Precisamos de ídolos como Ayrton Senna

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  • Miro Palma

Publicado em 25 de abril de 2018 às 07:15

- Atualizado há um ano

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Se entre o final dos anos 60 e início dos anos 70 o Brasil viveu um “milagre econômico” com um expressivo crescimento financeiro, nos anos 80 vivemos a tal “década perdida” em que se instaurou a que é considerada a pior crise econômica da nossa história. Altos índices de inflação, crescimento baixo do PIB, aumento da dívida pública e das desigualdades sociais compunham o cenário da época. Para completar, a década seguinte se iniciou com mais um colapso: o Plano Collor, que ficou conhecido pelo confisco das poupanças, e prolongou ainda mais o período de recessão.

Calma, você não está no caderno errado, essa é sim uma coluna sobre esportes. O prólogo foi necessário apenas para relembrarmos que, naquele período, não tínhamos muitos motivos para comemorar. Exceto por um homem em seu capacete verde e amarelo que corria a cerca de 300 km/h. Ayrton Senna – do Brasil – representava uma das poucas alegrias dos brasileiros em meio a tanto caos.

Talvez, esse cenário tenha sido um dos ingredientes que o tornaram ídolo. O maior ídolo esportivo do país de acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada em 2014, em que ficou à frente de nomes como Pelé, Neymar, Ronaldo, Garrincha, Oscar, Zico, Sócrates e Romário. As sucessivas vitórias de um piloto em ascensão, um piloto que carregava a nossa bandeira, se tornaram uma espécie de válvula de escape para um povo tão sofrido.

Mas o que cativou tanto a nação? Afinal, Senna era um homem de origem abastada em um esporte de elite. O ambiente em que viveu e fez sua carreira era muito distante do Brasil com 43% da população inserida na linha da pobreza, de acordo com o estudo da ONU “La pobreza en America Latina: dimensiones y políticas, de 1985”.

Havia, nele, algo além do encanto. Senna era carismático e vivíamos uma evolução da cobertura midiática. Mas, não era só isso. O piloto era uma das poucas representações positivas de grande alcance do nosso país na época. Apesar da posição social, demonstrava uma preocupação com a pobreza, especialmente, no que se referia às crianças. Ele era uma personificação da esperança. E o Brasil precisava muito disso.

E ainda precisa. Quase três décadas depois, tornamos a sentir o mesmo gosto amargo das consequências de uma economia devastada. Mas, diferente do passado, temos tido poucos ídolos genuínos para nos trazer algum consolo, seja no esporte ou em outro setor. Talvez porque vivemos em uma época em que os heróis são desconstruídos pelo grande acesso a informações que antes não eram de domínio público, ou talvez porque estejamos em um momento onde as idolatrias são contestadas e rivalizadas nas redes sociais. Perdemos o encanto. 

Na terça-feira (1º), feriado do Dia do Trabalhador, a morte de Senna na curva Tamburello do GP de San Marino, em 1994, completa 24 anos. Perdemos o nosso tricampeão mundial, maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos – de acordo com a BBC de Londres, o jornal inglês The Independent e a Revista Autosport – e um cidadão preocupado em diminuir o abismo social brasileiro. Perdemos um ídolo e talvez nunca mais teremos outro para ocupar seu lugar. E como Senna dizia, “se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar”.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras