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Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Sérgio Magalhães destaca que crescimento demográfico deixará de ser principal fator de expansão urbana
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2012 às 15:32
- Atualizado há um ano
Para o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Sergio Magalhães, o crescimento demográfico vai deixar de ser o grande fator de expansão das cidades. O especialista diz que a questão central agora é qualificar o que já existe, respeitando a multiplicidade estabelecida, seja de forma ou de uso. E dar, principalmente, acesso à infraestrutura a todos os que vivem nas cidades, com a prestação de serviço público.
Magalhães, ex-secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro e um dos criadores do Projeto Favela-Bairro, ressaltou que essa infraestrutura envolve a presença efetiva do poder público em todas as áreas da cidade, inclusive no que se refere à segurança.
Em sua palestra no Fórum Agenda Bahia, A Cidade Brasileira: Território ou Serviço?, ele observou que, desde meados do século passado – período de grande crescimento – o Brasil viveu uma experiência “fantástica e, talvez, inédita” de urbanização, construindo duas dezenas de metrópoles e duas megacidades. Como resultado, 85% dos brasileiros vivem hoje em áreas urbanas. “Do ponto de vista urbano, já está bem claro que estamos alcançando a estabilidade demográfica. Temos um patrimônio material, cultural e político e já não há contestações sobre a necessidade de qualificar o que já existe”.
Limites
O arquiteto Sérgio Magalhães defendeu que é preciso evitar ao máximo expandir as áreas urbanas, substituindo essa política pelo resgate e otimização dos espaços já construídos. Para ele, esta é hoje a maneira correta de tratar urbanisticamente as cidades brasileiras, a fim de que se tornem, de fato, espaços de integração social. E as condições para que isso aconteça estão na conquista da sustentabilidade, mediante o enfrentamento do passivo socioambiental, e na universalização dos serviços públicos.
Sérgio Magalhães afirma que é possível tornar nossas cidades mais densas e compactas, diante da redução do ritmo do crescimento demográfico, resultado da diminuição do tamanho das famílias. “As metrópoles brasileiras ainda vão mudar, mas não vão crescer significamente. O Rio de Janeiro, por exemplo, é das cidades que menos têm crescido demograficamente nos últimos 30 anos. A tendência é perdermos população”, diz.
Na sua opinião, a expansão das cidades brasileiras está fortemente associada a uma grande mudança nas políticas públicas, em favor da indústria automobilística. A estrutura sobre trilhos que existia, com trens e bondes - que por si só delimitavam o território das cidades - foi substituída pelos ônibus. “Na medida em que se desconstrói o sistema sobre trilhos, estamos dizendo que o território está disponível para ocupação. Ao contrário do bonde, para o ônibus avançar não precisa quase nada, basta um caminho carroçável”, comentou.
Predadora
Na visão de Magalhães, as cidades não podem mais ser “predadoras de território”, aumentando o passivo socioambiental e criando um ambiente injusto para a sua população. A saída, então, seria reduzir o passivo ambiental habitacional, conter a expansão estimulando o adensamento, privilegiar o transporte público de alto rendimento e implantar redes de transportes multimodais.
Em debate realizado pouco depois de sua palestra, o especialista fez uma intervenção sobre o projeto de construção da ponte Salvador-Itaparica, mencionado pelo secretário estadual do Planejamento, José Sergio Gabrielli. Manifestando- se contrário a esse tipo de solução, ele argumentou que a expansão imobiliária que a implantação da obra atrairá para o entorno certamente vai degradar outra região da cidade, pelo deslocamento de população de outros locais.
E citou o exemplo da zona norte do Rio de Janeiro, onde ocorreu esse tipo de deslocamento ao longo dos anos. O resultado, frisou, é que se acentua o entendimento de que aquele é um lugar em degradação e que não vale a pena investir ali.
De acordo com Magalhães, o fato de haver perspectiva de crescimento econômico em Salvador ou em sua região metropolitana não significa que é preciso ampliar o seu território, como acontecia no passado. “Com certeza, as soluções do século 21 não são mais as do século 20”, disse.