Protagonistas de Babilônia falam sobre como conciliam trabalho e vida pessoal

As atrizes Glória Pires, Camila Pitanga e Adriana Esteves contam como conciliam trabalho, casa, maridos e filhos

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  • Da Redação

Publicado em 15 de março de 2015 às 15:01

- Atualizado há um ano

Mãe de Antônia, de 6 anos, Camila Pitanga já “vestiu uma capa de mulher durona” por ter começado a trabalhar muito cedo. Hoje, ela vem aprendendo a assumir suas fragilidades e a pedir colo quando precisa. Adriana Esteves admite ser “controladora” nos papéis de dona de casa e de mãe (ela tem um garoto de 8 anos e dois adolescentes, de 15 e 17), mas, para não levar os problemas domésticos ao trabalho, precisou saber delegar funções.

Atriz desde a infância, Gloria Pires, mãe de quatro filhos (com idades entre 10 e 32 anos), assume que seu o grande dilema “continua sendo dar conta de tudo num dia tão curto”. Atrizes experientes, com personagens de sucesso na carreira, as três enfrentam questões comuns a muitas mulheres. Na vida e na ficção.(Foto: Fabio Seixo/ Agência O Globo)A partir de amanhã, com a estreia de Babilônia, novela das 21h da Globo, o trio passa a acumular mais funções. Elas são as protagonistas da trama escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. E sabem que o trabalho tomará parte grande e importante de suas vidas nos próximos meses. “Fica uma correria doida, mas eu adoro”, comenta Gloria, de 51 anos.

O tempo da atriz, a vilã Beatriz do folhetim, já está curto antes da estreia. Ela sai correndo para uma gravação logo após posar para o ensaio desta matéria, ainda no estúdio do Fantástico, onde foi entrevistada junto com suas companheiras de cena. Enquanto o fotógrafo testa a luz, Adriana, que faz Inês, outra malvada da trama, liga para casa.

Ela quer saber se a dor de cabeça do filho caçula, Vicente, de 8 anos, do casamento com o ator Vladimir Brichta, tinha passado. “Gosto de ser metódica, de ter regras, mas com humor. E isso dá um equilíbrio. Com tanto filho, se eu não rir de mim mesma alguém vai rir (ela tem ainda Felipe, de 15 anos, do casamento com Marco Ricca, e Agnes, de 17, da primeira união de Vladimir)”, diverte-se a atriz, de 45 anos.

Ao lado de Adriana está Camila, que vive Regina, a heroína da novela, retocando o batom: “Não é todo dia que fotografo com Adriana e Gloria, quero estar bonita!”, diz a atriz, de 37 anos, como se precisasse de muito esforço para isso.

ElogiosAo posarem, as três se abraçam. Ali, dizem, não precisam encarnar as personagens, que vivem em confronto. Nas entrevistas, feitas separadamente por conta dos compromissos das atrizes, elas não economizam elogios ao falarem uma da outras.

“Eu e Adriana estamos num amor total. Tem um encontro, uma parceria, uma maneira parecida de ser e de ver as coisas. Com Camila gravei pouco, mas é uma atriz muito séria e dedicada”, destaca Gloria.

Adriana costuma dividir o camarim com Gloria. Elas convivem por muitas horas quase que diariamente. Quando não estão em cena, conta, estão batendo papo nos bastidores: “Nós ficamos juntas das 11h às 21h, da hora que chegamos até o final das gravações. Estamos em constante duelo em cena. Temos muito texto, discutimos bastante. É um trabalho difícil, mas estou muito estimulada”, fala Adriana.

Camila gravou pouco com as outras atrizes. A novela tem a ambição tem como tema central, e ela vive a mocinha batalhadora e nada perfeita, que não leva desaforo para casa. A primeira cena da atriz com Adriana já está sendo exibida nas chamadas de Babilônia nos intervalos da programação e retrata bem o tom da história. Depois de ser humilhada por Inês, Regina dá uma sonora bofetada na vilã.

“Já começamos com um tapa na cara! Mas, antes de gravar, dei um abraço forte na Adriana e nos desejamos ‘merda’ (expressão frequente entre atores para desejar boa sorte)”, lembra Camila.

Envolvidas com as gravações desde o ano passado, Adriana e Gloria são amigas de infância que vivem em choque. A personagem de Adriana é uma mulher invejosa e nutre uma verdadeira obsessão pela Beatriz de Gloria, mulher movida pelo poder.

“Inês se sente uma grande injustiçada pela vida. Isso é muito comum. Existem várias pessoas que ficam o tempo inteiro se vitimizando”, aponta Adriana, que admite: “Muitas vezes a gente se flagra agindo dessa forma”.

No primeiro capítulo, será exibida uma cena ambientada em 2005, numa festa de gala no Morro da Urca. É lá que Inês, depois de ser desprezada por Beatriz, grava um vídeo dela com o amante, o motorista Cristovão (Val Perré). E usa o material para chantagear a ‘amiga’ que, esperta, consegue reverter a situação. Beatriz assassina o amante e incrimina Inês. Sem saída, as duas decidem se unir.

“Beatriz é implacável, dissimulada e manipuladora. Vai atrás do que quer até conseguir. Ela seduz as pessoas”, adianta Gloria, que define a personagem como “insaciável, em todos os sentidos”.

NinfomaníacaApesar de ser uma mulher sexualizada, a personagem não é vista como uma ninfomaníaca pela atriz. “Pelo que entendo, a ninfomaníaca nunca se satisfaz, não sente prazer no sexo e, sim, um grande vazio. Beatriz gosta do esporte, tem a necessidade de dominar, de conduzir a conquista. Ela fala para um dos amantes: ‘Comigo é na hora e do jeito que eu quero’”, diz Gloria, rindo.

Em 2005, a vilã está falida e se aproxima de Evandro (Cássio Gabus Mendes), dono de uma construtora, com a clara intenção de se dar bem. Depois de uma passagem de dez anos, a história chega em 2015 e Beatriz já se casou com o milionário. Babilônia marca o reencontro de Gloria e Cássio, que formaram um casal em Vale Tudo. Na clássica novela de 1988, a atriz era Maria de Fátima, uma das vilãs mais famosas da TV.

Agora, ela estará em confronto direto com Adriana, que viveu outra malvada icônica, a Carminha de Avenida Brasil (2012). Mas as atrizes rejeitam qualquer comparação entre as personagens atuais e os papéis anteriores.

“É tão diferente, tão outra história...”, resume Gloria. “O tempo ajuda a nos distanciar. E muda nossas escolhas, as nossas opiniões. Não sou mais a mesma pessoa”, completa Adriana.

Enquanto Carminha era uma mulher “que se achava a mais desejada e inteligente”, diz Adriana, Inês sofre de baixa autoestima. “Ela tem uma dificuldade de lidar com a filha (Sophie Charlotte), foi infeliz no casamento, não é realizada na profissão”, enumera Adriana, que não gosta de classificar suas personagens como vilãs ou mocinhas: “São pessoas com conflitos”. Beatriz, por sua vez, é uma mulher cheia de si. Ela terá vários amantes, como atleta Diogo (Thiago Martins), que vem a ser irmão de Regina, ambos filhos do motorista assassinado pela vilã.

Já a personagem de Camila será enganada por um homem casado e terá uma filha com ele. Após 10 anos, a heroína irá se tornar dona de uma barraca na praia do Leme. E é na areia da praia que Regina, definida por sua intérprete como uma mulher “sanguínea e vulcânica”, conhece o advogado Vinícius (Thiago Fragoso).

O clima entre eles, conta ela, será de comédia romântica, com encontros e desencontros: “Ela é destemperada, indomada, tem pavio curto, briga até com a sombra. Sabe seus direitos e luta por eles. Quando conhece o Vinícius, o enxerga como um playboy, mas vai ser esse homem que irá dobrar a Regina”.

Camila também está comprometida fora da ficção. Ela vive com o ator mineiro Sérgio Siviero, seu namorado há um ano: “Não tenho crença em relação ao casamento, mas acho fundamental ter uma relação com possibilidade de parceria, alguém para construir algo em comum”.

Para dar conta de tudo, Camila diz administrar a casa como “se fosse uma empresa”. Mesmo com a rotina de gravações, ela não abre mão de estar com a filha, do casamento com o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto, pela manhã.

Acorda às 6h e arruma a menina para a escola: “Cuidei da Antonia até os 9 meses e não deixava ninguém fazer nada. Agora ela está se alfabetizando. Amo meu trabalho, mas preciso de tempo para participar da vida dela. E Cláudio é um pai presente”.

Camila foi criada pelo pai, o ator Antonio Pitanga: “Tinha 9 anos quando meus pais se separaram e fiquei com ele. Fui criada com diálogo, meu pai conversava sobre tudo com a gente. Hoje, às vezes, Antonia fala: ‘Mãe, explica menos’”.

ForteA atriz estreou na TV aos 16, na minissérie Sex Appeal (1993), e diz que ter começado cedo a tornou uma mulher forte. Atualmente, aprendeu a pedir ajuda quando precisa. “Descobri na terapia como dar espaço para a minha fragilidade. Comecei a trabalhar muito cedo, e ficou um capa de mulher durona. Mas é muito bom ser cuidada. Peço colo para as amigas, para meu namorado, que é um grande amigo, para o meu pai...”.

Adriana também diz conciliar trabalho, casa, marido e filhos “como toda mulher”: “Já fui mais controladora e hoje delego mais. Senão, a gente enlouquece e não se concentra no trabalho. E peço socorro mesmo. Tenho uma equipe, um pai e uma mãe que me ajudam”, fala a atriz, que diz ter se tornado outra pessoa após ser mãe: “Uma coisa que levantou muito a minha autoestima foi a maternidade”.

Assim como Camila, Adriana também acha fundamental a ajuda da análise: “Num mundo tão agitado, sentia falta de parar e olhar no olho de alguém para ter essa troca. Fazer terapia foi um grande presente que me dei. A mim, aos meus filhos, e ao meu marido”.

Há 11 anos com Vladimir Brichta, ela diz que é “uma delícia” estar ao lado dele. “Sou muito apaixonada. Diria que sou mais apaixonada a cada dia... Imagina, eu era uma carioca, uma iludida. Até que surgiu esse baiano no Rio”, brinca ela, que se dá bem com o ex, Marco Ricca: “Gosto muito da mulher e da outra filhinha dele. Somos uma família”.

Adriana estreou nas novelas aos 19 anos, em Top Model (1989), e está indo agora para a sua 14ª novela. Ao comentar o discurso de Patricia Arquette, que defendeu a igualdade de salários entre homens e mulheres, depois de ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante este ano, ela afirma: “Acho que não existe mulher que nunca sofreu um preconceito. Ser mulher não é fácil, não. Você ouve cada coisa... Por exemplo, sou casada com um homem mais novo e, há alguns anos, isso era um problema. Se falam dos outros, acha que não falam da gente?”.

Casada com o cantor Orlando Morais desde 1987, Gloria é mãe de Bento, de 10 anos, de Ana, 15, de Antonia, 22, e de Cleo, 32. Ela, que fará agora sua 23ª novela, admite não ser fácil assumir os papéis “de mulher, mãe e profissional”. Mas diz que seu maior acerto é ver os filhos “felizes com suas escolhas”.

“Sempre gostei de fazer o que faço e também assumi o papel materno com entusiasmo”, defende Gloria, que apareceu pela primeira vez na TV aos 5 anos, na abertura de A Pequena Órfã, da TV Excelsior. A atriz afirma lidar bem com a passagem do tempo: “Hoje sei coisas que adoraria saber com meus 20 anos... Mas está sendo uma passagem tranquila, com serenidade”.

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