'Prefiro entrar no ringue e sair na porrada porque fico menos nervoso', diz o pai de Bia Ferreira

Sergipe é ex-pugilista e treinador da filha finalista olímpica

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Nascimento
  • Vinicius Nascimento

Publicado em 5 de agosto de 2021 às 11:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Giza Gomes/Divulgação

Quando o locutor da arena de boxe em Tóquio indicou o nome de Beatriz Ferreira como finalista olímpica após vitória contra a finlandesa Mira Potkonen, muita gente gritou a plenos pulmões durante a madrugada no Brasil.  A satisfação de todos na comemoração não foi maior do que a de um homem que pulava eufórico e emocionado na frente da TV. Seu nome? Raimundo Oliveira, mais conhecido como Sergipe. Pai, treinador e herói de Bia.

Sergipe não viajou para o Japão e acompanha a epopeia de sua filha mais velha da televisão. As únicas companhias são a caçula Maria Antônia, 9 anos, e a esposa. Sobre a filha, ele não esconde o orgulho - pelo talento e por quanto eles batalharam para que ela chegasse a esse nível."Desde que a gente morava em Salvador, lá em Nova Brasília, eu ainda lutava e Bia já me acompanhava. O boxe é o DNA dela. É luva, luva. Para mim, não tem como explicar a sensação de ser um pai e treinador de uma finalista olímpica. É nosso sonho, que a gente vem batalhando há tempos atrás de oportunidades. Corremos atrás. Teve momentos que fomos surpreendidos com desclassificação, mas a gente resisitiu, não parou", disse Sergipe ao CORREIO em entrevista por telefone, de Juiz de Fora (MG), onde mora atualmente.Sergipe foi um ‘boxel’ de respeito na Bahia. Tricampeão estadual, também foi, por duas vezes, campeão brasileiro: primeiro em 1999, no peso galo; e depois em 2002, no super galo. O cartel tem 45 lutas: venceu 42 e perdeu três. Para fechar o currículo, foi sparring de Popó durante cinco anos na tradicional academia Champion. Bia no ringue com o pai aguardando confirmação de resultado em luta (Foto: Acervo Pessoal) Toda essa experiência não é capaz de conter o nervosismo ao ver a filha lutando. "É difícil demais. Eu prefiro entrar no ringue e sair na porrada porque aí sinto menos nervosismo. Você ser pai de um atleta, numa competição dessa, no nível que ela está, é um orgulho muito grande. Pra mim, pra família e para o Brasil", afirma.

A obsessão da família é o ouro. Seria como um carimbo definitivo de que conseguiram vencer. Bia já é campeã mundial, mas, para Sergipe, o ouro olímpico será a chancela maior. Os dois conversam sempre e são xodós um do outro. Após a luta, Bia ligou para o pai e os dois já começaram a falar sobre a final, contra a irlandesa Kellie Anne Harrington, que venceu a tailandesa Sudaporn Seesondee na outra semifinal.

"A adversária dela, já vi lutando desde a primeira luta. Não tem bicho de 7 cabeças. Todas ali são as melhores de cada país, mas o entrejogo de Bia é muito agressivo e a menina não aguenta. O jogo de Bia é partir pra cima, eu converso com ela para encaixar golpe no meio, abafar ela toda e não deixar andar", revela o pai.

Ao CORREIO, Sergipe aproveitou para exaltar o boxe baiano e os profissionais que formam tantos atletas de alto nível. Bia é a primeira na história a chegar na final no feminino, enquanto Hebert Conceição, outro soteropolitano, vai brigar por mais um ouro, tentando repetir o feito de Robson Conceição no Rio-2016.  Bia e Sergipe posam para foto durante sessão (Foto: Giza Gomes/Divulgação) Para além do mito da formação de gênios baseada na corda de Bell ou pipoca de Kannário, Sergipe diz que há uma série de treinadores e academias que contribuem para o êxito de atletas. Em Tóquio, por exemplo, três dos sete pugilistas brasileiros nasceram na Bahia."Somos um celeiro do boxe. A seleção é cheia de atleta baiano, é onde tem as escolas de boxe como a academia Champion, de onde eu vim e tive uma base boa de treino. Temos Pedro Lima, campeão pan-americano [Rio-2007]; Adriana Araújo, também da equipe, chegou no bronze [Londres-2012]; e Bia já superou a meta garantindo a prata e indo buscar o ouro", enumerou.A disputa do ouro acontece na madrugada de sábado para domingo, às 2h. Sergipe já deu ideia para a filha, que é uma das mais baixinhas da categoria até 60kg na Olimpíada: partir para cima, garantir o ouro e ficar na altura das adversárias quando estiver no primeiro lugar do pódio.