Preso líder de facção criminosa que movimentava R$ 1 milhão por mês

João Cleison era o Valete de Paus do Baralho do Crime, e chefiava o BDM

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  • Gil Santos

Publicado em 5 de março de 2018 às 16:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Polícia Civil/Divulgação

João Cleison Mota Cavalho tinha 27 anos quando foi preso pela primeira vez, em Ribeira do Pombal, no Nordeste do estado. Era abril de 2013, e ele foi acusado de envolvimento em roubo a banco e explosão de caixa eletrônicos. No ano passado fugiu da cadeia, mas foi preso novamente no sábado (3). Hoje, a polícia suspeita que Didi, como ele é conhecido, movimenta mais de R$ 1 milhão por mês em roubos e tráfico de drogas.

Ele foi apresentado na sede da Polícia Civil, na Piedade, na manhã desta segunda (5). Segundo o diretor do Departamento de Polícia do Interior (Depin), Flávio Góis, João Cleison nasceu em Ribeira do Pombal e começou a vida criminosa participando de assaltos no próprio município. Em 2012,  foi preso por roubo a banco e explosão de caixas eletrônicos. (Foto: Reprodução) “Nessa época, ele estava começando a se envolver com o tráfico de drogas, mas o grupo dele não era ligado a nenhuma facção criminosa, era independente. Naquele período, duas facções criminosas grandes disputavam os pontos de tráfico no município. Ele matou o líder de um desses grupos, Claudiano dos Santos da Paixão, com a intenção de entrar na disputa”, contou o diretor.

O assassinato aconteceu em 2012 e, em abril de 2013, a polícia conseguiu prender João Cleison. Ele foi condenado e encaminhado para cumprir pena no Conjunto Penal de Feira de Santana, no Centro-Norte da Bahia. Na cadeia, tornou-se líder da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM), o que lhe rendeu o Valete de Paus, no Baralho do Crime – ferramenta criada pela Secretaria da Segurança Pública que reúne os presos mais perigosos do estado. Didi chegando para a apresentação na sede da Polícia Civil (Foto: Gil Santos/ CORREIO) Negócios A prisão deveria servir para ressocializar o preso, mas, na prática, os dois primeiros anos em que esteve atrás das grades serviram para João Cleison conhecer e se aproximar de integrantes do BDM, e ampliar os negócios. Em 2015, já era considerado um preso perigoso e foi transferido de Feira de Santana para a Unidade Especial Disciplina (UED), estrutura de segurança máxima do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador.

João Cleison passou dois anos nessa nova morada, na galeria C, até que em abril de 2017, ele e outros 24 internos fugiram da UED durante o banho de sol. A polícia ainda está investigando quais foram os passos dele depois da fuga, mas os investigadores já sabem que o fugitivo passou por cidades do interior da Bahia, Rio de Janeiro, Sergipe e Alagoas.

Os números sobre João Cleison impressionam. Segundo a polícia, desde que fugiu, o garoto do interior teria mandado matar 15 rivais para poder assumir o comando do tráfico de drogas em, pelo menos, oito cidades, e tinha oito mandados de prisão em aberto - por crimes como homicídio, tráfico de drogas e roubo.

Segundo a polícia, o traficante atuava em Ribeira do Pombal, Olindina, Nova Soure, Paulo Afonso, Euclides da Cunha, Cícero Dantas, Tucano e Feira de Santana. Material apreendido com João Cleison (Foto: Gil Santos/ CORREIO) Disputa João Cleison foi preso na manhã deste sábado (3), depois de uma investigação conjunta entre as policias da Bahia e de Alagoas. O traficante estava morando em um condomínio, em Maceió, e vivia como empresário. Segundo os investigadores, ele comprava e revendia terrenos, casas, apartamento e automóveis. O trabalho seria uma fachada para esconder a atividade com o tráfico de drogas e 'lavar' dinheiro.

O diretor do Depin contou que, desde que deixou a cadeia, Didi não voltou para Ribeira do Pombal, apesar de continuar liderando o tráfico à distância. Ele disputava as vendas com outras duas facções criminosas: Caveira e Katiara.

O grupo Caveira era liderado no município por um traficante conhecido como Bactéria, que foi morto durante confronto com policiais, em dezembro do ano passado. Já a Katiara era liderada por Maiquinho, traficante que estava preso no Conjunto Penal de Paulo Afonso e que foi transferido para a unidade de Serrinha, em janeiro.

A polícia teme que a retirada de circulação dos três principais traficantes da região provoque uma disputa mais acirrada entre os criminosos que estão livres. “A morte de Bactéria, a transferência de Maiquinho e a prisão de Didi são só uma gota dentro de um oceano. Agora eles não vão querer perder terreno, então, vão começar a dá 'salve', mandar matar os rivais. Agora é que começa a nossa preocupação”, afirmou o diretor do Depin.

A Polícia Militar também mostrou preocupação e disse, em nota, que está trabalhando com a Polícia Civil para prender outros integrantes da quadrilha de João Cleison. Dois comparsas do traficante já foram presos: Reuni, em Olindina, e Zominho, em Nova Soure.

Prisão Didi foi preso com uma carteira de identidade e uma Carteira Nacional de Habilitação falsas, em nome de Adriano Santos Gomes. A polícia ainda não sabe se o nome foi criado pelo traficante ou se os documentos foram clonados de alguma vítima.

Os policiais encontraram com ele um veículo Honda City e uma pistola calibre 9 mm de uso restrito das Forças Armadas, além de munição. João Cleison não resistiu à prisão, e preferiu o silêncio durante apresentação na sede da Polícia Civil, na Piedade, na manhã desta segunda (5). Ele não respondeu às perguntas feitas pelos repórteres e manteve-se o tempo todo de cabeça baixa.

João Cleison também foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma de uso restrito, e será encaminhado para a unidade de Serrinha, a mesma onde está um de seus rivais, o Maiquinho da Katiara. Segundo a polícia, além de movimentar R$ 1 milhão por mês, e controlar o tráfico em oito cidades, Didi estava ampliando os negócios, estabelecendo conexões com grupos de outros estados, em um nível de crime cada vez mais organizado. RG falso encontrado com João Cleison (Foto: Gil Santos/ CORREIO)