Profissionais da cultura fazem ato simbólico e pedem bênção ao Senhor do Bonfim

Categoria está paralisada desde março por conta da pandemia; Associação foi criada para levantar fundos e distribuir cestas básicas aos mais necessitados

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 28 de agosto de 2020 às 19:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

A frente da Igreja do Senhor do Bonfim amanheceu diferente nesta sexta-feira. Em vez de fiéis, quem ficou parado em fente às escadarias foram 100 cases, nome do objeto que serve para guardar materiais dos profissionais da música. Neste caso, foram os cases daqueles trabalhadores da parte técnica de um evento - parte de um ato simbólico realizado pela Associação de Produtores de Eventos (APE), entidade que nasceu para dar uma força a essas pessoas durante a pandemia.

Um total de 50 profisisonais participaram do ato e depois ficaram para a celebração da missa às 7h. Pároco da Igreja do Senhor do Bonfim, o padre Edson Menezes confessa que tomou um susto ao chegar à Colina Sagrada. Ele imaginou que o ato teria algum tipo de barulho e foi conversar com os organizadores da manifestação para entender do que se tratava."Eles me explicaram que estavam ali para pedir as bênçãos ao Senhor do Bonfim e foram muito respeitosos. Nos solidarizamos muito, sabemos que foram os primeiros a parar e serão os últimos a retornar", disse o Padre. 100 cases foram colocados em frente à escadaria da Igreja (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Diretor da APE, André Pimenta conta que a pandemia acabou reunindo a classe de uma maneira forçada. Produtor do cantor Kevin Johnny, ele afirma que enquanto todo o mundo conseguia tirar o seu sustento ficou um pouco complicado de formalizar a associação. Com a pandemia, vieram as notícias de colegas passando dificuldades e foi aí que uma série de profissionais se juntou para colocar em prática o mantra de que a união faz a força.

De acordo com Pimenta, são mais de 1.600 profissionais cadastrados desde março em todo o Estado. A APE está realizando o trabalho de conseguir cestas básicas e distribuir para os profissionais que estão enfrentando dificuldades financeiras, sobrevivendo basicamente dos auxílios oferecidos pelo poder público.

"Pedimos para os artistas nas lives arrecadarem, também temos um diálogo com Prefeitura e Governo do Estado para conseguir levantar fundos e ajudar a categoria. Faz muito tempo que brigamos por formalização, acreditamos que isso nos ajudará na hora de enfrentar dificuldades no futuro", conta.

Também presente na Colina Sagrada, o presidente da APE, Adriano Malvar, afirmou que a ação tinha como objetivo respeitar as vidas que se forem e também pontuou que a associação não tem qualquer objetivo de forçar a barra para um retorno dos eventos.

"Simplesmente pedimos a benção do Senhor do Bonfim e também pedimos para tudo isso passar o mais rápido possível", falou.

André Pimentel disse que desde a Quarta-Feira de Cinzas que boa parte dos profissionais está parada. A rotina de estrada, eventos e correria faz falta no coração de quem tem esse ofício há 26 anos.

Pimentel diz que possui outras fontes de renda e que consegue contornar a situação. No entanto, essa não é a realidade de todo o mundo e por isso já foram mais de 3 mil cestas básicas distribuídas para trabalhadores da cultura durante esses cinco meses de paralisação.

Padre Edson confessa uma certa emoção ao ver os trabalhadores ali em frente da Igreja e classificou o momento como mais uma prova da importância que a Colina Sagrada e a Igreja do Senhor do Bonfim tem para a Bahia. "É um lugar onde as pessoas procuram e encontram fé e esperança, mesmo em um momento tão delicado". Grupo preferiu se reduzir em 50 pessoas para evitar aglomeração (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A Coluna Satélite noticiou na edição da última sexta (28) que Secretários e dirigentes de instituções públicas de cultura em várias prefeituras baianas acham praticamente impossível concretizar a distribuição de recursos destinados pelo Governo Federal, através da Lei Aldir Blanc, para reduzir a crise neste setor e socorrer profissionais da cultura afetados pela pandemia.

Esse prazo apertado tem dificultado a vida dos Municípios, que serão responsáveis por fazer o cadastramento das pessoas jurídicas. É esse o impasse vivido pela Prefeitura de Salvador, de acordo com a Fundação Gregório de Mattos. A mobilização no momento é para conseguir simplificar esse processo e a partir daí iniciar o cadastramento dos profissionais.

A Lei Aldir Blanc (LAB) tem o objetivo de repasse R$1,5 bilhão para o setor. Contudo, para concretizar a maioria dos editais seria necessário fazer concurso público, dispositivo que estabelece prazo de 45 dias para publicação do regulamento. Esse período dá pouca margem para finalizar todos os processos até 31 de dezembro, quando expira o decreto da pandemia.

De acordo com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA), , estão disponibilizados recursos na ordem de R$ 110 milhões para o estado da Bahia. Com base na regulamentação, 80% desse recurso será destinado para a renda emergencial. Artistas, produtores, técnicos, contadores de histórias, oficineiros, professores de escolas de arte e capoeira, mestres da cultura popular, e todos os demais profissionais envolvidos nas diversas áreas do fazer cultural podem ter acesso à renda emergencial, estando em correspondência aos critérios estabelecidos pela regulamentação federal.

"É uma infinidade de trabalhadores que, se não acessou o auxílio emergencial pago via Caixa, podem e devem realizar o cadastro no site da SecultBA. É necessário que todos estejam atentos à legislação federal que informa quais os requisitos que o trabalhador da cultura precisa ter para acesso à Renda Emergencial", diz a titular da pasta, Arany Santana.

Os beneficiários não devem ter emprego formal ativo; devem ter renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo ou total de até 03 salários mínimos (o que for maior). No ano de 2018, não deve ter recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70. O trabalhador também não está apto se já for beneficiado pelo auxílio emergencial da Caixa Federal, ou ser titular de benefício da Previdência Social (INSS), do seguro-desemprego, ou de programa de transferência de renda do governo federal (exceto bolsa família).

É também condição estar inscrito em cadastro específico. Na Bahia, servirá de base o Cadastro Estadual dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura, lançado em 14 de julho pelo Governo do Estado, através das secretarias estaduais de Cultura (Secult) e do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).

O cadastro é feito online, basta preencher o formulário disponibilizado neste link. A secretária Arany Santana classifica o cadastramento como imprescindível e aponta que "é a partir desse instrumento que poderemos chegar no trabalhador que hoje necessita da renda emergencial".