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Quadrinista baiano fala na Campus Party: 'A internet liberou o artista'


 

Hugo Canuto desenvolve história em quadrinho baseada em mitologia iorubá

  • Da Redação

Publicado em 11/08/2017 às 21:34:00
Atualizado em 17/04/2023 às 10:18:08
. Crédito: Carol Neves

O ilustrador e quadrinista baiano Hugo Canuto foi um dos palestrantes desta sexta-feira (11) da Campus Party. O último projeto do soteropolitano é "Contos dos Orixás", que recria histórias dos mitos iorubás para o visual das histórias em quadrinho. Formado em arquitetura, Hugo contou que decidiu sair da profissão e seguir seu sonho de criar HQs. 

Em sua fala, Canuto destacou caminhos que a quebra da hierarquia trazida pela internet proporcionam, além dos aspectos técnicos que avançaram e das possibilidades da história se expandir para além dos quadrinhos. "Não tem mais o limite do papel", diz. Ele citou o exemplo da compra da editora Millarword, de Mark Miller, pela Netflix. "As ideias que a gente coloca no papel têm o potencial para extrapolar e avançar para outras mídias".

Ele comparou o modo tradicional de se fazer quadrinhos com como é possível atuar na área hoje em dia, citando novas possibilidades trazidas por softwares. "Há uma diferença, não que um esteja certo e outro errado, existem escolhas artísticas (..) A internet liberou o artista para fazer arte no formato que desejar", afirmou. Quando se fala de mercado, a internet também trouxe grande mudança, possibilitando a autopublicação, o financiamento coletivo, a publicação online e aumentando a relação entre criadores e leitores. "O artista antes estava preso, precisava de editoras".

Para Hugo, essa mudança no mercado foi essencial para o Brasil, em que o mundo editorial de quadrinhos é menor em relação aos EUA ou à Europa. "O quadrinho brasileiro tem passado por um processo maravilhoso. A gente é na marra, no olho, no braço. Isso aqui (suas HQ's) foi independente, graças ao Catarse, ao público. O artista também tem de certo modo que empreender", afirma. "Acredito que existe uma estrutura editorial que está se formando. É um momento muito bom, tem locais com políticas públicas, como em São Paulo, que tem o Proac. Quem quer contar sua história, o momento é agora". (Imagem de Hugo Canuto) Mitologia Questionado sobre como fazia histórias envolvendo história afro-brasileira sem desrespeito, Hugo afirmou que é essencial se preparar, estudar o assunto e saber o máximo sobre o tema que será trabalhado. "Mitos você conta e reconta e continuam interessantes. A história surgiu de uma inquietação que eu tinha. Eu queria criar uma história épica, dentro da nossa estética. Por que elfos, castelos?", diz, lembrando que heróis como Thor também vêm de mitologia - mas de outro lugar.

"Existe uma responsabilidade, mas eu conversei muito, estudei", afirma. "É importante ressaltar esses valores, mostrar essas identidades. Quando você aborda como as coisas eram, relembrando que são histórias de 4 mil anos, mostrar como era de fato. Isso é importante". 

O primeiro projeto de Hugo, a Canção de Mayrube, lida com mitologia inca. "Existe uma ideia que perpassa. Eu acredito que ainda tenho muita coisa para contar com essas duas (HQs)".