Prêmio de Chloé Zhao como diretora é esperança de mais diversidade

Chinesa foi a segunda mulher a vencer Oscar de direção

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de abril de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Chris Pizzello-Pool/Getty Images/AFP

Nos últimos anos, não faltaram protestos contra a ausência de minorias entre os indicados ou premiados ao Oscar. Basta lembrar que em 2015 a hashtag #OscarsSoWhite (Oscar branco demais) tomou conta das redes sociais. Naquele ano, não havia sequer um negro nas categorias ator ou atriz. Na época, gerou manifestações também a ausência de mulheres entre roteiristas e diretores indicados.

Na premiação do último domingo, seis anos depois daquelas manifestações virtuais, a chinesa Chloé Zhao, que venceu o Oscar de melhor direção por Nomadland, mostrou que a pressão da sociedade pode ter funcionado: ela foi a primeira asiática a conquistar a cobiçada estatueta na categoria e é a segunda mulher a levar o prêmio, 11 anos depois de Kathryn Bigelow, vencedora por Guerra ao Terror.

E teve mais: a britânica Emerald Fennell levou a estatueta de melhor roteirista por Bela Vingança. Entre roteiristas concorrentes, Emerald era a única mulher e derrotou figuras importantes como Aaron Sorkin, vencedor em 2011 por A Rede Social e que concorria agora por Os 7 de Chicago. Esta era a quarta indicação de Sorkin.

Além disso, Emerald, como Zhao, também concorria a melhor direção, por Bela Vingança. Pela primeira vez na história, a lista de indicações na categoria tinha duas mulheres. Mas, apesar da evolução, ainda é pouco: na história do Oscar, são apenas sete mulheres indicadas como diretoras, em 93 anos de premiação. O total de indicados até hoje é de aproximadamente 450.

A cineasta baiana Hilda Lopes Pontes, 29 anos, diretora dos curtas Onze Minutos e Estela, avalia a importância da vitória de Zhao:“Eu acho que a representatividade é sempre é algo positivo para inspirar outras pessoas a terem coragem de lutar por seu espaço, por seus sonhos. Para mim, conhecer a obra de diretoras e as ver tendo reconhecimento me deu mais coragem para continuar”.Outra baiana, a crítica de cinema Amanda Aouad, acredita que, embora o Oscar seja voltado para a indústria americana, a premiação tem reflexo mundial e, por isso, a vitória de Zhao é importante:“É a premiação mais conhecida e popular, uma espécie de vitrine. A vitória faz com que as pessoas busquem conhecer outras obras suas e também faz com que ela se torne uma referência e inspiração para outras, não apenas por ser uma mulher, como por ser uma mulher chinesa em um ano que pela primeira vez duas mulheres foram indicadas na categoria”.Hilda diz que ainda falta muito para haver equidade entre homens e mulheres no cinema, tanto no Brasil, como no mundo. Mas ela cita duas baianas que se destacaram recentemente na produção cinematográfica nacional: Gabriela Amaral Almeida (O Animal Cordial) e Viviane Ferreira (Um Dia com Jerusa).

China Chloe Zhao, de 39 anos, nasceu em Pequim, na China e morou em Londres. De lá, foi para os EUA e estudou cinema em Nova Iorque, onde foi aluna de Spike Lee. Nomadland é seu terceiro longa. Foi o segundo filme dela, Domando o Destino (2017), que chamou a atenção da crítica. Zhao fez história ao ter quatro indicações na mesma noite: diretora, roteirista, montadora e melhor filme - ela é uma das produtoras de Nomadland e, por isso, seu nome aparece entre os indicados na premiação mais cobiçada.

Mas o autoritário governo chinês parece não ter se entusiasmado com a vitória: todos os posts que faziam referência a Zhao e a seu filme foram retirados da rede social Weibo, depois que nacionalistas desencavaram entrevistas antigas dela, em que fazia críticas a seu país. Nem a imprensa chinesa não repercutiu a vitória.