Projeto Sementinhas transforma resto da merenda escolar em adubo orgânico

A iniciativa que começou na escola já envolve as famílias e feirantes de Paripe

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 22:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Danilo Cardoso/Divulgação

Há um ano, a escola municipal Fernando Presídio, em Paripe, deu início ao cultivo de uma horta e um pomar. Com o passar do tempo, eles perceberam que precisariam crescer, mas não conseguiriam sem os insumos necessários para tornar a vegetação forte. Surgiu então a ideia de transformar os restos da merenda escolar em adubo orgânico que pudesse ser usado nas plantas e que essas, por sua vez, ajudassem a melhorar a qualidade da merenda. Hoje, a compostagem feita por eles serve à comunidade, auxiliando a uma destinação mais racional do lixo produzidos nas casas e nas feiras locais.

De acordo com a diretora Cássia Goés, se cada escola de Salvador mantivesse um espaço de compostagem, ainda assim não daria conta de todo o lixo orgânico produzido pelas feiras livres na capital baiana. “As pessoas, geralmente, imaginam que uma iniciativa como essa tem apenas a educação ambiental como foco, mas não imaginam como essa ação já nos ajudou a trabalhar os conceitos de massa, peso e medida para matemática; além de ter permitido que os estudantes possam experimentar um protagonismo muito bonito de se ver”, conta, sem esconder o orgulho.  Para ilustrar sua afirmativa, ela conta que, recentemente, a escola recebeu um novo professor e, como estava atendendo uma mãe, ela pediu a uma aluna que o apresentasse às instalações. “De repente, percebi que aquela jovem falava do espaço com muito desenvoltura, totalmente incluída nas decisões e nas realizações da escola”, completa.

Startup

O cantinho da compostagem existe há quatro meses e foi possível graças ao Projeto Sementinha, desenvolvido por meio de uma parceria entre a Secretaria de Cidade Sustentável (Secis) e a startup baiana SOLOS. A proposta começou envolvendo apenas a comunidade escolar. Depois foi a vez de mobilizar as famílias e agora eles já contam com a colaboração dos feirantes e comerciantes locais. Para se ter uma ideia da importância de ações como essas, basta lembrar o dado do Ministério do Meio Ambiente que afirma que mais de 50% dos resíduos gerados pelos brasileiros são orgânicos, o que corresponde na Bahia a cerca de 2,7 milhões de toneladas de restos de alimentos desperdiçados por ano. Todo esse resíduo produz gás metano, que é 23 vezes mais poluente que o CO2, produz chorume que contamina o lençol freático, gera mau odor e atrai animais vetores de doenças. Saville Alves e Gabriela Tiemy são sócias e fundadoras da startup baiana SOLOS e defendem que o Sementinhas pode ser desenvolvido em qualquer escola; (Foto: Danilo Cardoso/Divulgação) Para Saville Alves, sócia fundadora da SOLOS junto com Gabriela Tiemy, embora o projeto tenha sido pensado para essas escola, ele pode ser desenvolvido em qualquer outra unidade escolar, sobretudo porque parte da educação através de atividades lúdicas e transformadoras, buscando a interação entre conhecimento e prática na abordagem da Sustentabilidade. “O Projeto Sementinha parte da máxima defendida pela SOLOS pautada em: Plante, distribua, consuma e recicle”, esclarece, ressaltando que o projeto nasceu de uma conversa com André Fraga, da Secis, e que encontrou um vasto campo de desenvolvimento com a postura da professora Cássia, que mobilizou os funcionários e os pais em torno da resolução dessa questão da comunidade. 

Uma prova dos benefícios da iniciativa foi dada pela estudante Emily Santos,11 anos, do 5º ano. Atualmente, ela participa da separação dos alimentos, mas já plantou e colheu batata doce, amendoim e coentro. No entanto, a coisa mais importante ela conseguiu em casa: fazer com que a família aprendesse a selecionar o lixo produzido. “Hoje, minha vó, minha mãe, todo mundo deixa o lixo separadinho entre o que pode ser usado e o que vamos jogar fora realmente”, completa.

Vale salientar que os estudantes cuidam de todo o processo. São eles que separam o resto da merenda, sempre tomando cuidado para não usar carne. Para realizar a transformação do resto de merenda e dos restos de frutas e verduras em adubo, eles colocam os restos nas baias feitas com palletes. Aliado a isso, as crianças maiores se responsabilizam por mostrar as menores como cuidar do processo de plantio, colheita e compostagem. “Os funcionários da escola são os nossos principais apoiadores e conseguimos envolver todos os seguimentos, além de termos os alunos como multiplicadores das informações e das ações”, finaliza a diretora.