Quando os monstros somos nós mesmos

O diretor mexicano Guillermo Del Toro dá um choque de realidade no bom drama noir O Beco do Pesadelo

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  • Doris Miranda

Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 13:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Mestre na criação de um cinema que rima terror com poesia, o mexicano Guillermo Del Toro se permitiu a uma composição diferente. Já tinha começado a passar o bastão dos seus monstros habituais para o ser humano em A Forma da Água (2017), trabalho premiado com os Oscars de melhor filme e melhor direção. Desta vez, no bom drama noir O Beco do Pesadelo, ele escancara: o mais abjeto é mesmo o homem, principalmente quando acha que pode se dar bem.

Não há nada de sobrenatural ou fantasioso no filme que adapta o livro O Beco das Ilusões Perdidas, de William Lindsay Gresham. O monstro da vez é o cafajeste Stanton Carlisle, muito bem vivido por Bradley Cooper. Ambicioso, sem nenhum escrúpulo, mas cheio de culpa, ele vai trabalhar num parque de diversões repleto de atrações bizarras. Nesse ambiente coordenado por picareta interpretado por Willem Dafoe, Carlisle se transforma numa espécie de adivinho que responde às questões simplórias da plateia. 

Fugindo de uma tragédia que se abate no parque, ele encontra a psicanalista Lilith Ritter (Cate Blanchett) e dá uma guinada na vida. De adivinho chinfrim a paranormal da elite, Carlile está disposto faturar com a fortuna alheia, nem que para isso deixe seus cacos pelo caminho. Del Toro não precisa de nenhum monstro para revelar o quanto é esteta. A composição deslumbrante dos Estados Unidos pós-Depressão e de seus efeitos torpes na sociedade assustam da mesma forma.

Veja o trailer de O Beco do Pesadelo: