Procuradora foi excluída de audiência com Lula após Moro reclamar, diz jornalista

Novo vazamento mostra orientação para excluí-la após crítica do então juiz

  • D
  • Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2019 às 19:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

(Foto: Divulgação) A procuradora Laura Tessler foi excluída de uma audiência com o ex-presidente Lula durante seu julgamento em 2017, após reclamação do então juiz Sergio Moro, segundo informação do jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews, em parceria com o The Intercept Brasil. A informação está baseada em trecho de conversa vazado entre outros dois procuradores, Deltan Dallagnol, que comandava a Lava Jato, e Carlos Fernando. Moro foi inquerido sobre o tema durante sua audiência no Senado e negou qualquer interferência no trabalho dos procuradores.

A primeira leva de matérias do Intercept Brasil já mostrava uma reclamação de Moro em relação à procuradora, em conversa com Dallagnol. No dia 13 de março de 2017, ele diz que ela precisaria de um "treinamento" para melhorar o desempenho em audiência.

Moro – 12:32:39. – Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.Dallagnol – 12:42:34. – Ok, manterei sim, obrigado!

Dezessete minutos depois de receber a mensagem do juiz, Dallagnol conversa com o colega Carlos Fernando e combina de modificar a escala para que outros dois procuradores estejam presentes na audiência com Lula, ao invés de Laura Tessler.

12:42:34 Deltan Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?

13:09:44 Não. O que ele disse?

13:11:42 Deltan Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo

13:12:28 Deltan (Vc vai entender por que estou pedindo isso)

13:13:31 Ele está só para mim.

13:14:06 Depois, apagamos o conteúdo.

13:16:35 Deltan Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.

13:17:03 Vou apagar, ok?

13:17:07 Deltan apaga sim

13:17:26 Apagado.

13:17:26 Deltan Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela

13:18:11 Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.

13:18:32 Apaguei.

Na audiência no Senado, Nelsinho Trade (PSD-MB) perguntou se Moro "participou da orientação de trocas de agentes protagonistas nessa operação". Ele negou e fez referência a Tessler, sem citar o nome, dizendo que ela ficou até o final na Lava Jato. "Senador, pelo teor das mensagens, se elas forem autênticas, não tem nada de anormal nessas comunicações. O exemplo que Vossa Excelência colocou é o claro exemplo de um factoide. Eu não me recordo especificamente dessa mensagem, mas o que consta no caso divulgado pelo site é uma referência de que determinado procurador da República não tinha o desempenho muito bom em audiência e para dar uns conselhos para melhorar. Em nenhum momento no texto, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais, até hoje, dentro da operação Lava Jato (…). Se aconteceu, de fato, não tem nada de ilícito. Não estou comandando a força-tarefa da Lava Jato".

Embora realmente tenha continuado na operação, ela não estava presente em 10 de maio de 2017, quando o ex-presidente Lula depôs pela primeira vez em Curitiba, para Sergio Moro. Os procuradores presentes eram Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, o Julio e Robinho citados nas mensagens de Dallagnol.

O Ministério da Justiça divulgou uma nota negando qualquer ilícito. Os procuradores citados não se manifestaram. Leia a nota:

Sobre suposta mensagem atribuída ao Ministro da Justiça e Segurança Pública esclarece-se que não se reconhece a autenticidade, pois pode ter sido editada ou adulterada pelo grupo criminoso, que mesmo se autêntica nada tem de ilícita ou antiética. A suposta mensagem já havia sido divulgada semana passada, nada havendo de novo.

Ministro falou ao Senado O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado que não pode reconhecer a autenticidade de mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil com procuradores da Lava Jato e voltou a dizer que não há irregularidade nos conteúdos apresentados, mas "sensacionalismo" Ele declarou novamente que não praticou nada de ilícito enquanto era juiz responsável pelo julgamento de casos da operação em Curitiba. 

"Evidentemente pode ter havido alguma troca de mensagens, mas nada que não tenha sido normal se fosse presencial. Não estou dizendo que reconheço autenticidade, não tenho como dizer disso. Do texto, como eu li particularmente e muitas outras pessoas que se pronunciaram sobre o assunto não viram qualquer espécie de infração." Ele ainda levantou a possibilidade de as mensagens terem sido alteradas antes de serem publicadas. Moro alegou não possuir mais o conteúdo das conversas. 

O ex-juiz da Lava Jato registrou que seu celular foi atacado no dia 4 de junho e que informou o ocorrido à Polícia Federal. De acordo com informações citadas por ele, não houve captura do conteúdo do aparelho. Ele reconheceu ter usado o aplicativo Telegram durante um período e parado de usar o mesmo em 2017. 

Engano Moro ainda afirmou que se enganou quando pensou que, saindo da magistrado, os ataques contra seu trabalho iriam acabar. "Eu sempre agi conforme a lei", declarou. "Não foi algo fácil, fui sempre constantemente vítima de ataques. Pensei que, saindo da magistratura e vindo a assumir essa posição de ministro, tenha se passado esse revanchismo, esses ataques ao trabalho do juiz enfrentando ali a corrupção com aplicação imparcial da lei, teriam acabado, mas pelo jeito aqui me enganei."

O ministro classificou o caro como uma invasão feita por um grupo criminoso organizado. Ele levantou três possibilidades como objetivos de uma eventual organização criminosa: invalidar condenação por corrupção e lavagem de dinheiro, obstaculizar investigações em andamento ou "simplesmente" atacar instituições.