Quais os limites entre a insanidade e a arte?

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  • Cesar Romero

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 05:00

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O Manto da Anunciação de Arthur Bispo do Rosário (foto/divulgação) Existem questionamentos em arte, que envolvem uma complexidade enorme de vetores. Como surgiu a arte? Em que consiste e seu objetivo real? Quais as missões de um artista criador? Os conceitos ao longo das décadas são variados e algumas vezes distintos. No tempo e nos espaços geográficos ela tem sido discutida em inúmeras interpretações. A arte teria que desvendar o que a arte faz? Qual sua tarefa básica e em que circunstância interfere na consciência humana?

Possivelmente, estaria determinada ao conhecimento da existência concreta da humanidade, distanciando-a de realidades triviais, e ser um meio de comunicação entre pessoas, com uma linguagem singular. A comunicabilidade entre estas pessoas é um guia para o que virá se estabelecer. Uma arte de essência natural não tem vícios de um mundo objetivo ou verdades absolutas. Assim seu produto conclusivo pode superar a ideia inicial. As metodologias de cada artista, as técnicas e saberes estão sempre em constante evolução. O que era para ser, não foi, desembestou pelo inusitado e toda argumentação sofreu uma metamorfose tornando o todo, diferente do protótipo.

A arte surpreende e é capazde, na arquitetura do momento, ser tradução posterior ao esperado. A arte é momento e sentimento fluindo, antes de ser captada pela técnica. O fazer é posterior à ideia movente. Ele fixa, mas a obra continua reprocessando singularidades. As ideias podem trazer uma imagem e esta imagem outros significados. A carga simbólica é imaterial, meditativa e no que nela se reflete. A contemplação e conclusões de um indivíduo podem ser de frontal incompreensão para outros. Dependem de seus sistemas de pensamentos, crenças, ilusões e enganos. Mas isto não nega o impulso criativo das diferenças. Em certos instantes confluem num paralelismo ilusório, que se transformam em elementos que formatam uma imagem artística, independente da realidade, motivando uma contradição. A arte tem um caráter fictício, transcendendo a realidade objetiva. Nossos sistemas de crenças podem ter desvios no pensamento científico, e abrir brechas para estranhamentos e ativações comprometidas dos órgãos dos sentidos.

Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) viveu por mais de 50 anos na Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro. Tinha o diagnóstico de esquizofrenia paranoide. Entre estados de lucidez, delírios e alucinações, criou uma obra originalíssima.

Seu programa teórico: “estou me preparando para o dia do Juízo Final”. Criou o Manto da Apresentação (foto), sua obra prima. Quais os limites entre a insanidade e a arte? Neste caso a insanidade era destino e força matriz.