Quando professores passaram a ser objeto de ódio dos próprios alunos?

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  • Malu Fontes

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 06:05

- Atualizado há um ano

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Uma das notícias mais repercutidas da semana em Salvador foi a do episódio envolvendo alunos do Colégio Antônio Vieira, um dos mais conceituados e tradicionais da cidade. Vazamentos de diálogos de uma lista de WhatsApp de alunos do ensino médio mostravam ofensas morais e ameaças a professores da própria escola.

No atual contexto brasileiro não precisa ser vidente para saber que este não foi e nem será um caso isolado. Com a polarização política que emergiu no país e com boa parte da população adotando posições de extrema-direita, embora a imprensa nacional ainda considere essa expressão um tabu, têm deixado de ser raros os casos de manifestações de ódio a professores.

Disney  Quando, exatamente, professores passaram a ser objeto de ódio dos próprios alunos, pouca gente sabe responder. Nem quando nem por quê. E não vale recorrer a clichês segundo os quais as causas são posicionamentos ideológicos, aliciamento cultural, lavagem cerebral etc. Se professores tivessem esse poder todo sobre os filhos alheios, das duas uma: ou não haveria performances tão medíocres de estudantes em suas capacidades de expressão ou as famílias acham muito cômodo terceirizar elementos essenciais dos valores de seus rebentos.

Parte da explicação para essa raiva toda de alunos contra professores está na convergência de vários fatores. Famílias omissas, telas culturalmente em branco, mesmo quando expelem dinheiro quando respiram, e uma geração de filhos, a tal geração Y, imaturos, incapazes de lidar com frustração e cuja ausência familiar cotidiana é suprimida pelo consumo. Das viagens à Disney ao smartphone da vez. Junte-se a isso o fato de haver entre a maioria das escolas e das famílias uma relação essencialmente de consumo. A escola vende um tutorial de técnicas e estratégias para ingressos nas melhores universidades.

Cotistas Com raras exceções, a escola vê o aluno como um cliente a quem não deve desagradar. A família vê na escola a dimensão terceirizada que vai dar aos seus filhos os limites que ela não dá em casa, por falta de tempo, por dar muito trabalho e por omissão. O professor fica no meio desse processo de compra e venda. Em casa, ninguém quer saber de filho com pensamento crítico. Mas o professor precisa contar a história do mundo, que está longe de ser um conto de fadas. E se não conta, os guris passam 4, 5 anos empurrando a porta do SISU e do ENEM, não entram na universidade e a culpa é de quem? Dos professores e dos cotistas, é claro. 

Lembram-se da cena clássica final do filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que os alunos sobem na mesa para defender o professor de Literatura, em relação a quem evocavam a reverência “oh captain, my captain”, por tê-los ensinado tudo sobre poesia e sem métricas? No Brasil, o capitão não é professor nem tolera poesia e a mesa está sendo carregada pelos alunos para ser atirada na cabeça dos professores.