Qual o custo da violência?

Katia Alves é delegada de polícia

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  • Da Redação

Publicado em 20 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Trezentos milhões de reais por dia é o custo estimado da violência no Brasil. Esses valores não contabilizam o sofrimento físico e psicológico das vítimas da violência brasileira, uma das mais dramáticas do mundo. Com 3% da população mundial, o Brasil concentra 9% dos homicídios cometidos no planeta. As mortes violentas de jovens aqui são 88 vezes maiores que na França. E poucos países sofrem as ações de terrorismo urbano como as praticadas no Rio de Janeiro. A Bahia apresenta, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a maior coleção das cidades mais violentas do Brasil. Não faltam diagnósticos sobre a Segurança Pública na Bahia, podemos destacar os seguintes: - Os pontos críticos de violência estão nas áreas metropolitanas e nas grandes cidades; - As múltiplas carências das populações de baixa renda tornam seus integrantes, principalmente os jovens, suscetíveis de escolhas de vias ilegais como forma de sobrevivência; - A opção ilegal é favorecida pelas deficiências de nossas instituições de controle social: polícia ineficiente, legislação criminal defasada, estrutura e processos criminais obsoletos, sistema prisional caótico; - A questão policial é agravada porque as polícias não dominam princípios modernos de organização e gestão e mostram deficiência em metodologias de investigação e policiamento preventivo; - As polícias têm treinamento deficiente e salários incompatíveis com a importância de suas funções; - O emprego de tecnologia de informação é incipiente, dificultando o diagnóstico e o planejamento operacional; - É precária a articulação entre as instituições estaduais e federais no combate inteligente ao crime organizado. A grande responsabilidade da segurança pública está nas mãos do governador. A ele cabe a missão de administrar suas polícias para produzir os resultados esperados pelos baianos. É perceptível a diferença nos resultados entre um governador que prioriza a segurança na sua agenda política (São Paulo, taxa de 9,8 homicídios por 100 mil habitantes*), e o outro que a deixa como questão setorial de uma secretaria (Bahia, taxa de 36 homicídios por 100 mil habitantes *), a maior do Brasil. Privilegiar a preocupação com recursos materiais em detrimento dos recursos humanos nas polícias, permitir o desvio de policiais em burocracias ou em órgãos estranhos ao policiamento, beneficiar burocratas e apadrinhados com promoções e gratificações em detrimento do pessoal operacional são hábitos que destroem o potencial de ação das polícias. O mau desempenho, a baixa qualidade no atendimento da população, a violência policial e a corrupção persistem quando não se investe em profissionalismo, integridade e motivação. E distribuir recursos por conveniência política em vez de concentrá-los nas áreas críticas é apostar na violência. Não há desculpas sociais ou de recursos, quando faltam estratégias sólidas, táticas criativas e ética pública. Katia Alves é delegada de Polícia, ex-secretária de Segurança Pública e ex-vereadora *Fonte: Mapa da Violência, 2018, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Abril/2018