Primeiro ator a ganhar o Oscar estrelou filmes nazistas e foi esquecido

Emil Jannings foi premiado por atuação em duas produções

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  • Roberto Midlej

Publicado em 25 de abril de 2021 às 09:00

- Atualizado há um ano

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O CORREIO está publicando uma série de reportagens neste domingo (25) para você entrar no clima do Oscar. Conheça nesta segunda parte a história dos primeiros premiados. 

O primeiro vencedor do Oscar de Melhor Filme foi Asas (Wings), que está disponível no catálogo do Telecine Play. A produção levou ainda o troféu de Efeitos Especiais. Naquela cerimônia de 1929, que durou apenas 15 minutos, concorriam filmes produzidos em 1927 e 1928. O filme mudo Asas venceu o primeiro prêmio de Melhor Filme As categorias de ator e atriz, no entanto, tinham uma particularidade, o que as tornava bem diferente do que ocorre hoje: os concorrentes não precisavam ser indicados especificamente por um filme. A indicação acontecia pelo conjunto de títulos em que o artista havia atuado.  Emil Jannings, o ator que levou a estatueta, ganhou pelos filmes A Última Ordem (1928) e Tortura da Carne (1927). A atriz Janet Gaynor levou a premiação por Sétimo Céu (1927), O Anjo das Ruas (1928) e Aurora (1927). A partir da quarta cerimônia, o sistema mudou, e os profissionais passaram a ser premiados por um desempenho específico em um filme. Jannings, mais tarde, estrelou filmes de propaganda nazista e a indústria do cinema, após a Segunda Guerra, condenou-o ao ostracismo.

O prêmio de melhor diretor também tinha outra particularidade, que funcionou somente naquele ano: os indicados eram separados entre drama e comédia. O primeiro foi vencido por Frank Bozarge, por Sétimo Céu. O segundo ficou com Lewis Milestone, por Dois Cavaleiros Árabes (1927). Um dos concorrentes de Milestone era Charles Chaplin, por O Circo (1927). O filme com o vagabundo Carlitos ainda tentou os prêmios de roteiro e ator, mas saiu de mãos vazias.  Chaplin venceu um Oscar honorário em 1927 Chaplin, um dos maiores cineastas da história, só ganhou um Oscar na carreira. Por Luzes da Ribalta (1952), ficou com o prêmio de Melhor Trilha Sonora. Um dos gênios do cinema nunca foi premiado como ator, diretor, roteirista ou produtor. Mas naquele primeiro Oscar, ele levou um troféu honorário, feito que iria se repetir em 1972.

Somente em 1935, na sétima edição do prêmio, a Academia instituiu a regra que vale até hoje: só podem ser indicados filmes que estrearam em território americano entre 1º de janeiro e 31 de dezembro do ano anterior à cerimônia. Em 1930, por exemplo, concorriam produções que haviam estreado entre 1º de agosto de 1928 e 31 de julho de 1929. Em 1931, disputavam a estatueta produções que chegaram aos cinemas entre 1º de agosto de 1929 e 31 de julho de 1930. E foi assim até 1934.

Filme Estrangeiro

Até 1956, a festa era restrita ao cinema americano. Foi somente na 29ª edição, em 1957, que a categoria Melhor Filme Estrangeiro foi criada.  Na época, era chamada de Best Foreign Language Film (Melhor Filme em Língua Estrangeira). Desde 2020, mudou o nome para Best International Feature Film. Ao contrário do que ocorre em outras categorias, nessa o filme não precisa ter estreado em território americano para concorrer. O primeiro vencedor foi o italiano Vítimas da Tormenta, de Vittorio de Sica. Poster de Vítimas da Tormenta, de Vittorio de Sica, primeiro vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro O critério mais importante aqui é a língua que predomina no filme, que não pode ser o inglês. O candidato não pode ter sido produzido no território dos Estados Unidos, mas isso não é o bastante: ele também não pode ser falado em inglês. Por exemplo: um filme produzido no Brasil não pode concorrer se o idioma predominante nele for o inglês. Foi até por isso que surgiu uma polêmica quando se especulou a indicação do brasileiro Bacurau (2019) como filme estrangeiro, já que tinha muitas cenas faladas em inglês. Portanto, a origem do filme importa menos que a sua língua. Logo, filmes britânicos falados em inglês estão excluídos da categoria. 

No entanto, um longa falado em qualquer idioma pode tentar o troféu na categoria mais concorrida da noite, que é a de Melhor Filme. Isso tem acontecido com frequência nos últimos anos. Somente na década passada, foram três vezes: Amor (2012), de Michael Haneke, falado em francês; Roma (2018), de Alfonso Cuarón, em espanhol; e Parasita (2019), de Bong Joon-ho, em coreano. Somente Parasita conseguiu o prêmio máximo. Neste ano, o também sul-coreano Minari tenta repetir a façanha. Janet Gaynor, vencedora do Oscar de Melhor Atriz em 1929 Além de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Ator, a outra categoria mais prestigiada é a de Melhor Roteiro, dividida em duas: Melhor Roteiro Original e Melhor Roteiro Adaptado. Na primeira, só concorrem filmes com histórias criadas diretamente para o cinema, enquanto na segunda, entram roteiros cujas histórias existiam em outro formato, como romance ou peça de teatro, e foram adptadas ao cinema. 

A separação entre roteiro original e adaptado existe desde a primeira edição, quando venceram, respectivamente Paixão e Sangue e O Sétimo Céu. Em 1930, no entanto, não houve essa distinção e o vencedor foi Alta Traição (1928). Mas logo no ano seguinte, houve novamente a separação.

Até hoje, somente três longas levaram os cinco prêmios mais importantes, de Filme, Roteiro (Adaptado ou Original), Atriz, Ator e Direção: Aconteceu Naquela Noite (1934); Um Estranho no Ninho (1975) e O Silêncio dos Inocentes (1991). Oito filmes foram indicados aos cinco prêmios, mas perdeu em todas elas. No total, 43 filmes tentaram o Big Five, como é apelidada essa vitória múltipla.