Presidenciáveis receberão carta com recomendações da indústria sobre clima

CNI entregará o documento, obtido com exclusividade pelo CORREIO Sustentabilidade, em 4 de julho

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  • Murilo Gitel

Publicado em 28 de junho de 2018 às 18:10

- Atualizado há um ano

Com os objetivos de evitar os riscos representados pelos eventos climáticos extremos ao setor industrial e, ao mesmo tempo, oferecer propostas ao governo brasileiro sobre esse tema, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregará uma carta no dia 4 de julho aos candidatos à Presidência da República, durante evento que reunirá líderes empresariais em Brasília.

O documento “Mudanças Climáticas: estratégias para a indústria”, obtido com exclusividade pelo CORREIO Sustentabilidade, traz 15 recomendações em sete temas específicos: governança, financiamento, competitividade, energia, tecnologia e inovação, florestas e adaptação às mudanças climáticas. De acordo com a CNI, seis candidatos à Presidência já confirmaram presença no evento. Setor industrial vai entregar carta com propostas aos presidenciáveis (Foto: José Paulo Lacerda/CNI) Entre as proposições está a construção de um novo modelo de governança do clima em que o governo federal coordene de forma centralizada e integrada as iniciativas dessa agenda e busque a harmonia dos marcos regulatórios nas diferentes esferas (municipal, estadual e federal). 

Além disso, a CNI defende o fortalecimento de mecanismos financeiros adequados às necessidades do setor industrial, o acesso facilitado ao crédito, principalmente a pequenas e médias empresas, e o desenvolvimento de parcerias internacionais para financiamento de iniciativas que estimulem a economia de baixo carbono.Abrangência“É um documento bem abrangente que considera alguns entraves e também pontos de melhoria, fazendo um contexto de como a indústria vem trabalhando nessa agenda de clima, e traz algumas questões que consideramos fundamentais para o próprio entendimento dessa agenda”, destaca o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo. Davi Bontempo diz que documento é bem extenso e considera alguns entraves e pontos melhorias (Foto: José Paulo Lacerda/CNI) O setor industrial também propõe a revisão da Política Nacional sobre Mudança do Clima, para que se considere o conjunto da economia na redução de emissões e reconheça os esforços já realizados pela indústria. Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, os processos industriais são responsáveis por apenas 7% das emissões totais brasileiras, o segundo melhor desempenho em emissões de gases de efeito estufa entre os setores da economia brasileira. “Isso explica-se, sobretudo, pela adoção de melhorias na eficiência dos processos industriais e pela matriz elétrica brasileira ser baseada, principalmente, em energias renováveis”, explica Bomtempo.

Tecnologias Outra questão importante para o cumprimento dos compromissos assumidos no Acordo de Paris [estabelecido em 2015 pela ONU] é o desenvolvimento tecnológico e a transferência de tecnologias de baixo carbono. Para isso, a CNI defende a transição gradual das operações industriais existentes, a adoção de tecnologias adequadas à realidade industrial brasileira e a simplificação do acesso a inovações, sobretudo por pequenas e médias empresas.

O estudo alerta ainda para a necessidade de aumento e segurança no fornecimento de energia a um preço competitivo. Para isso, a CNI propõe a redução dos impactos da intermitência das fontes eólica e solar, a criação de programas para capacitação das empresas em gestão eficiente de energia, o fomento à geração de energia a partir de termelétricas a biomassa florestal e aumentar a eficiência e o desenvolvimento de tecnologias que contribuam para redução de emissões de gases de efeito estufa nas usinas térmicas.

Investimentos Estudos realizados pela CNI revelam que são necessários investimentos de cerca de R$ 316 bilhões, no setor elétrico e de R$ 140 bilhões, no setor sucroenergético, em vista do cumprimento das medidas adicionais da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, documento do governo que registra os compromissos do País junto ao Acordo de Paris. 

Em 2015, durante a Cúpula Climática de Paris, o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025. Além disso, indicou uma contribuição indicativa subsequente de redução de 43% abaixo dos níveis de emissão de 2005, em 2030. Contudo, não foi estabelecida uma meta absoluta específica para os setores da economia.

Reflorestamento  Outra meta do compromisso brasileiro é reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e, para isso, a CNI vê a necessidade de se fortalecer e integrar a cadeia produtiva de base florestal, principalmente pela diversificação de mercados consumidores, entre os quais estão construção civil, biorrefinarias, carvão vegetal, energia a partir da biomassa, entre outros. Além disso, o setor propõe a remoção de barreiras para atividades de reflorestamento e manejo florestal sustentável. “Essa agenda traz muitas oportunidades para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, mas, para avançar, é preciso desenvolvermos novas alternativas para o acesso a recursos financeiros e eliminar barreiras ao desenvolvimento de novos negócios em baixo carbono”, defende Bomtempo.

De acordo com o documento, os principais impactos diretos das mudanças climáticas para a indústria brasileira são: •    Aumento da competição por recursos sensíveis ao clima, tais como água e energia; •    Interrupção de atividades de portos, ferrovias e estradas, o que implica no encarecimento do preço da matéria-prima e atraso de entregas; •    Aumento do custo da energia e na produção de biocombustíveis; •    Danos físicos aos ativos da indústria; •    Redução da eficiência de equipamentos, exigindo mudanças operacionais, até mesmo influenciando a demanda por serviços específicos; e •    Impactos sobre a infraestrutura crítica  relacionada à energia, ao transporte, às telecomunicações e ao fornecimento de água, o que implicaria em consequências negativas à indústria brasileira (CNI, 2015).