Preta, talentosa e nº 1 do Nordeste: conheça a ginasta Ana Vitória, cria do Subúrbio

Garota de 10 anos sonha em estar na seleção brasileira e conquistar medalhas

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  • Wendel de Novais

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Preta, simpática e com um talento singular na ginástica. Uma descrição que, facilmente, poderia ser usada para falar de Rebeca Andrade, medalhista do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Neste caso, estamos falando de Ana Vitória Silva, 10 anos, atleta da ginástica rítmica que, no último campeonato brasileiro da modalidade, realizado esse mês, se tornou a ginasta número um da sua categoria no Nordeste e a sétima do país. Conquista gigantesca para uma soteropolitana criada no bairro de Fazenda Coutos I.

Ela treina desde quando tinha apenas cinco anos e tem como sonho estar entre as melhores da ginástica rítmica. “Foi incrível, eu amei! Foi uma experiência ótima porque realizei meu sonho de ser a melhor do Nordeste e ficar entre as melhores do Brasil. Eu também tô muito feliz por ter representado bem a Bahia”, lembra Ana, cheia de animação.  Ana Vitória é de Fazenda Coutos I (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Igualmente empolgada está também a treinadora da atleta, Eliana Talent. Apesar da alegria com o resultado, ela não fica surpresa com o patamar que a pupila alcançou."Ela é um talento nato. E essa conquista não me surpreendeu porque a gente trabalhou muito. Foram vários estágios de treinamento para levar o nome da Bahia para o alto. Uma criança, suburbana e negra praticando a ginástica rítmica já é algo incomum. No nível que ela faz, é ainda mais lindo e a gente sabia que ela chegaria nesse ponto", explica ela.

A treindora viu em Ana o talento para o esporte quando ela ainda estava no balé e fez uma aula experimental de ginástica. Eliana foi até a mãe da atleta, Maria Conceição da Silva, 45, para convencê-la a trocar a filha de esporte. Conceição, como é chamada, até ficou se questionando se deveria fazer isso no começo, mas comprou a ideia e levou a pequena para a ginástica. “Eu fiquei meio em dúvida porque ela era pequenininha e não sabia muito bem o que queria, mas aí eu acabei aceitando porque Ana quis mudar”, relata.  Ana e a alegria para treinar (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Paixão pela ginástica

A decisão colocou a pequena em um esporte para ela demonstrar o seu talento. De quebra, se tornou a maior paixão da vida de Ana Vitória, que não pensa em outra coisa a não ser na ginástica.“Amo treinar, é meu foco. É que eu me divirto fazendo ginástica. Quando tô em casa antes de ir para o treino, fico muito ansiosa. Todo dia, quando tá perto de ir, fico falando ‘mainha, bora que já tá no horário, vamos logo se arrumar”, conta Ana, aos risos ao lado da mãe. Quando ela não está próxima de alguma competição, vai de segunda a sexta no centro de treinamento da Talent, em Paripe, no Subúrbio Ferroviário da capital. Já em época de torneios, treina de segunda a sábado. Isso sem cansar, como conta a treinadora. "Aninha é muito focada e, pra ela, não tem tempo ruim. Se for pra treinar 24 horas, ela vai treinar 24 horas, é desse jeito. E até quando tá em casa, fica me ligando e mandando vídeo de exercício perguntando se tá fazendo certo”, diz.

Tudo isso para alcançar metas compatíveis com grandes atletas do cenário mundial na modalidade. A pequena quer mesmo é estar no nível das irmãs Dina e Arina Averina, russas expoentes da ginástica rítmica.“Quero ser que nem elas, competir em torneios grandes como Pan-Americano, Mundial, Jogos Olímpicos. Elas são russas, mas eu quero ser da seleção brasileira e ganhar medalhas, meu foco é esse”, declara Ana.  Ana Vitória e a treinadora Eliana (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Grandes objetivos que, segundo Conceição, só são possíveis por causa da Talent, única academia de ginástica rítmica do Subúrbio. “Ela é um orgulho pra mim e tem uma força de vontade enorme, mesmo com 10 anos. Tudo isso aconteceu graças a Talent, porque a gente não teria condição para bancar. Até pra gente viajar a professora correu atrás, fez vaquinha e nos levou”, explica a mãe da atleta. 

A Talent é uma academia sem patrocínio e contempla, atualmente, 50 crianças do Subúrbio que praticam ginástica gratuitamente.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo