cita o exemplo do porto de Valência, com o qual a Codeba firmou um protocolo para o intercâmbio de informações. 

A estimativa da Associação dos Usuários de Portos da Bahia (Usuport) é de que a atividade portuária em Salvador seja responsável pela geração de 5 mil empregos diretos e por outros 20 mil indiretos. 

O diretor-executivo da Usuport, Paulo Villa, considera Salvador privilegiada sob o ponto de vista das condições para a operação portuária. “Temos condições naturais que permitem a operação 24 horas por dia durante todos os dias do ano. Nenhuma outra cidade brasileira tem isso”, ressalta. 

Além disso, ele destaca a qualidade dos acessos, tanto marítimo quanto terrestre. “Temos águas profundas, que permitem navegar sem a preocupação com o assoreamento”, diz. “A Via Portuária (Expressa Baía de Todos-os- Santos) possibilita uma operação sem  transtornos ao trânsito da cidade”, lembra. Ele compara o Porto de Salvador ao de cidades europeias, como Barcelona, Valência, Rotterdam e Antuérpia. 

Amanhã, das 8h às 19h, o futuro do setor portuário será discutido no Seminário Portfólio de Investimentos nos Portos da Bahia – Oportunidades de Outorgas, uma realização do Jornal Correio e Codeba, com o patrocínio da J. Macêdo e Ultracargo, apoio institucional da Braskem e apoio da Fieb, Usuport, Associação Comercial da Bahia e Contermas.

Passageiros: uso o ano inteiro  Os 160 mil passageiros que desembarcam no Terminal de Passageiros do Porto de Salvador anualmente são apenas uma parte do público que utiliza o espaço. Com a temporada de cruzeiros restrita aos meses entre novembro e abril, o espaço, que tem uma vista de fazer inveja, vem se tornando cada vez mais um patrimônio  do povo de Salvador, acredita o presidente da Contermas, Gilberto Menezes. 

“Hoje, o terminal é uma alternativa muito interessante, inclusive para suprir a ausência de um centro de convenções na cidade”, destaca Menezes. “Antigamente, a estrutura portuária ficava parada nos meses em que não havia cruzeiros. Agora, há operação o ano inteiro”, ressalta.  Ele lembra ainda que o terminal pode se inserir cada vez mais na estratégia para a revitalização do bairro do Comércio de Salvador. 

Gilberto Menezes defende a importância do turista de cruzeiros. “A estimativa é de um gasto médio de US$ 150 por dia. Mesmo que não se hospede, vai conhecer a cidade e voltar para se hospedar no futuro”, acredita. 

Evento vai atrair investimentos As oportunidades para investimentos privados nos três portos públicos da Bahia serão discutidas amanhã, das 8h às 19h, no Terminal Marítimo de Passageiros, no Comércio, durante o Seminário Portfólio de Investimentos nos Portos da Bahia – Oportunidades de Outorgas. As inscrições para o evento já estão esgotadas. O objetivo do evento é apresentar as estratégias para os próximos 20 anos do setor. 

O coordenador-geral de Modelagens de Arrendamentos Portuários da  Secretária Nacional de Portos e Transportes Aquaviários (SNPTA), Disney Barroca Neto, vai apresentar as diretrizes da política portuária nacional.   O diretor-presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), Rondon Brandão  do Vale,  vai falar sobre as   oportunidades de investimentos nos portos da Bahia. 

Durante a tarde, a programação contará com três painéis. O primeiro, às 14h, será sobre novas perspectivas de investimentos privados no Porto de Aratu-Candeias, com a participação de representantes do setor produtivo e usuários do porto.  O segundo painel será sobre as melhorias na infraestrutura do Porto de Ilhéus.  O terceiro painel do dia abordará o Porto de Salvador e suas Perspectivas de Projetos.

O evento terá ainda em sua programação a palestra Porto 4.0 – Automatização e Informatização Portuária, com Fernanda Rumblesperger, diretora de Gestão e Modernização Portuária do Ministério da Infraestrutura.

No final da tarde, está prevista uma mesa de debates sobre investimentos nos portos públicos da Bahia.