Protesto contra preço da gasolina congestiona Paralela e Rodoviária

Motoristas de aplicativo reclamam de preço abusivo praticado por postos

Publicado em 24 de maio de 2018 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação
Trânsito travado na Paralela, no sentido Centro, ao lado do metrô Imbuí por Foto: Gil Santos/CORREIO

Protesto ainda na altura do Imbuí, na Avenida Paralela; quatro faixas foram ocupadas (Foto: Divulgação) Ao menos três pontos de Salvador registram protesto e trânsito congestionado, no final da tarde desta quinta-feira (24), por conta da alta no preço da gasolina. A disparada nos valores, que chega a custar R$ 4,99 em alguns locais, está relacionada à greve dos caminhoneiros pelo país. 

Na capital,  na tarde desta quinta (24) metade dos postos de Salvador e Região Metropolitana não tinha combustível, segundo informou Walter Tannus, representante dos donos de postos. A previsão é qeu na manhã desta sexta o índice baixe para 20%, chegando a zero no final do dia. 

No interior, os estabelecimentos desabastecidos já somam 70% do total, ao todo são cerca de 2 mil postos espalhados fora da capital e RMS,.

Em Salvador, pela manhã ao menos 20% dos postos sofriam com o desabastecimento, que fez a demanda crescer e os preços aumentarem. Diante do reajuste repentino, motoristas se mobilizaram para protestar na Avenida Paralela, seguindo do Imbuí até a região do Iguatemi/Rodoviária, Avenida ACM (próximo ao Hiperposto) e Periperi (em frente à clínica Clisur).

“Nos organizamos e nos espalhamos para protestar contra os preços abusivos praticados pelos postos. Estamos nos manifestando em vários pontos contra os donos de postos e o cartel formado por eles. É um absurdo o que estão fazendo e estamos reagindo”, afirmou Átila Santana, presidente do Sindicato dos Motoristas por Aplicativos e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter).

Segundo ele, a maioria dos manifestantes é formada por motoristas de Uber. “Estamos na frente do Imbuí, e daqui a ideia é seguir e parar no Iguatemi”, afirmou ele, às 15h50. Já no Iguatemi, Átila enviou um vídeo reiterando as críticas aos donos de postos, que são investigados pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) por suspeita de formação de cartel. 

Nessa sexta, parte dos manifestantes, em sinal de apoio à paralisação nacional, promete levar comida e água para os caminhoneiros que realizam piquetes na Bahia. “Amanhã vamos sair em carreata da Unib (ao lado do extra paralela) para levar água e alimentos não perecíveis para eles”, disse Cláudio Sena, um dos líderes do movimento. Foi feita até uma vaquinha para contribuir com os protestos dos caminhoneiros, em que foi arrecadado 139 reais. 

Não só motoristas de aplicativo estavam no protesto contra o preço da gasolina, mas também representantes de associações e mototaxistas, que foram chegando aos poucos. “Tá um absurdo o preço da gasolina. Antes eu batia minha meta com 10 reais, hoje eu bato com 20, 25 reais”, disse o mototaxista Robson de Carvalho, 36. Ele aderiu ao protesto no fim da tarde, quando encontrou com a manifestação no Iguatemi. “Ou a gente faz isso pra resolver ou isso aqui vai virar Venezuela”. 

Apesar dos transtornos enfrentados devido aos engarrafamentos gerados pelo movimento, motoristas e motociclistas paravam para demonstrar apoio. Buzinavam, faziam gestos de vibração, gritavam. “É isso aí. Estamos sendo roubados”, gritou um manifestante que parou o carro para demonstrar seu apoio. 

“Eu apoio a manifestação. Tem que acabar com isso, com esses impostos que só ficam lesando a gente. O preço da gasolina tá um absurdo”, comentou o empresário Wesley Sostenes.

Os motoristas de aplicativo gritavam palavras de ordem. “Não é Carnaval! É o Brasil parando na real”. “Ô, o povo acordou”...  De cima da passarela que liga a rodoviária ao metrô, pedestres aplaudiam e ajudavam a engrossar o coro. 

A todo o momento, os manifestantes buscavam conscientizar quem estava no trânsito, gritando que o protesto era também pelo povo brasileiro. "O aumento do preço da gasolina recai também sobre os contribuintes. Com o combustível alto, os produtos também ficam mais caros", disse o coordenador da Associação dos Motoristas Particulares e de Aplicativos da Bahia (AMPABA), Natanael Vieira, sobre o impacto da gasolina no preço final de mercadorias. Prejuízo Motorista de Uber há dez meses, Gabriel Lopes, aderiu ao protesto, na esperança de que o preço da gasolina abaixo. "Gasto três mil de gasolina por mês. Desde que a gasolina passou de R$ 4 parei de rodar durante a semana. Eu não vou pegar engarrafamento, queimar meu combustível e dar dinheiro pros donos de postos. Só rodo sexta, sábado e domingo, quando tem mais movimento", contou.

Também em má situação financeira por causa do preço alto da gasolina, o também motorista de aplicativo Niclécio Santos diz que teve que corta gastos supérfluos. "Enquanto a gasolina está R$ 3,89 ou R$ 3,99, dá para tirar algum lucro. Mas com o preço que tá agora só dá para levar o pão e o leite para casa, só o essencial", comparou. 

A Transalvador orientou os motoristas da capital a evitar a região da Rodoviária.

Em nota, o órgão de trânsito informou também que, devido à alta procura por combustível, diversos postos da cidade se encontram com grandes filas de veículos, que já atingem as vias de tráfego. "Além disso, uma manifestação nas proximidades da Rodoviária deixa o trânsito complicado na região. A Transalvador está monitorando o tráfego de toda a cidade através do Núcleo de Operação Assistida – NOA, e das viaturas em ronda, e orienta os condutores que tenham atenção redobrada, especialmente durante o horário de pico", completa o comunicado.

Os motoristas chegaram à região da Rodoviária, bem ao lado da estação de metrô, pouco antes das 17h. Os veículos que participam do protesto trazem diversas mensagens, como "R$ 4,99 é roubo", "gasolina assalto" e "gasolina $ justo".

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O protesto terminou às 18h15, ao lado da estação de metrô. Cerca de 50 carros bloqueavam quatro das seis pistas da Avenida Antônio Carlos Magalhães, deixando uma livre em direção à Lucaia e outra que dá acesso à Bonocô.

Como a manifestação invadiu o horário de pico no trânsito, pedestres desciam dos ônibus e tentavam buscar outras alternativas para ir para casa. "Se continuar engarrafado do jeito que está aí, vou a pé para casa, no Cabula", disse o segurança Júlio Santos, 32.  Depois de passar mais de uma hora no ônibus saindo da  Avenida Magalhães Neto, ele desceu na estação do Detran e começou a caminhar.  

"Estou cansado, queria chegar em casa porque desde cedo eu esotu na rua. Já peguei engarrafamento de manhã", falou o homem, que apesar de tudo disse apoiar o protesto dos motoristas de aplicativo. "É para o bem de todos, né?", refletiu. 

A recepcionista Gleice Santos, 48, perdeu o horário de buscar o filho na escola e teve que pedir a conhecidos para o levaram para casa. "Eu peguei um ônibus na Tancredo Neves em direção à Lapa. Normalmente eu faço esse trajeto em 20, 25 minutos. Fiquei uma hora e meia no ônibus para chegar até a Madeireira Brotas. Desisti e vou pegar o metrô", falou. 

Posicionamento A assessoria da Uber disse que ainda não percebeu impacto no serviço, mas que não vai comentar o caso.

Em nota, a 99, outra empresa de aplicativo, informa que até o momento não identificou alteração significativa no fluxo de corridas realizadas em sua plataforma nesta quinta. "Em relação às manifestações de motoristas parceiros da 99, este se trata de um posicionamento exclusivo dos motoristas parceiros", diz o comunicado enviado a pedido do CORREIO.

Leia também: Salvador ficará sem combustível já nessa sexta, dizem donos de postos

Solução Por conta do aumento no preço da gasolina, muitos motoristas têm optado pelo GNV. Para o presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT), Denis Paim, essa subistituição não compensa mais nos dias atuais. 

"O GNV sempre foi uma solução, mas o valor está ficando desproporcional por conta da manutenção do veículo. Temos que trocar cabos e velas, o motor precisa passar por manutenção a cada seis meses, além do óleo que precisamos trocar com frequência. Essa troca de combustível não compensa mais", disse. 

Para o presidente da Associação Metropolitana dos Taxistas (AMT), Valdeilson Miguel, a alta no preço dos combustíveis veio somar com outros problemas enfrentados pela categoria. Ele contou que os trabalhadores estão adotando estratégias para poder trabalhar. 

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"O taxista está evitando arriscar corridas, não está mais rodando pela cidade para não gastar combustível. A situação está horrível porque junta a crise, mais a concorrência com os aplicativos e mais esse aumento abusivo. Combustível é um produto indispensável para a categoria, então, estamos sentindo muito essa disparada nos preços", disse. 

Os mototaxistas também estão reclamando do aumento nos preços. O presidente do Sindicato dos Motociclistas, Motoboys e Mototaxistas do Estado da Bahia, Henrique Baltazar, questionou a necessidade dos reajustes nas bombas.

"Esse aumento representa um arrocho salarial porque o patrão não vai aumentar o salário, apesar de o funcionário estar gastando mais com o combustível. Até outro dia o governo dizia que a gente seria autossuficiente em combustível; não estamos vendo isso na prática. O mototaxista fica em um dilema: ele não pode arcar com o aumento, mas também não pode repassar para o consumidor. Está complicado", afirmou.

Apesar dos trantornos, os três sindicatos dizem que apoiam a paralisação dos caminhoneiros e não descartaram realizar atos em prol do protesto.