Prêmio Braskem de Teatro celebra a arte livre com manifestos

Em sua 25ª edição, celebração entoou mensagens de respeito às minorias; veja vencedores

  • Foto do(a) author(a) Naiana Ribeiro
  • Naiana Ribeiro

Publicado em 14 de junho de 2018 às 00:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Artistas das mais diferentes gerações do teatro baiano aproveitaram a noite de ontem para mostrar que toda arte é, essencialmente, política. Com tema A Arte é Livre, o 25º Prêmio Braskem de Teatro trouxe textos, monólogos, músicas, danças, vídeos e performances em clima de manifesto. Também foram entoadas mensagens de respeito às minorias.

CONFIRA ESPECIAL DO PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO

Não faltaram críticas à onda conservadora que caiu em cima da produção artística do país – que gerou proibição de exposições como a Queermuseu e de espetáculos como La Bête e O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – e manifestos a favor do registro profissional de artista (DRT).

Premiado nas categorias espetáculo adulto, direção e ator, Um Vânia, de Tchekhov foi o grande vencedor da noite. Concebido como uma homenagem a Gideon Rosa, o espetáculo é uma versão de um dos maiores clássicos do teatro mundial e traz cenas da vida do campo retratado as frustrações de uma decadente família na virada do século XIX para o XX. Veja todos os vencedores abaixo. Repleta de críticas, cerimônia destacou-se pelas performances e tom político (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Outro assunto que movimentou o Teatro Castro Alves foi a abordagem policial violenta sofrida pelo ator Leno Sacramento, 42 anos. O protagonista do espetáculo Encruzilhada, que concorria ao Prêmio na categoria especial, foi baleado em uma das pernas na tarde de ontem no Centro de Salvador. “Ele levou um tiro por ser um negro em uma bike, porque foi confundido por outro negro em uma bike.  Só quem é negro, mulher, gay e pobre, sabe o real país em que vivemos”, escreveu Gil Vicente Tavares, que não pôde ir à cerimônia. Ele venceu o prêmio de melhor diretor pelos espetáculos Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia. 

Sua mensagem foi lida pelo ator Marcelo Praddo, que levou a estatueta de melhor ator para casa pela atuação nas obras de Gil Vicente. “Estamos aqui para entreter e divertir, mas estou muito feliz que dois espetáculos que nasceram no meio de dois turbilhões venceram”, completou. Mariana Moreno ganhou o prêmio de Melhor Atriz pelo espetáculo Uma Mulher Impossível.  Mariana Moreno agradeceu sua família e equipe de trabalho (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Um dos momentos marcantes do evento foi a homenagem a Antonio Pitanga, que celebra 60 anos de carreira, e fez um discurso emocionado na cerimônia. “É uma alegria estar aqui lutando pela arte e vendo pessoas de várias idades valorizando o nosso trabalho. Mas é triste, em pleno 2018, ainda estamos lutando por questões básicas, como raça, cor, gênero e orientação sexual”, lamentou. Além dele, também foram condecoradas as atrizes Ivana Chastinet e Frieda Gutmann, mortas em agosto do ano passado e em janeiro deste ano; respectivamente; e o cabeleireiro e maquiador Deo Carvalho. Confira fotos do evento.

[[galeria]] À frente da cerimônia pela sexta vez, Luiz Marfuz ressaltou que a celebração trouxe a metáfora da tempestade como forma de mostrar os tensionamentos vividos pela sociedade contemporânea. “Estão ligados à própria história das artes, que em determinados momentos é atingida por um raio de intolerância oriundo de diversos grupos e instituições”, explicou o diretor artístico, que venceu o prêmio na categoria Melhor Texto. 

A diretora de marketing institucional da Braskem, Cláudia Bocciardi, ressaltou a importância do prêmio para a arte e para o teatro baiano. "É uma honra celebrar e participar com vocês e poder reconhecer a empreitada do teatro baiano, reconhecer o que os profissionais de teatro fazem todos os dias. Gostaria de retribuir a vocês e dizer nosso muito obrigado por participar desse momento", disse. 

O gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia e Alagoas Milton Pradines acrescenta que o tema abordado, liberdade, é de extrema importância: “É quase um oxigênio para a civilização. Nada existe sem liberdade. A cultura, além de resgatar as tradições e preservar a memória do povo, é também uma grande geradora de emprego e renda”.

De abril a dezembro do ano passado, a comissão julgadora do prêmio avaliou 61 peças teatrais. Vinte espetáculos que estrearam em Salvador ano passado concorreram a pelo menos uma das oito categorias. Os vencedores das categorias Espetáculo Adulto e Espetáculo Infantojuvenil receberão um prêmio no valor bruto de R$ 30 mil cada, enquanto os demais vencedores vão ser contemplados com um prêmio no valor bruto de R$ 5 mil cada.

Os vencedores do  25º Prêmio Braskem de Teatro 

Espetáculo Adulto: Um VâniaEspetáculo Infantojuvenil: Virgulino Menino, Futuro LampiãoDireção: Gil Vicente Tavares (Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia, de Tchekhov)Ator: Marcelo Praddo (Os Pássaros de Copacabana e Um Vânia, de Tchekhov)Atriz: Mariana Moreno (Uma Mulher Impossível)Texto: Luiz Marfuz (Traga-me a Cabeça de Lima Barreto)Revelação: Letícia Bianchi (pela direção do espetáculo Eudemonia)Categoria Especial: Gerônimo Santana (pela composição musical do espetáculo De Um Tudo)